Com esposa indiciada por atropelamento de criança, ruralista busca prefeitura no MT

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Aliado de Blairo Maggi, ex-deputado Adilton Sachetti é pré-candidato em Rondonópolis, onde sua mulher responde pelo homicídio culposo de garoto de 3 anos; disputa por vaga aberta no Senado coloca “compadres” em lados opostos

Por Bruno Stankevicius Bassi

Era um Dia dos Pais. Junto ao pai e à madrasta, Daniel Augusto da Silva, de 3 anos, voltava para a casa da mãe no dia 11 de agosto de 2019, em Rondonópolis (MT), quando a moto em que estavam foi atingida, no cruzamento das Avenidas 15 de Novembro e Tiradentes, por uma SUV. Atrás do volante estava a influenciadora digital Lidiane Campos, que fugiu do local sem prestar socorro às vítimas. Daniel não resistiu aos ferimentos e faleceu na mesma noite.

Lidiane Campos e Adilton Sachetti no casamento: dois meses antes da morte de Daniel. (Foto: Reprodução)

Indiciada por homicídio culposo e omissão de socorro no início do mês, Lidiane é esposa de um dos principais políticos do Mato Grosso, o ex-deputado federal (2015-2018) e presidente estadual do Republicanos Adilton Sachetti, com quem havia se casado apenas dois meses antes do acidente.

Pré-candidato à prefeitura de Rondonópolis pela terceira vez, após cumprir seu primeiro mandato entre 2005 e 2008 e perder a reeleição, Sachetti é amigo de infância e aliado do ex-governador Blairo Maggi (Progressistas-MT), ex-senador e ex-ministro da Agricultura. Junto ao “compadre”, Sachetti se tornou um dos principais articuladores da bancada ruralista durante sua passagem no Congresso, tendo ocupado a coordenação de Infraestrutura e Logística da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e tornando-se líder do lobby do algodão na Câmara.

Produtor da commodity, Sachetti participou da fundação da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), uma das principais financiadoras do Instituto Pensar Agro, a ponte da FPA com o mundo privado. À frente da Ampa, ele foi um dos principais articuladores do processo aberto pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio contra os subsídios concedidos pelos Estados Unidos no mercado de algodão.

À época do atropelamento, o político afirmou que o caso foi uma “fatalidade” e que a morte de Daniel estaria sendo aproveitada politicamente por adversários. “Há muita especulação política e muita maldade neste caso”, declarou. Segundo a defesa de Lidiane, ela não teria prestado socorro por medo de ser linchada. Em nota, a Polícia Civil afirmou não ter sido possível comprovar se ela estaria embriagada, o que qualificaria o crime como homicídio doloso.

COMO DEPUTADO, SACHETTI BENEFICIOU EMPRESAS DOS MAGGI

A amizade entre Adilton e Blairo começou muito antes do envolvimento dos dois na política. Oriundas do Sul, as famílias Sachetti e Maggi chegaram em Rondonópolis nos anos 70, atraídas pela Marcha para o Oeste promovida durante a ditadura iniciada em 1964.

Ali, os Sachetti fundaram a Agropecuária Céu Azul S/A, exportadora de algodão, com fazendas em Itiquira, Rondonópolis e Sapezal que ultrapassam 70 mil hectares. Ela foi presidida por Adilton até 2004, ano em que, com apoio de Blairo, venceu a disputa pela prefeitura de Rondonópolis, então sede do grupo Amaggi.

Hidrovias propostas por Sachetti beneficiavam Grupo Bom Futuro. (Imagem: Repórter Brasil)

A empresa acumula processos judiciais, a grande maioria por dívidas. Hoje liderada pelos irmãos Tarcísio e Paulo Sachetti, a Céu Azul foi acionada por não honrar pagamentos a fornecedores como Bunge, Syngenta, Monsanto, Du Pont, Fertilizantes Heringer e Chemtura, além de instituições financeiras.

