Salvo senador Valdir Raupp (MDB), ruralistas do estado não integram Frente Parlamentar da Agropecuária; candidato ao governo, Acir Gurgacz (PDT) tem prisão confirmada pelo STF
Por Alceu Luís Castilho
Candidato tucano ao governo de Rondônia, o paulista Expedito Júnior empobreceu em quatro anos. Passou de um patrimônio de R$ 1,6 milhão, em 2014, para R$ 384 mil. Favorito nas pesquisas, ele não declarou nenhum bem rural. É um filho próspero de agricultores. Em 2009, teve mandato cassado no Senado, acusado de compra de votos. Em seu lugar entrou Acir Gurgacz (PDT), exatamente seu adversário, nestas eleições, para o Palácio do Rio Madeira.
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou nesta terça-feira a prisão imediata de Gurgacz, condenado a quatro anos e meio por crimes contra o sistema financeiro: ele conseguiu um financiamento do Banco da Amazônia para comprar ônibus novos para uma de suas empresas, a Eucatur. Mas comprou ônibus velhos. O mandado só será expedido após a eleição.
Gurgacz é um dos vários políticos ruralistas de Rondônia que não pertencem à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Somente o senador Valdir Raupp (MDB) faz parte da FPA. Entre os deputados, nenhum. Mas eles possuem bens rurais e estão alinhados à defesa do agronegócio, em um dos estados com mais conflitos e assassinatos no campo.
IMPEDIDO, IVO CASSOL INDICA A IRMÃ
Expedito Júnior é um herdeiro político do ex-governador Ivo Cassol (PP), impedido de se candidatar, mas hábil na transferência do poder. Tanto Expedito como Cassol buscam na família outros quadros políticos para Rondônia.
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Candidato à reeleição na Câmara, o empresário Expedito Netto (PSD) empobreceu como o pai: passou de um patrimônio de R$ 1,77 milhão, em 2014, para R$ 89 mil, em 2018. A maior parte do patrimônio era constituída de três bens rurais em Rolim de Moura, entre os quais 280 hectares na Gleba Massaco – onde o senador Ivo Cassol (PP) teve inquérito arquivado, por prescrição, após a expulsão de camponeses em invasão de 20 mil hectares de terras públicas.
Irmã do ex-governador, Jaqueline Cassol (PP) tenta também uma vaga na Câmara. Ela possui um patrimônio de R$ 10 milhões. Entre os bens, dois imóveis rurais em Santa Luzia D’Oeste. Em 2014, candidata ao governo estadual, ela possuía quase a metade desses valor, R$ 5, 2 milhões.
Condenado à prisão, o catarinense Ivo Cassol – que declarou quase R$ 30 milhões em 2010 – não teve sua candidatura liberada em 2018.
VOTOU CONTRA DILMA E GANHOU CARGO NA CONAB
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RAUPP, O GOVERNADOR DO MASSACRE DE CORUMBIARA
No dia 9 de agosto de 1995, o Brasil recebia a notícia de um dos maiores massacres da história recente, em Corumbiara, no sudeste do estado. O governador era Valdir Raupp (MDB), candidato à reeleição no Senado e único integrante de Rondônia na Frente Parlamentar da Agropecuária. Em abril do ano seguinte ocorreria o outro grande massacre da era Fernando Henrique Cardoso, em Eldorado dos Carajás (PA).
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Doze pessoas morreram, entre elas nove camponeses, durante reintegração de posse da Fazenda Santa Elina. Raupp teria recebido uma carta dos posseiros, onde eles alertavam para o risco de conflito. As imagens do dia mostram policiais encapuzados e sem identificação, diante dos sobreviventes presos. Uma das vítimas fatais era uma criança.
Autor de livro sobre o massacre, o jornalista João Peres tentou ouvir Raupp sobre o episódio, sem sucesso. “Ele privatiza uma narrativa que deveria ser pública, colocando a questão pessoal acima do interesse geral da sociedade”, escreveu. A assessoria de Raupp informou que ele “se reserva o direito de conceder entrevistas apenas sobre assuntos que lhe sejam positivos para a imagem, o que certamente exclui Corumbiara”.
Em entrevista ao jornal Folha do Sul, Peres falou sobre o papel do político:
– Nunca ficou claro qual o grau de conhecimento com que contava à época o governador Valdir Raupp. Os inquéritos das polícias Civil e Militar não chegaram a uma conclusão a respeito e o Ministério Público tampouco avançou nesta seara. Partiu do governador a ordem para a execução do mandado de reintegração durante a madrugada, de forma atabalhoada? Por que o comandante da operação, major José Ventura Pereira, despede-se na noite do dia 8 dizendo que tentará novas rodadas de negociação, mas na madrugada seguinte leva a cabo a ação policial?
POLÍTICO EMPOBRECE, MULHER ENRIQUECE
A Procuradoria-Geral da República denunciou Valdir Raupp em maio, na Operação Lava Jato, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Raquel Dodge pedia 12 anos de prisão e a reparação dos danos materiais e morais no total de R$ 1 milhão. O senador era acusado de recebimento de propina da empreiteira Queiroz Galvão no valor de R$ 500 mil. Outro caso relativo à Lava Jato foi arquivado.
Um fato: conforme as declarações entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Raupp não enriqueceu. Em 1998, ele possuía R$ 537 mil. Entre os bens, um imóvel de 100 hectares em Santa Luzia do Oeste. Vinte anos depois, teve o patrimônio reduzido à metade: R$ 264 mil. A fazenda do político catarinense continua lá, pelo mesmo valor de R$ 33 mil.
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Enquanto uns perdem, outros ganham. A deputada Marinha Raupp (MDB), mulher do ex-governador, possuía R$ 506 mil em 2012 – e nenhum imóvel rural. Agora ela possui um patrimônio seis vezes maior, de R$ 3,1 milhões. Entre os bens, três imóveis rurais. Em um deles, declarado por R$ 20 mil, ela possui 16 mil árvores de teca.
Em fevereiro, o casal solicitou uma audiência com o Ibama solicitando a liberação de 444 contêineres de toras retidos no Porto de Manaus, pertencentes à empresas rondonienses. A carga, destinada aos Estados Unidos e União Europeia, havia sido apreendida pela Polícia Federal em operação contra o comércio ilegal de madeira. Segundo o senador, a madeira estaria legalizada. A relação do Porto de Manaus com o contrabando é um dos temas da série De Olho na Bancada Ruralista: “Atuação na logística liga governador do Amazonas a madeireiras e mineradoras“.