Veneno despejado nas lavouras de laranja e cana afeta diretamente as abelhas, o solo e a água; pesquisa da UFSCar detalha impactos das monoculturas na vida dos produtores
Uma pesquisa com apicultores da região de Matão feita pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) mostra que 88,5% dos produtores ouvidos descrevem perdas “significativas” de colmeias – ou de apiários inteiros – por causa da aplicação de agrotóxicos na região. As abelhas ficam desorientadas ou morrem. Os apicultores também relatam que a pulverização do veneno é realizada muitas vezes “sem a devida fiscalização e controle das condições climáticas”.
O estudo foi publicado no dia 27 de setembro: “Percepção ambiental de apicultores: Desafios do atual cenário apícola no interior de São Paulo“. Foi feito por Amanda Cerqueira e Rodolfo Antônio de Figueiredo, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFSCar. O principal problema enfrentado para a manutenção da apicultura, concluíram os pesquisadores, foi o “atual sistema de produção agrícola, baseado em extensas áreas de monoculturas e uso intensivo de agrotóxicos”.
Somente três apicultores (11,5% do total de 26 entrevistados) não mencionaram perdas de colmeias ou apiários inteiros pelo menos uma vez durante as floradas, “após a aplicação dos agrotóxicos nas monoculturas de laranja e cana-de-açúcar”. “Os efeitos notados após a pulverização são grande quantidade de abelhas mortas próximas das colmeias e/ou abelhas desorientadas, colmeias que deixam de produzir ou não conseguem se fortalecer para produzir, abandono das crias, presença de muitos insetos mortos próximo aos apiários e cheiro de veneno”.
A EXPANSÃO DA CANA
Os apicultores também se queixaram da expansão da cana-de-açúcar na região, “com consequente perda de habitat” para as abelhas. São Paulo produz 55% da cana no país. Somente em 2016 a monocultura cresceu 6,2% no estado, chegando a uma área de 4,78 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).