Candidato do MDB, ex-ministro apresentou programa de governo que contraria ações iniciadas nos últimos dois anos; ele promete também programas anunciados e não executados
Por Leonardo Fuhrmann
O governo Temer assumiu em 2016 com uma inflexão em relação aos temas agrários. Uma das primeiras iniciativas foi a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Foram feitos vários cortes orçamentários, tanto no universo dos camponeses, a chamada agricultura familiar, tanto nas políticas ambientais. O candidato do MDB à Presidência da República, porém, Henrique Meirelles, age como se não tivesse feito parte desse bonde.
Um exemplo é a criação das unidades de preservação marítima dos arquipélagos São Pedro e São Paulo (PE) e Trindade e Martim Vaz (ES). O ex-ministro do Meio Ambiente Sarney Filho, candidato ao Senado no Maranhão, chegou a fazer o anúncio em março. Agora, a criação entrou no plano de governo de Meirelles. O candidato quer também acelerar o plano de revitalização de nascentes do Rio São Francisco. O plano Novo Chico, com o mesmo objetivo, foi anunciado por Temer em agosto de 2016.
O presidenciável fala em acelerar os programas de redução do desmatamento na Amazônia. Em valorizar a biodiversidade e proteger o patrimônio natural. Em agosto de 2016, no entanto, o governo do seu partido chegou a extinguir, por decreto, a Reserva Natural de Cobre e Afins (Renca), na divisa do Pará com o Amapá. A extinção foi revogada no mês seguinte, por conta dos protestos de ambientalistas e líderes indígenas e do apoio internacional às manifestações. A pressão também evitou que a reserva Jamanxim, no Pará, fosse extinta. Meirelles fala ainda em incentivar o reflorestamento e as energias renováveis.
PROMESSAS INCHAM, ORÇAMENTO DIMINUI
Meirelles defende a conversão de multas ambientais para programas de conservação e revitalização do meio ambiente. Se mantiver a política de Temer, os recursos para isso serão minguados. Em outubro de 2017, o atual governo ofereceu um desconto de até 60% nas multas ambientais. Para o perdão valer, o proprietário das terras teria de se comprometer em fazer serviços ambientais. A anistia, no valor de R$ 2,7 bilhões, fez parte da negociação com a bancada ruralista para o arquivamento de duas denúncias contra Temer, por corrupção, formação de organização criminosa e obstrução da Justiça.
Ele promete retomar as obras de infraestrutura, para aumentar a competitividade da agricultura. Segundo o IBGE, em 2016, primeiro ano do governo Temer, houve o menor investimento em infraestrutura da última década. Uma queda de 22,1% em relação ao ano anterior. No fim de 2017, o governo chegou a anunciar uma versão repaginada do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), iniciado nas gestões petistas e descontinuado pela atual.
MEIRELLES DECLAROU TERRA POR R$ 1
Henrique Meirelles declarou apenas uma terra nua (sem benfeitorias) com valor simbólico registrado em cartório de R$ 1. Seus demais bens têm valores bem mais superlativos: ele é o segundo mais rico entre os presidenciáveis, com bens declarados ao Tribunal Superior Eleitoral no valor de R$ 377,5 milhões, a maior parte dele em aplicações no mercado financeiro. Ele foi presidente global do BankBoston e, durante o governo Lula, presidiu o Banco Central.
Defensor do agronegócio, o candidato do MDB presidiu durante quatro anos a J&F, controladora da JBS, entre 2012 e 2016. Gigante do setor agropecuário, a empresa teve o nome de seu dono Joesley Batista envolvido em diversos casos de corrupção nos últimos anos. Batista chegou a gravar uma conversa comprometedora que teve com Temer em pleno Palácio do Jaburu, onde o presidente residia.