Marcos Borges, o Coty, dirige a gráfica e a editora da Jocum no Brasil; organização é acusada de produzir um documentário falso e de fazer contato ilegal com indígenas para evangelização; missionários são acusados de outras irregularidades na Amazônia
Por Leonardo Fuhrmann
O pastor evangélico Marcos de Souza Borges, o Coty, publicou na última terça-feira (01) uma postagem em que ironizava a internação do cacique Raoni por causa de um quadro de Covid-19. O tweet foi apagado depois da repercussão negativa, mas foi divulgado por sites como a revista Fórum. A postagem ridiculariza o botoque usado pelo cacique, símbolo usado por oradores e líderes de sua etnia. A fotomontagem com uma imagem de um CD,próximo da boca de Raoni, afirmava que o sistema antivírus do líder indígena havia sido atualizado.
Conhecido internacionalmente desde os anos 70, quando o Brasil ainda vivia uma ditadura, o líder Kayapó de 90 anos é um dos nomes mais respeitados da luta em defesa da Floresta Amazônica e dos povos originários da região. O cacique já foi recebido por diversos líderes políticos, inclusive o papa Francisco, e costuma ser alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro, que o acusa de defender interesses de outros países. Raoni foi internado em razão da doença na segunda-feira. Ele já havia ficado nove dias internado em junho em razão de outros problemas de saúde.
Coty é diretor da Gráfica e Editora Jocum e líder de base da entidade em Almirante Tamandará, no Paraná. A Jovens com uma Missão é ligada à ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves. Ela é fundadora da Atini e as duas organizações são acusadas de desrespeito à cultura indígena, inclusive com um documentário fraudulento, e também de ter seus missionários envolvidos em outras irregularidades na Amazônia, como mostrou o De Olho nos Ruralistas em janeiro de 2019: “ONG ligada à ministra Damares levou malária a indígenas isolados”.
FESTIVAL TEVE A PARTICIPAÇÃO DE BOLSONARO
A reportagem mostra tentativas de contato clandestino, além de acusações contra missionários de biopirataria, furto de mogno e adoções ilegais de crianças indígenas. As duas organizações aparecem ligadas também ao Movimento Novas Tribos do Brasil, do pai do antropólogo bolsonarista Edward Luz. A atuação deste grupo foi explicitada também em outra reportagem do observatório: “Mortes, escravidão e abuso sexual: o legado das missões comandadas pelo pai de antropólogo preso pelo Ibama”.
A Jocum é também uma das organizadoras do The Send, um culto-festival criado pelo movimento ultraconservador evangélico norte-americano. Damares e Bolsonaro participaram da primeira edição do festival no Brasil, em fevereiro deste ano. A ministra participou dos atos em dois estádios de São Paulo. E Bolsonaro em Brasília.
| Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas |
Foto principal (Catarina Barbosa/Brasil de Fato): Raoni é respeitado internacionalmente, desrespeitado em seu país