Mandante do assassinato de José e Maria do Espírito Santo é condenado a 60 anos de prisão

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(Foto: Mario Campagnani)

Líderes extrativistas foram executados em 2011, no Pará; confira aqui relato feito pela ONG Justiça Global sobre o julgamento histórico

Por Mario CampagnaniJustiça Global

Após uma longa luta, que contou com anulação de julgamento e com mudança do local de realização de júri, a família e amigos dos ambientalistas Maria do Espírito Santo e José Claudio Ribeiro, conseguiram a responsabilização do mandante do assassinato dos dois. José Rodrigues foi condenado a 60 anos de prisão por encomendar a morte do casal, no dia 24 de maio de 2011, no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

Familiares, amigos e apoiadores acompanharam todo o julgamento, de dentro e de fora do tribunal. Assim que saiu o resultado, no fim da tarde, todas e todos foram para o lado de fora comemorar. A irmã de José, Claudelice Santos, estava emocionada lembrando todas as dificuldades que passaram até o julgamento. “É uma luta muito grande, não só para conseguir justiça no assassinato, mas também para manter viva a luta por direito que eles faziam, o sonho deles de preservação da reserva. Esse julgamento foi importante para que eles possam descansar em paz. Especialmente porque no primeiro julgamento o juiz tinha dito que eles contribuíram para a própria morte. Esse era um item que estava pesando muito para a gente”, disse Claudelice.

O juiz Raimundo Moisés Alves Flecha condenou José Rodrigues a 30 anos pela morte de Maria e 30 anos pela morte de José, totalizando os 60 anos. Agora, caberá a Justiça conseguir a prisão do mandante, que se encontra foragido desde agosto de 2014, quando o Tribunal de Justiça do Pará anulou o primeiro júri – por considerar que houve uma série de problemas no julgamento – e decretou sua prisão preventiva. De acordo com os moradores de Nova Ipixuna, o paradeiro de José Rodrigues é público, com ele sendo visto diversas vezes desde 2014. A família das vítimas, todavia, critica a inoperância do Estado em prendê-lo, mesmo com as informações disponíveis.

A morte de Maria e José foi feita de forma brutal, quando chegavam ao assentamento. Os dois assassinos, Lindonjonson Silva (irmão do mandante) e Alberto do Nascimento, estavam de tocaia e atingiram o casal em cima da moto. Maria morreu na hora. José ainda resistiu um pouco, tendo usa orelha cortada a faca por um dos assassinos. Lindonjonson foi condenado a 42 anos e Alberto a 43 anos. O primeiro, todavia, conseguiu fugir do presídio em Marabá, em novembro de 2015, estando foragido até hoje, assim como o irmão.

A situação de Nova Ipixuna reflete o que ocorre em diversos outros locais do Pará e do Brasil. Inicialmente, ocorre o desmatamento para venda de madeira. Depois, chega o momento de usar as madeiras restantes para a fabricação de carvão. No caso do assentamento de José e Maria, o carvão ia para a indústria da mineração. Depois, com a terra arrasada, cria-se pasto para gado. É contra essa lógica que o casal lutava, tentando mostrar como é possível viver da floresta sem desmatá-la.

Para a Justiça Global, a responsabilização de José Rodrigues é um importante passo para alterar o cenário de mortes constantes no Pará. A luta de Maria inspirou a organização a criar a homenagem “Maria do Espírito Santo Silva”, que chega a sua terceira edição homenageando defensoras de direitos humanos de todo o país.

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