Arsenal de notícias falsas na órbita da família Bolsonaro atingiu opositores do presidente, minimizou efeitos da Covid-19 no Brasil e fez da cloroquina uma “verdade”; memes estimularam o medo de vacinas e de equipamentos médicos entre indígenas
Por Sarah Fernandes
O Brasil somava 2.271 infectados por Covid-19, no dia 24 de março, e diversos estados já adotavam medidas de quarentena para conter o avanço da doença, quando Jair Bolsonaro defendeu em rede de rádio e TV o retorno da população “à normalidade”. Contrariando a Organização Mundial da Saúde (OMS), ele disse que autoridades estaduais e municipais deveriam “abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércios e o confinamento em massa”. Grupo de risco? “Pessoas acima dos 60 anos”. Então, dizia, “por que fechar escolas”?
O presidente ainda afirmou que, “por seu histórico de atleta”, o novo coronavírus seria apenas uma “gripezinha” e culpou a mídia por espalhar “pavor” e “histeria” no Brasil. A Itália tinha muitas vítimas? Para ele, “um país com grande número de idosos e com o clima totalmente diferente do nosso”. Três dias depois, já com 3.477 infectados, Bolsonaro duvidou do número de óbitos por Covid-19 em São Paulo. Em entrevista à TV Bandeirantes, insinuou: “Tem um estado aí que orientou por decreto que, se não tiver uma causa concreta do óbito, bota lá coronavírus para colar”.
Os governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro e Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás, foram chamados de “ditadores” e acusados de prender comerciantes, algemar idosos e proibir o uso da cloroquina. Esta foi defendida nas redes bolsonaristas como remédio comprovadamente eficaz para tratar a doença. Enquanto isso, o governo distribuía cloroquina para indígenas.
O Gabinete do Ódio é o penúltimo tema da série Esplanada da Morte, iniciada no dia 28 de julho pelo De Olho nos Ruralistas. A maioria das reportagens falou do papel de ministros na escalada do genocídio em curso. Outras trataram do papel do Supremo Tribunal Federal (STF), da Procuradoria-Geral da República (PGR), do Congresso — todos se calaram diante das várias ramificações de notícias falsas, espalhadas a partir da própria família Bolsonaro.
A narrativa da cloroquina como panaceia se espalhou rapidamente por grupos de Whatsapp. Sete das dez imagens sobre a pandemia mais compartilhadas pela plataforma entre 01 de março e 30 de junho de 2020 eram falsas, segundo um levantamento da Agência Pública, feito a partir de 522 grupos de Whatsapp com mais de 18 mil usuários. As postagens foram monitoradas pelo projeto Eleições Sem Fake, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A foto mais compartilhada mostrava uma reunião de Doria com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, ocorrida em 2019. A imagem vinha acompanhada de diferentes textos falsos. Um deles dizia que Doria fechara acordo com uma farmacêutica chinesa para produzir vacinas contra o coronavírus no ano passado, sugerindo que a pandemia teria sido provocada pela China e que Doria teria informações privilegiadas sobre ela.
A enxurrada de mentiras que tomou conta das redes sociais durante a pandemia do novo coronavírus não foi espontânea. Ela seguiu a estratégia do Gabinete do Ódio para fortalecer Bolsonaro, cravar a saída do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (demitido em 16 de abril), relaxar as medidas de isolamento social e colocar em dúvida os números da Covid-19 no Brasil, além de difamar opositores e fortalecer teorias da conspiração.
Foi em dezembro de 2019, em depoimento para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, que a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, deu nomes e rostos a uma prática já percebida pelos brasileiros: o disparo massivo de informações falsas pelas redes sociais. Tratava-se, nas palavras dela, de um trabalho do Gabinete do Ódio, uma “milícia digital” instalada no Palácio do Planalto que espalha pelas redes ataques a críticos do presidente Jair Bolsonaro. Uma prática financiada com dinheiro público e que usaria robôs para realizar disparos em massa.
À frente do que ela chamou de “organização criminosa” estariam o vereador fluminense Carlos Bolsonaro (PSC) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filhos 02 e 03 do presidente, além dos assessores Filipe Martins, Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. Eles produzem relatórios diários com interpretações políticas sobre fatos ocorridos no Brasil e no mundo e são responsáveis pelas contas da Presidência da República em plataformas como Twitter e Facebook.
