Projeto traz mapa com propriedades de terras por políticos, município a município; De Olho nos Ruralistas faz um raio x da violência contra povos indígenas e suas ligações com políticos, empresas e integrantes do Judiciário
Está no ar o site De Olho no Mato Grosso do Sul. A série traz histórias sobre os interesses em jogo por trás dos conflitos no campo no estado. O observatório passou um ano pesquisando as conexões entre a violência contra os povos indígenas e o agronegócio, estudando a face política, jurídica e empresarial da disputa pelos territórios tradicionais das etnias Guarani Kaiowá, Terena, Guarani Ñandeva e Kadiwéu.
A série de reportagens foi feita em parceria com a agência Pavio. Os textos serão acompanhados de vídeos gravados em alguns dos principais cenários dessa violência, como Dourados e Caarapó. O material audiovisual traz o depoimento de lideranças indígenas sobre o cotidiano nas retomadas, que vivem sob a constante ameaça de ataques de jagunços e sofrem com a pulverização de agrotóxicos sobre as aldeias, contaminação de rios, atropelamentos e o arrendamento de terras indígenas.
O lançamento oficial do site De Olho no Mato Grosso do Sul acontece no auditório da Universidade Federal da Grande Dourados, campus II, nesta quinta (08/11), às 19 horas. O evento faz parte do 24ª Encontro Nacional de Geografia Agrária (Enga), que reúne pesquisadores de todo o país entre 7 a 10 de novembro.
AS CINCO FACES DO GENOCÍDIO INDÍGENA
A série percorre cinco eixos, que estrearão semanalmente. O primeiro deles, Política, esmiúça a propriedade de terras por políticos sul-mato-grossenses e seu posicionamento contra os indígenas. Em um levantamento inédito na mídia brasileira, De Olho nos Ruralistas identificou 78.386 hectares em terras nas mãos de 58 políticos. Os dados são apresentados em um mapa interativo, onde o leitor pode explorar, município a município, as terras declaradas por prefeitos, vice-prefeitos, deputados, senadores e pelo governador sul-mato-grossense.
O eixo Empresas explora os interesses econômicos das grandes empresas do agronegócio e do capital financeiro nas terras indígenas. A expansão da monocultura, ao mesmo tempo em que afasta os povos originários de seu lar e de sua cosmogonia, os transforma em mão de obra barata para as fazendas e agroindústrias.
No eixo Justiça, entra em cena o universo do Poder Judiciário, com participação ativa na manutenção da desigualdade. O quarto eixo, Violência, mostra o aspecto humano por trás da violência vivida pelos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, reconhecido como genocídio pelo Ministério Público Federal.
A partir da quarta semana, o projeto inaugura uma nova fase. Em “Terras de quem?” a série investigará quem são os donos da terra nos principais municípios sul-mato-grossenses.
A série De Olho no Mato Grosso do Sul foi realizada com recursos próprios e com verbas do edital Jornalismo Investigativo e Direitos Humanos, do Fundo Brasil de Direitos Humanos, divulgado no fim de 2017.