Le Monde repercute “apocalipse” dos assassinatos no campo no Brasil

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Jornal francês fala de militante do MST morto no dia 20, “um brasileiro em guerra contra a voracidade dos grandes proprietários de terra”

O jornal francês Le Monde repercutiu no domingo os assassinatos no campo ocorridos no Brasil em 2016 e 2017. Título: “No Brasil, assassinatos em série de militantes ecologistas“. A correspondente em São Paulo, Claire Gatinois, conta que o tema são os assassinatos no campo mesmo, o título foi escolhido porque o leitor francês teria mais dificuldade de entender – embora seja uma realidade cotidiana no Brasil.

Enterro dos mortos no massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996 (Foto: João Roberto Ripper)

O texto parte do assassinato de Waldomiro Costa Pereira, no Pará, no dia 20. Ele era militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e sobrevivente do massacre de Eldorado dos Carajás (PA), há 20 anos, no dia 17 de abril de 1996. Ele foi assassinado em pleno hospital – após ter sobrevivido a um atentado. “Era membro de um desses batalhões de brasileiros em guerra contra a voracidade dos grandes proprietários de terra, gigantes agrícolas e grupos mineradores”, escreve a repórter.

O jornal menciona o Brasil como recordista mundial de assassinatos de militantes ecologistas e defensores de direitos humanos, da terra ou da floresta: 207 mortos entre 2010 e 2015, segundo a ONG Global Witness. “Longe de acalmar, o fenômeno se amplifica no Brasil, com 61 mortes contabilizados em 2016 pela Comissão Pastoral da Terra”, diz a reportagem.

O Le Monde menciona os assassinatos do sindicalista Chico Mendes, em 1988, e de Dorothy Stang, em 2005, como símbolos da violência brasileira no campo. Mas não a associa unicamente à Amazônia, ao relatar o assassinato, no mesmo dia da execução de Pereira, do cacique Antonio José Mig Claudino, no Rio Grande do Sul.

Danicley Aguiar, do Greenpeace Brasil, é uma das fontes ouvidas pela reportagem. O editor do De Olho nos Ruralistas, Alceu Castilho, fala sobre a omissão dos governos – todos eles – em relação à violência no campo. “Nenhum deles se opôs ao lobby agrário e minerador”, afirma. Thiago Valentim, da CPT, refere-se à omissão do Estado.

O jornal encerra a reportagem de forma pessimista: “Esse panorama já apocalíptico tende a escurecer ainda mais à mercê da grave crise econômica que chacoalha o país desde 2015 e incita o Estado a defender as multinacionais provedoras, no curto prazo, de investimentos financeiros providenciais”.

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