Na prática, o Gabinete do Ódio usa contas em redes sociais para viralizar ataques virtuais, na forma de memes, a opositores do governo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ex-aliados de Bolsonaro como Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz e até o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, já foram alvos desses ataques. A parlamentar contou, ainda, que dos 5,4 milhões de seguidores da conta do presidente no Twitter na época da denúncia, ao menos 1,4 milhão eram robôs.
Em 08 de julho, quando o Brasil somava 1,7 milhão de infectados por Covid-19, o Facebook tirou do ar diversas contas responsáveis por viralizar informações falsas sobre a pandemia. Algumas delas eram usadas por um funcionário de Bolsonaro e por seus filhos. Um dos punidos, Tércio Tomaz, era assessor do presidente desde a campanha de 2018 e apontado como um dos líderes do Gabinete do Ódio. Ele gerenciava a página “Bolsonaro Opressor 2.0”, com 1 milhão de seguidores.
De acordo com investigações, os principais ataques a ex-aliados de Bolsonaro, como os ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta, partiram das redes sociais administradas por Tomaz. “Fui alvo da rede de mentiras que age por motivos político-partidários”, escreveu Moro, antes um aliado discreto, em seu perfil no Twitter. “Pessoas que perderam qualquer senso de decência”.
Apesar de várias investigações em curso, a milícia digital do Gabinete do Ódio não se importou em usar a pandemia como mais um combustível de disputa política. Além de espalhar mentiras sobre opositores, a milícia minimizou os efeitos da Covid-19 no Brasil, mesmo colocando em risco a saúde da população. Desde o fim de fevereiro, quando foram identificados os primeiros casos da doença no Brasil, as mentiras passaram a embasar as ações do presidente.
Bolsonaro usou seus pronunciamentos oficiais em redes de rádio e televisão para atacar opositores políticos, institutos de pesquisa e governadores estaduais. As informações falsas disseminadas pelo Gabinete do Ódio eram dividias em três eixos: relativizar a gravidade da doença, defender o uso da hidroxicloroquina e deslegitimar o isolamento, atacando aqueles que adotam essas medidas.
Para isso, os perfis virtuais utilizaram memes, vídeos amadores e documentos falsificados com logos do Sistema Único de Saúde ou do Conselho Federal de Medicina. Os conteúdos foram compartilhados por parlamentares bolsonaristas, como Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e o médico Osmar Terra (MDB-RS), em uma tentativa de dar credibilidade às informações. “Esse tipo de desinformação tinha total relação com a busca por legitimar o discurso adotado pelo presidente”, explicou a deputada Natália Bonavides (PT-RN) à Rede Brasil Atual.
Membros da CPMI das Fake News defendem que os parlamentares sejam responsabilizados pelas publicações. A cientista política Rosemary Segurado, professora da PUC-SP que estuda o fenômeno das notícias falsas, chama a atenção para o risco que essa prática põe à vida da população:
— A pandemia mexe com a saúde e com a vida das pessoas, mas para a fábrica de fake news isso não é uma preocupação. Eles disseminam um discurso alicerçado no medo de um possível inimigo que é sempre o outro: o chinês ou o comunista, por exemplo. A tática é eleger esse inimigo e direcionar o ódio para ele, para criar a ideia de que esse grupo representa algo repugnante e que é preciso destruí-lo.
O objetivo do Gabinete do Ódio durante a pandemia era claro: recuperar a relevância que Bolsonaro perdia nas redes, já que entre janeiro e março o presidente colecionava “sensações negativas” entre os usuários, segundo um estudo da empresa de comunicação AP Exata. Outra pesquisa, promovida pela Fundação Getúlio Vargas, constatou que até 15 de março as contas pró-Bolsonaro haviam perdido metade do apoio no Twitter.
As informações falsas defendidas por Bolsonaro tiveram uma primeira onda de ascensão em 19 de março, quando robôs levaram a hashtag #VirusChinês aos tópicos mais lidos do Twitter, os Trending Topics. Um dia antes, Eduardo Bolsonaro fez uma publicação em sua conta na rede social afirmando que a culpa pela pandemia era da China. O episódio gerou grande mal-estar diplomático entre os dois países.
