Responsável pela censura de dados sobre Covid-19 no governo Bolsonaro, Carlos Wizard controla as lojas Mundo Verde e o e-commerce Natue; sites das empresas defendem “saúde do planeta” e “transparência e verdade nas ações”
Por Alceu Luís Castilho
Missão da rede de lojas Mundo Verde: “Incentivar a vida saudável e a busca do bem estar de todos, garantindo o desenvolvimento econômico sustentável de toda nossa cadeia e um menor impacto ambiental para o planeta”. Início da declaração de valores: “Unir transparência e verdade nas ações. Nossas ações são norteadas pelos princípios da transparência e da verdade e todos os que vivem neste Mundo prezam por isso”.
Ele é mais conhecido pela rede de escolas Wizard, vendida em 2014 ao grupo Pearson. Antes, já tinha incorporado a marca ao sobrenome. Mas Carlos Wizard Martins estende também seu império empresarial pelo setor das comidas saudáveis.
Nomeado secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, ele disse na sexta-feira (05) que o governo iria recontar o número de mortos por Covid-19: “Eu acredito que vai ter um dado mais real, porque o número que temos hoje está fantasioso ou manipulado”.
Ato contínuo, o site do Ministério da Saúde — na rota contrária do que é praticado em todo o mundo — passou a não contar mais os óbitos antigos relacionados à pandemia, aqueles que demoram para ser contabilizados. O governo passou também a atrasar a divulgação dos dados e a limitar as informações sobre o novo coronavírus.
Tudo a partir da influência do empresário que, no site da Natue, adquirida em 2018, defende o lema “vivendo em equilíbrio”. “Mais do que tudo, queremos empoderar os brasileiros através de informação e opções de escolha!”
Em 2017, Wizard comprou também 50% da empresa de produtos vegetarianos Natural Science, com mais de 200 pontos de venda pelo país. O site da companhia descreve sua “visão”: “Facilitar o acesso de produtos que ajudem as pessoas em sua busca pela saúde física e espiritual”. A empresa está no nome de Leandro Menezes da Costa Duarte.
SECRETÁRIOS DE SAÚDE REPUDIAM AFIRMAÇÕES DE WIZARD
O homem público que defende o uso da cloroquina, mesmo diante das pesquisas que mostram seus danos à saúde de quem recebe tratamento por Covid-19, é o mesmo que vende em seu site aqueles produtos veganos, sem lactose ou sem glúten. E que aponta, na plataforma da Mundo Verde, os “perigos do uso de agrotóxicos”, defendidos pelo governo Bolsonaro. Entre outros motivos, pelo risco de câncer e de “intoxicações que podem levar à morte”.
O faturamento da Mundo Verde em 2018 foi de R$ 580 milhões. Os planos para 2019 eram de um faturamento de R$ 731 milhões. São mais de quatrocentas lojas espalhadas em 24 Unidades da Federação.
“Será que cinco dias de uso da cloroquina vai dar taquicardia, vai dar arritmia?”, disse ao UOL o empresário, formado em Ciência da Computação e Estatística. “Claro que não”.
Carlos Wizard foi anunciado na terça-feira, pelo ministro interino Eduardo Pazzuelo, um general, como secretário da Ciência. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) publicou ontem uma nota de repúdio após ele acusar governadores e prefeitos de inflacionar o número de mortes por coronavírus.
“Tinha muita gente morrendo por outras causas, e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como Covid”, declarou o secretário na sexta-feira. Foi quando ele disse que os dados eram “fantasiosos ou manipulados”.
“Wizard menospreza a inteligência de todos os brasileiros”, diz na nota o presidente do Conass, Alberto Beltrame, “que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como ‘mercadoria'”. “Não somos mercadores da morte”.
Em 2018, Carlos Wizard comprou também a Pizza Hut e a KFC. Ele também controla a rede de comida mexicana Taco Bell Brasil.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas |
Imagem principal (Reprodução): Wizard especializou-se no ramo de franquias