Associações de produtores de grãos, fabricantes de sementes e produtos químicos têm multinacionais entre associados e comandam marketing em defesa dos pesticidas; entre elas, Aprosoja e Abrass, influentes na Frente Parlamentar da Agropecuária
Por Leonardo Fuhrmann
Algumas entre as associações do agronegócio que financiam a Frente Parlamentar da Agropecuária são as mesmas que comandam a campanha pela aprovação do projeto de lei 6.299/02, conhecido como PL do Veneno. As siglas em torno do site Agrosaber coincidem: Abrapa (algodão), Aprosoja (soja), Abrass (sementes). São organizações que giram em torno da produção de soja, de algodão, da defesa do modelo privatizado de sementes, de um modo de produção que prioriza as monoculturas – e os agrotóxicos.
Essas associações são bancadas por empresas, muitas delas multinacionais, que mantêm o Instituto Pensar Agropecuária (IPA) – braço técnico e logístico da frente parlamentar. De Olho nos Ruralistas publicou nesta terça-feira (21) uma reportagem que mostra como a FPA se confunde com o IPA e como uma série de entidades, entre elas as que fazem a campanha pró-agrotóxicos, usam o instituto para financiar as atividades da frente: “Multinacionais são financiadoras ocultas da Frente Parlamentar da Agropecuária“.
O PL do Veneno, na forma do substitutivo do ex-deputado Luiz Nishimori (PR-PR), membro da bancada ruralista, foi aprovado em uma comissão especial da Câmara em junho de 2018. Na ocasião, o Instituto Nacional do Câncer, ligado ao Ministério da Saúde, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) entenderam que o texto flexibiliza o uso dessas substâncias, à margem da segurança de trabalhadores do campo e da população em geral. Os mesmos motivos motivaram críticas de organizações ambientalistas e de defesa do consumidor.
A Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass), a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), a Companhia das Cooperativas Agrícolas do Brasil (CCAB Agro) e o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) fazem parte da campanha pela aprovação, que conta com o apoio da direção da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O presidente da frente, Alceu Moreira (MDB-RS), deu declarações em defesa da campanha, lançada oficialmente em abril.
Entre as associações acima, apenas a Andef e a CCAB Agro não fazem parte das 38 associações que financiam o Instituto Pensar Agro – e, portanto, a FPA.
BLAIRO MAGGI FEZ PROJETO DE LEI E BANCA ASSOCIAÇÃO
As associações reúnem grandes empresas do setor, inclusive multinacionais. Fazem parte da Andef, por exemplo, a Ihara, a Basf, a Bayer e a Monsanto, hoje um braço da alemã Bayer. Todas produtoras de agrotóxicos. As três últimas, multinacionais. A Bayer, a Eurofarma e a Cargill são sócias do Sindveg. Uma das principais empresas da Abrass é a Amaggi, pertencente ao ex-senador, ex-ministro da Agricultura e ex-governador mato-grossense Blairo Maggi, autor da proposta original, que tramita desde 2002.
A campanha favorável aos agrotóxicos é feita pela Giusti Comunicação, uma empresa especializada em gerenciamento de crises que já atendeu o próprio Blairo Maggi (alvo de buscas e apreensões em uma operação da Polícia Federal contra a corrupção em seu estado), a construtora Camargo Corrêa (envolvida nos casos de corrupção investigados na operação Lava Jato) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, investigado sob a acusação de ter uma organização criminosa funcionando em seu gabinete quando era deputado estadual.
O material usado pela campanha de contrainformação está no site AgroSaber, que reúne material favorável ao projeto, como entrevistas com especialistas aliados. Também faz ataques à campanha contrária aos agrotóxicos, classificando as informações contrárias como “fake news”. Em tom alarmista, o site defende que os “defensivos agrícolas” são fundamentais para aumentar a produção de alimentos, apesar de dizer que grande parte não é usada diretamente em plantas alimentícias, e que o Brasil perderá importância como exportador agrícola caso o projeto não seja aprovado.