Para a multinacional suíça, fabricante de pesticidas considerados “altamente tóxicos”, dados são enganosos e contêm motivações políticas; empresa diz que, sem tecnologia, a agricultura precisaria de uma área equivalente a 60% da Amazônia
A Syngenta afirmou, em nota enviada ontem ao De Olho nos Ruralistas, que não procedem as informações sobre seus produtos, contidas no relatório apresentado pela organização não governamental Public Eye. Confira a reportagem que motivou a contestação: “Brasil consome 18% dos agrotóxicos do mundo, mesma porcentagem dos Estados Unidos“.
O documento tem, desde o título, foco na empresa: “Lucros de alto risco – como a Syngenta fez bilhões vendendo pesticidas tóxicos“. Conterrânea da ONG, a empresa é responsável por comercializar, especialmente em países de média e baixa renda, produtos proibidos, por sua alta toxicidade, na Suíça. Segundo o relatório, o Brasil adquiriu, em 2017, 32% dos produtos altamente tóxicos vendidos pela Syngenta.
Para a empresa, o relatório é “deliberadamente enganoso”. A linguagem utilizada tem a intenção de “assustar o público e promover a Responsible Business Initiative na Suíça”. A Iniciativa de Negócios Responsáveis tem o objetivo de pressionar as empresas pelo respeito aos direitos humanos e ao ambiente pelo mundo.
A Public Eye foi criada em 1968 para monitorar a atividade de empresas suíças. A Syngenta contesta a classificação de seus produtos feita pela organização, com base numa lista desenvolvida pela Pesticide Action Network, a PAN, uma rede internacional de ação contra os pesticidas. Para a multinacional, uma entidade “que nenhuma organização nacional ou internacional reconhece”.
Em sua defesa, a Syngenta alega que seus “produtos são altamente regulamentados para garantir a segurança dos agricultores, do meio ambiente e dos consumidores” e garante que todas as leis sobre agrotóxicos, em níveis nacionais, internacionais e locais são respeitadas.
A multinacional considera que a Public Eye “busca minar a agricultura de inovação, sem a qual os alimentos seriam menos disponíveis, mais caros e menos seguros”.
Abaixo a carta com o posicionamento da empresa, enviada pela Syngenta:
O relatório do Public Eye é motivado politicamente e deliberadamente enganoso – sua retórica é projetada para assustar o público e promover a “Iniciativa de Negócios Responsáveis” (Responsible Business Initiative), na Suíça. O relatório é baseado em uma lista desenvolvida pelo PAN (Pesticide Action Network), que nenhuma organização nacional ou internacional reconhece. A Public Eye busca minar a agricultura de inovação, sem a qual os alimentos seriam menos disponíveis, mais caros e menos seguros. Muito mais terras, incluindo florestas, seriam necessárias para produzir alimentos e bilhões de toneladas a mais de emissões de carbono seriam liberadas para o meio ambiente. Nossos produtos estão entre os mais altamente regulamentados do mundo. Reforçamos a segurança de nossos produtos e o papel que eles desempenham na proteção da qualidade e segurança dos alimentos.
A carta traduz o trecho inicial uma resposta mais ampla feita pela empresa, em inglês, e enviada por email ao observatório. Em outro trecho, esse posicionamento da Syngenta fala especificamente do Brasil: “Como pode a Publica Eye considerar que países inteiros como o Brasil não têm preocupação ou respeito pela segurança e saúde de seus cidadãos? Como pode uma indústria sob ampla regulação e acompanhamento científico ser tão descrita como ‘opaca’?”
Segundo a Syngenta, as afirmações da Public Eye de que está protegendo a sociedade são irresponsáveis, pois omite que seguir suas recomendações levariam a “enormes reduções na qualidade e disponibilidade de comida” e a um impacto negativo no ambiente.
A multinacional diz que o registro de produtos depende de fatores presentes em cada país. Mas não entra, nesse comunicado, no mérito específico da legislação brasileira.
A partir de dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre a produção entre 1975 e 2017, a Syngenta conclui que, sem a “proteção das sementes” e outros investimentos agrícolas, mais de 370 milhões de hectares precisariam ser utilizados na agricultura, “o equivalente a 60% da floresta amazônica”.