Eleição no DF tem fator Roriz, recém-falecido, marcado pelo caso “bezerra de ouro”

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Roriz: influência mesmo após a morte. (Foto: Divulgação)

Mulher do ex-governador, Weslian, tenta suplência no Senado; neto e sobrinho disputam vaga na Câmara; candidata do Pros ao governo tem o apoio da família Roriz

Por Alceu Luís Castilho

Falecido na quinta-feira (27/09), o ex-governador Joaquim Roriz continua sendo um fator de influência considerável nas eleições do Distrito Federal. Sua viúva, Weslian Roriz (PMN), é candidata à primeira suplência do Senado, na chapa – da mesma sigla – do juiz Everardo Ribeiro. Joaquim Roriz Neto, filho da ex-deputada federal Jaqueline Roriz (PMN), é candidato a deputado federal pelo Pros. O sobrinho do cacique, o ex-deputado distrital Paulo Roriz (PSDB), tenta também uma vaga na Câmara. Outro sobrinho, Dedé Roriz (PHS), busca uma chance na Câmara Distrital.

Mas essa influência suprapartidária não para por aí. Uma das líderes nas pesquisas eleitorais para o governo local, a deputada distrital Eliana Pedrosa (Pros) conta com o apoio da família Roriz para chegar ao Palácio do Buriti. Ela tem como principal ameaça o candidato do MDB (partido pelo qual Joaquim Roriz foi governador), Ibaneis Rocha, candidato com R$ 94 milhões de patrimônio. Ele perde no Ibope, mas ganha no Datafolha.

Weslian ficou famosa pela participação em debates. (Imagem: Reprodução)

Abalada durante o enterro do marido, Weslian Roriz não declarou nenhum bem em 2018. Roriz Neto, apenas R$ 39 mil. O sobrinho Paulo Roriz, sim, esse prosperou: o empresário acaba de declarar R$ 9,5 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre os bens, 16 propriedades rurais em Luziânia (GO), terra do patriarca político, com mais de 1.700 hectares. (Em 2006, ele tinha R$ 1,77 milhão. Em 2010, R$ 2,4 milhões. Em 2014, o maior salto: R$ 6,7 milhões.)

Weslian foi empobrecendo. Em 2010, ela tinha R$ 5,24 milhões. Naquele ano ela declarou uma fazenda chamada Jurema, por R$ 100 mil, e 6.717 cabeças de gado, por R$ 4,13 milhões. Quatro anos depois, em 2014, o patrimônio da política já tinha despencado para R$ 660 mil – já sem o rebanho volumoso.

Política por acaso, Weslian ficou marcada pela participação desastrosa em debates, quando foi candidata ao governo distrital. Uma das gafes ficou marcada: “Quero defender toda aquela corrupção”.

A palavra corrupção sempre orbitou em torno da biografia do marido. Ministro da Agricultura durante duas semanas no governo Collor, ele ficou mesmo conhecido como governador, por quatro vezes, do Distrito Federal. A primeira delas, biônico, indicado por José Sarney.

Seu patrimônio também foi encolhendo. Em 2010, candidato derrotado ao governo, declarou R$ 1,1 milhão. (Depois corrigiu para R$ 5,3 milhões.) Somente R$ 100 mil para a fazenda Jurema. Bem menos que os mais de R$ 35 milhões declarados em 1998, por exemplo. Quando a estrela da declaração de bens atendia pelo nome de Fazenda Palma. Valor total do imóvel, entre terra e benfeitorias? R$ 28,4 milhões.

O CASO DA BEZERRA DE OURO

Em 2012, o livro “Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro” (Contexto, 2012) fez um levantamento dos políticos, eleitos nos anos anteriores, que mais tinham gado no país. Incluindo prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, suplentes, governadores. Roriz apareceu em 12º lugar, com 6.227 reses declaradas em 2006, no valor de R$ 2,85 milhões. Por isso ele foi considerado, entre os políticos brasileiros, um dos “reis do gado”.

Oposição tomou caso da bezerra como símbolo de corrupção. (Foto: Divulgação)

Quatro anos depois, candidato ao governo, Roriz já tinha 6.717 reses, as mesmas declaradas por Weslian, em valor bem maior: R$ 4,13 milhões. A maior parte dos R$ 5,3 milhões informados pelo político. Só que ele se esqueceu, numa primeira leva, de informar esses dados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ficava com R$ 1,1 milhão somente. E teve de fazer uma retificação. O patriarca era, na ocasião, um dos maiores produtores de leite da região.

