Zeca Camargo apresenta no UOL “publieditorial” em defesa de agrotóxicos e transgênicos

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Produzido pelo portal, programa foi uma propaganda da Croplife Brasil, que representa as grandes empresas do setor; presidente da organização foi um dos entrevistados e omitiu sua ligação com as empresas, assim como a outra entrevistada

Por Leonardo Fuhrmann

Como apresentador, um jornalista famoso, com uma passagem de 24 anos na Rede Globo. Como debatedores, dois especialistas: de um lado, um cientista social, de outro uma toxicologista. Tema: o uso de agrotóxicos e sementes transgênicas na agricultura brasileira. O material foi produzido e divulgado pelo UOL, o principal portal de notícias do país. Abaixo do vídeo, uma observação: aquele conteúdo não era jornalístico.

No mercado editorial, o produto costuma ser chamado de “publieditorial”, um formato que aparenta ser jornalismo, mas é na verdade uma propaganda disfarçada. Sem muitas diferenças visuais em relação ao material editorial, geralmente essas propagandas vêm com um aviso discreto que se trata de um “informe publicitário”.

No caso da propaganda produzida e divulgada pelo UOL na segunda semana de julho, o comprador era a Croplife Brasil, uma associação criada para defender os interesses dos fabricantes de agrotóxicos e de sementes transgênicas.

A organização foi uma das patrocinadoras de um dos principais eventos do setor, realizado nesta segunda-feira (03): “Gigantes dos agrotóxicos são principais financiadores de Congresso Brasileiro do Agronegócio“.

Com jeito descontraído, Zeca Camargo, um jornalista tarimbado da área de entretenimento, simulava estar sendo contundente. Mera encenação: as perguntas eram apenas uma preparação para os falsos convidados repetissem os discursos da indústria em defesa do uso dessas substâncias.

Não houve espaço aberto ao contraditório. Os dois “entrevistados” se completavam quase em forma de jogral, complementando as mesmas ideias. A escolha de Camargo para apresentar a conversa tem mais um detalhe: gastronomia é o nicho de programas jornalísticos que ele apresenta no portal.

ENTREVISTADO É O DONO DO PROGRAMA

No programa de quase meia-hora, os dois “entrevistados” também são apenas parcialmente apresentados para os espectadores. A toxicologista entrevistada foi Cristiana Leslie Corrêa, apresentada como diretora científica do Instituto Brasileiro de Toxicologia. Cristiana é também diretora técnica da Planitox, uma empresa que faz laudos, pareceres e estudos técnicos para fabricantes desses produtos.

O apresentador é um jornalista? UOL diz que não naquele momento. (Imagem: Reprodução)

O cientista social entrevistado foi Cristian Lohbauer, ex-vice-presidente de Assuntos Corporativos da Bayer Brasil. Não por acaso, o presidente da Crolife Brasil. Ou seja, o verdadeiro “dono” do programa de entrevistas.

Fundador do Partido Novo, Lohbauer foi vice na chapa de João Amoedo na eleição presidencial de 2018. Também foi, segundo seu currículo oficial, gerente de Relações Internacionais da Fiesp, diretor executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (Abef), presidente executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). Atualmente, é diretor do Conselho de Agricultura da Fiesp (Cosag/Fiesp) e sócio da Lohbauer Consultoria Internacional.

A Croplife Brasil foi criada em outubro do ano passado. A Bayer e a FMC participam, assim como a Syngenta, a Basf, e outras trinta empresas ligadas à produção e comercialização de produtos químicos e transgênicos para a agropecuária. Apesar de nova no Brasil, a filial brasileira é associada da Croplife International, internacionalmente conhecida por fazer lobby para as grandes empresas do setor.

Basf, Bayer, Corteva (do grupo DowDuPont), FMC, Sumitomo Chemical e Syngenta são as empresas que fazem parte da entidade, que reúne também entidades empresariais regionais. A Croplife Brasil e a Associação das Empresas de Biotecnologia na Agricultura e Agroindústria (AgroBio) fazem parte da organização estrangeira.

UOL DIZ QUE FICA CLARO QUE CONTEÚDO NÃO É JORNALÍSTICO

Em nota, o UOL defende que o material é claramente apresentado como “conteúdo de marca” e que a prática de publieditoriais é “amplamente utilizada” por rádios, jornais, TVs e na internet.

Leia a nota na íntegra:

O UOL esclarece que o conteúdo “Do Campo à Mesa” é produzido pelo departamento de Content_Lab, braço de conteúdo para marcas do UOL Ad_Lab que oferece soluções completas de publicidade. Preocupado com a transparência junto aos seus leitores, todo conteúdo produzido pelo Content_Lab é sempre claramente identificado como conteúdo de marca, a sinalização se encontra na URL e no topo da página, além de um texto em negrito no pé da página que especifica que o conteúdo não pertence ao conteúdo jornalístico do UOL. O UOL reforça que publieditorial é um formato amplamente utilizado por todos veículos de mídia, não apenas na internet, mas também pela mídia impressa, televisiva e radiofônica.

| Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas |

Foto principal (Reprodução): Zeca Camargo entrevista Christian Lohbauer para a Croplife, presidida por Lohbauer 

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