Empresa pertence à multinacional Mitsui, que teve uma receita de US$ 40 bilhões no mundo em 2017; um dos produtos interditados é o benzoato de emamectina, de uso controlado
O Ministério Público do Estado da Bahia informa que o grupo Agrícola Xingu levou uma multa de R$ 169 mil por armazenamento de agrotóxicos, na Fazenda Tabuleiro 5, em São Desidério, sem registro na Agência de Defesa Agropecuária da Bahia. E que foram interditados aproximadamente mil litros de benzoato de emamectina, “produto de uso controlado que não podia ser utilizado na propriedade”. O produto comercializado pela Syngenta foi liberado no ano passado, mas com restrições.
As informações são um balanço de ações realizadas em abril pela Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), uma força-tarefa coordenada pelo MP em parceria com o Comitê da Bacia do Rio São Francisco, desta vez em 11 municípios do oeste baiano. Na fazenda da Agrícola Xingu foram interditados 128 quilos de agrotóxicos, segundo o Ministério Público, “e apreendidos 20 litros de produtos com suspeita de importação ilegal”.
A Agrícola Xingu teve uma receita de R$ 236,4 milhões em 2016, segundo a revista Dinheiro Rural. A empresa planta soja, milho e algodão em nove fazendas na Bahia, em Minas Gerais e Mato Grosso, em um total de 48 mil hectares. A meta para os próximos cinco anos é chegar a 100 mil hectares. O grupo Mitsui & Co (dono da Toshiba, por exemplo) está em 66 países. Em 2017 teve uma receita de US$ 39,7 bilhões.
Entre as mais de 30 instituições que participam da Fiscalização Preventiva Integrada estão a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, as Policias Civil e Militar, a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
SUSPEITA DE DANOS AO SISTEMA NERVOSO
O benzoato de emamectina foi liberado em novembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a Anvisa negara em 2010 o registro da substância “por suspeita de malformações e elevada neurotoxicidade, ou seja, causa danos elevados ao sistema nervoso”. A organização diz que não houve divulgação da consulta pública – que teve oito contribuições, diante de 13.114 no caso do carbofurano.
“A decisão pela aprovação do benzoato foi dada em tempo recorde”, protestou a organização, em nota. “Para banir o paraquate foram necessários dez anos, e faltam ainda três anos para o seu banimento completo. Por que tamanha demora para proibir, e tamanha celeridade para aprovar?” A Campanha Contra Agrotóxicos defende o cancelamento do registro da substância “até que a sociedade seja ouvida e consultada se deseja correr este risco”.