Em 24 de março, quando o presidente se posicionou contra o isolamento social, seu filho Flávio Bolsonaro tuitou que “o remédio não pode ser mais letal que a própria doença”, junto com a hashtag #OBrasilNãoPodeParar. Nos dias seguintes o governo federal lançou a campanha “O Brasil Não Pode Parar”, que teria sido idealizada pelo vereador Carlos Bolsonaro — o filho número 02 — e que chegou a ser proibida de ser veiculada pela Justiça.
A partir daí as hashtags #OBrasilNãoPodeParar e #BolsonaroTemRazão foram novamente os assuntos mais comentados do Twitter e aqueles que defendiam o isolamento social começaram a ser atacados. As Tags #ImpeachmentDoria, #ImpeachmentWitzel e #ForaMandetta também foram aos Trending Topics. Entre 24 e 26 de março, as redes sociais do presidente tiveram um pico de aumento de seguidores.
A professora Rosemary diz que essa atuação faz parte de uma estratégia:
— Qual o interesse do Gabinete do Ódio em espalhar essas informações falsas? Foi a única forma que o governo viu de se livrar dos impactos econômicos já presentes provocados pela pandemia. Ao negar o problema e ser contra o isolamento social, o presidente jogou o ônus e a responsabilidade pela crise no colo dos governadores e prefeitos.
Durante toda a pandemia as redes sociais foram inundadas com informações falsas de curas milagrosas, algumas compartilhadas por parlamentares com milhares de seguidores. O próprio presidente alardeou a cloroquina como o remédio capaz de curar a doença. Durante um evento no Pará, em agosto, ele afirmou que o uso da cloroquina poderia ter salvado as mais de 100 mil vidas brasileiras perdidas até então, na pandemia. Ele mesmo seria “a prova viva que deu certo”, pois ele disse ter se tratado com o medicamento em julho.
Não há comprovação científica da eficácia do medicamento para tratar a doença. O teste Recovery, realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, apontou que a cloroquina é “inútil” para a Covid-19. Apesar disso, o medicamento foi tema constante nas fake news disparadas pelo Gabinete do Ódio.
Circulou nas redes a informação falsa que João Doria, que se destacou como opositor de Bolsonaro durante a pandemia, teria tomado a cloroquina ao contrair o vírus. Memes compartilhados aos milhares no Facebook diziam: “Canalha! O safado do Doria acaba de declarar que está tomando a cloroquina, desgraçado, matou centenas de irmãos paulistas”. O próprio governador veio a público desmentir a informação e afirmou que “segue os médicos, não Bolsonaro”.
A atriz global Camila Pitanga, ligada a pautas da esquerda, também foi vítima de notícias falsas: após contrair malária, memes sugeriam que ela teria falsificado o resultado do exame pois, na verdade, estaria com Covid-19 e usaria a malária como uma “desculpa” para tomar cloroquina. Mentira, claro.
O médico e comunicador Drauzio Varella foi outro alvo. Um vídeo dele de janeiro, quando o novo coronavírus estava restrito à China, foi recuperado por parlamentares e contas bolsonaristas no fim de março, em um cenário de expansão da doença, para dizer que a pandemia não era tão grave e que a população poderia continuar com suas atividades.
Autoridades como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o senador Flávio Bolsonaro — o filho número 01 — compartilharam o vídeo sem nenhuma explicação sobre o contexto, levando os internautas a acreditar que o médico se referia à situação daquele momento. O Twitter removeu as publicações.
Essa é uma estratégia popular para viralizar mentiras nas redes sociais, segundo a pesquisadora Rosemary:
— As informações falsas podem ser distorcidas intencionalmente para atingir pessoa, grupos ou instituições ou podem ser descontextualizadas, gerando uma nova informação que não é a adequada. Quanto o debate político tem como base a desinformação, seja intencional ou descontextualizada, isso afeta a sociedade democrática, que só pode se constituir com base em um debate transparente.
Em 30 de junho, o grupo Brasil Paralelo, um dos principais produtores de informações conservadoras, alinhadas ao presidente e ao astrólogo Olavo de Carvalho, divulgou um documentário — pelo menos a organização chama assim suas peças de marketing — intitulado “7 Denúncias: As Consequências do Caso Covid-19”, no qual se opõe veementemente às políticas de isolamento social, ao uso de máscaras, ao papel da imprensa durante a pandemia e à OMS.
Com quase duas horas de duração, o vídeo com estética fascista já tem ao menos 1 milhão de visualizações no YouTube, onde o grupo faz um investimento pesado. É muito comum que, quando se assiste a um vídeo no YouTube, o principal patrocínio seja do Brasil Paralelo — e o nome, aqui, não é uma ironia.