Somando-se as ações individuais perpetradas na época em que Sachetti era prefeito de Rondonópolis, o republicano respondia, até 2010, a 53 ações na Justiça.

As dívidas derrubaram o patrimônio do então deputado. Em 2008, quando tentou a reeleição para prefeito, Sachetti declarou R$ 11,6 milhões, incluindo 15% de participação em dezenas de máquinas agrícolas. Dez anos depois, seus bens caíram para R$ 5,86 milhões, devido ao processo de penhora iniciado em 2014. Entre os beneficiários estava Elizeu Maggi Scheffer, primo de Blairo, que adquiriu duas partes da Fazenda Três Lagoas, de 968 hectares, em Sapezal. Em 2017, a área foi alienada para o Itaú Unibanco.

As relações de Adilton Sachetti com os Maggi não param por aí. Em 2014, eleito deputado federal, ele recebeu da família R$ 850 mil em doações de campanha, sendo R$ 400 mil da Amaggi, além de doações diretas de Blairo, Elizeu e do outro primo, Eraí Maggi Scheffer, dono do grupo Bom Futuro.

Conforme levantamento da Repórter Brasil, o grupo empresarial de Eraí era o principal beneficiário de três projetos de decreto parlamentar apresentados por Sachetti em 2015, propondo a criação de novas hidrovias, algumas delas a menos de 200 quilômetros das fazendas da Bom Futuro.

POR SENADO E BOLSONARO, AMIGOS ROMPEM ALIANÇA

A relação de décadas do fazendeiro com Blairo Maggi, no entanto, parece ter sido estremecida com as disputas em torno da eleição suplementar para repor a vaga no Senado deixada pela juíza Selma Arruda (Podemos-MT), cujo mandato foi cassado pela Justiça Eleitoral em dezembro de 2019.

Adiada por conta da pandemia do novo coronavírus, a eleição mobilizou algumas das principais forças do agronegócio mato-grossense, como o vice-governador e fundador da Vanguarda Agro (atual Terra Santa), Otaviano Pivetta (PDT); o ex-presidente da Aprosoja, Carlos Fávaro (PSD); o ex-senador e ex-presidente da FPA, Nilson Leitão (PSDB); e o ex-governador Julio Campos (DEM).

Vaga aberta pela cassação da bolsonarista Selma Arruda abriu disputa entre ruralistas do Mato Grosso. (Foto: Divulgação)

Ainda em setembro, antes mesmo da decisão pela cassação da senadora, Sachetti buscou apoio de Blairo tentando reeditar a dobradinha de 2018, quando disputou vaga no Senado no lugar do amigo, que desistiu de concorrer à reeleição. Ao anunciar a desistência, Maggi disse que apenas um pedido de Sachetti o faria subir em palanque: “Vou concluir o trabalho no Ministério da Agricultura, porque há muito por se fazer. Na campanha, só posso ir se o Adilton, que é meu compadre, colocar o seu nome”.

Dessa vez, a estratégia não deu certo. Sem reunir apoio suficiente, Sachetti rachou com Blairo e tornou-se primeiro suplente na chapa de Pivetta. O ex-ministro declarou apoio a Fávaro que, desde abril, em função do adiamento da eleição suplementar, ocupa mandato-tampão no Senado.

Há outro componente na história. A saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL, que deixou boa parte dos políticos eleitos na esteira do bolsonarismo sem partido, levou seus filhos Flávio e Carlos a se filiarem ao Republicanos. A chegada do senador e do deputado estadual foi celebrada por Sachetti: “Carlos e Flávio Bolsonaro chegam para somar com o Republicanos, que está em constante crescimento no país”.

A aproximação de Sachetti com o bolsonarismo o coloca em oposição a Blairo Maggi, que vem usando suas aparições públicas para criticar o governo, como mostrou De Olho nos Ruralistas em abril: “Sojeiro e ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi critica “besteiras” ditas pelo governo sobre a China“.

| Bruno Stankevicius Bassi é repórter e coordenador de projetos do De Olho nos Ruralistas |

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