Em 2007, para evitar cassação por causa do escândalo da bezerra, em meio à Operação Aquarela, ele teve de renunciar ao cargo. Vejamos o resumo feito pelo livro:

– Ele fora flagrado em um grampo onde combinava a divisão de R$ 2,2 milhões com um ex-presidente do Banco Regional de Brasília (BRB). Os dois marcaram como local de partilha o escritório de Nenê Constantino, dono da Gol. Para explicar a transação, o então senador não se encabulou: disse que o dinheiro era para comprar uma bezerra.

Em 2015, Roriz foi condenado. Dois anos depois o caso prescreveu, pois ele já tinha mais de 70 anos.

BANCADA DA FPA RUMA PARA OUTROS CARGOS

O titular na chapa de Weslian Roriz ao senado, o mineiro Everardo Ribeiro (PMN), declarou possuir R$ 5 milhões em 2018, sem nenhum bem rural especificado. Em 2012, candidato à prefeitura de Padre Bernardo (GO), ele tinha uma fazenda de R$ 1,5 milhão no município goiano de Mimoso. Mais uma chácara de R$ 300 mil no Distrito Federal.

Dois anos depois a fazenda passou a valer menos, R$ 855 mil. Mas ele adquiriu uma fazenda em Padre Bernardo por R$ 420 mil. E declarou 218 cabeças de gado por R$ 305 mil. Em 2018, ele informou possuir R$ 1,8 milhão em “outros bens imóveis”.

Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o senador Hélio José (Pros-DF) está fazendo um caminho inverso: é candidato à Câmara. Eleito primeiro suplente, pelo PT, do atual governador Rodrigo Rollemberg (PSB), em 2010, o engenheiro não tem nenhum bem rural.

Dos oito deputados federais pelo Distrito Federal, metade pertence à FPA. Um deles, Rôney Nemer (PP), está inelegível. Entre eles, o único candidato à reeleição na Câmara, Augusto Carvalho (SD) não possui propriedades rurais. O tucano Izalci Lucas, que tenta beliscar uma vaga no Senado, possui uma fortuna de R$ 8,45 milhões, mas somente uma chácara como bem rural.

FRAGA MULTIPLICOU POR 22 VEZES SEU PATRIMÔNIO

O quarto membro brasiliense da frente parlamentar na Câmara, o policial militar Alberto Fraga, busca o governo distrital pelo DEM. Ele é mais conhecido como integrante da bancada da bala. Mas é fazendeiro. Em 2010, declarou três fazendas, em Goiás, por R$ 1,49 milhão. Seu patrimônio total saltou, em oito anos, de R$ 1,99 milhão para R$ 4,83 milhões. No meio do caminho, em 2014, tinha R$ 2,67 milhões. E as mesmas três fazendas.

Fraga caluniou Marielle e foi absolvido. (Foto: Reprodução)

Em 1998 ele só tinha uma fazenda de 350 hectares em Padre Bernardo (GO). Vinte anos depois, sua declaração ao TSE – sem detalhamento de cada item – sugere que ele tenha, hoje, cinco fazendas, registradas como “outros bens imóveis”. Uma delas foi declarada por R$ 1,97 milhão. Em 2002, ele possuía somente R$ 211 mil. Ou seja, em pouco mais de 15 anos multiplicou seu bem por 23 vezes.

Em novembro de 2017, Fraga foi o relator, na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, de um projeto de lei que cria a licença para porte de armas em áreas rurais. O PL 6717/2016 está parado na Comissão de Constituição e Justiça.

ATACOU MARIELLE E FOI ABSOLVIDO POR COLEGA DA FPA

Foi Fraga quem chamou Marielle Franco (PSOL), a vereadora carioca assassinada no dia 14 de março, de “usuária de maconha, defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho”. A Comissão de Ética da Câmara abriu um procedimento para investigar o deputado por quebra de decoro parlamentar, o que poderia levar à sua cassação,  mas ele foi arquivado em maio.

O relator do caso foi Adilton Sachetti (PRB-MT), que classificou os posts do colega, caracterizados como fake news, como “comentários ácidos”. O deputado mato-grossense é um dos personagens principais da próxima reportagem da série De Olho na Bancada Ruralista, sobre os parlamentares do Mato Grosso.

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