Diante do avanço da pandemia e dos estudos sobre a Covid-19, o novo alvo do Gabinete do Ódio tem sido a vacina: informações falsas colocam em xeque sua eficácia e questionam as pesquisas, deslegitimando as vacinas desenvolvidas na China. Ao mesmo tempo, continuam circulando nas redes “notícias” sobre máscaras contaminadas que estariam sendo entregues à população, ou sobre supostos médicos que defendem a ineficácia do isolamento social, método comprovado de contenção da doença.
O fim do isolamento social foi defendido por Bolsonaro em diversos momentos, inclusive em pronunciamentos oficiais. Um deles foi em 18 de abril, quando o Brasil já somava 36.925 infectados e 2.372 mortos por Covid-19. Ele usou as redes sociais para distorcer uma fala do diretor-geral da OMS, Thedros Adanom, insinuando que ele defendia o afrouxamento do distanciamento social: “Se eles [governos] estão fechando ou limitando movimentos, o que vai acontecer com essas pessoas que têm que ganhar seu sustento todos os dias?”.
A OMS continua a recomendar o isolamento e políticas de apoio financeiro aos mais pobres.
Antes mesmo deste pronunciamento de Bolsonaro, memes e vídeos com trechos descontextualizados da fala do diretor da OMS já circulavam em grupos de Whatsapp e em perfis de redes sociais bolsonaristas. Os disparos das publicações foram feitos em massa.
As fake news espalhadas pelo Gabinete do Ódio durante a pandemia não pouparam os povos do campo. Elas incluem mentiras sobre equipamentos médicos que estariam chegando contaminados a aldeias indígenas e ataques a líderes que se mobilizaram contra as políticas do governo federal. Indígenas, quilombolas e camponeses também se tornaram combustível na disputa política — movida, pelo lado da extrema-direita, por mentiras — das redes sociais.
O secretário executivo do Conselho Indígena Missionário (Cimi), Antônio Eduardo de Oliveira, defende que esse é o mudus operandi da gestão de Jair Bolsonaro. “O governo escolhe governar através de mentiras”, define. “Elas vêm atingindo os movimentos sociais em geral, mas muito os movimentos do campo, pois existe uma versão ou aversão do Executivo federal contra eles. Para o governo o campo brasileiro só é visto a partir do agronegócio e as populações tradicionais passam a ser vistas como contra o desenvolvimento”.
Em maio, a Fundação Nacional do Índio (Funai) teve de ir a publico esclarecer que era falsa a informação que circulava massivamente nas redes sociais de que ia distribuir cestas básicas contaminadas com o novo coronavírus nas Terras Indígenas Kayapó, Badjonkore, Las Casas e Menkragnoti.
Após ser alvo de boatos, a própria Funai atacou o Cimi, dizendo que a instituição provoca conflitos no campo e é “paternalista e assistencialista”. As insinuações foram publicadas em uma carta, em resposta às críticas da organização indigenista sobre a falta de medidas para conter o avanço da pandemia entre as etnias. O secretário executivo do Cimi rebate dizendo que se trata de um pensamento disseminado na ala ideológica do governo, à qual pertencia Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, hoje assessor do Banco Mundial. Weintraub disse, em reunião no dia 18 de abril, que odeia o termo “povos indígenas”.
Diz Antônio Oliveira:
— Para o governo esses povos não deveriam existir. Alguns órgãos partem para fazer esse assédio de forma bem direta. A própria Funai foi tomada por ruralistas e hoje faz um trabalho mais em defesa deles do que dos povos indígenas. Ela foi contra as barreiras sanitárias e defendeu a campanha “O Brasil não pode parar” junto aos indígenas, quando eles começaram a impedir a entrada nas aldeias.
Oliveira afirmou que representantes de instituições ligadas ao governo chegaram a percorrer terras indígenas afirmando que não havia pandemia e depois voltaram para distribuir cloroquina aos moradores, usando para isso até aviões. De Olho nos Ruralistas identificou a quantidade de medicamentos em uma divulgação do próprio Ministério da Saúde: “Governo federal distribuiu 100 mil unidades de cloroquina para indígenas“.
A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas lançou uma nota em junho repudiando o secretário Especial de Saúde Indígena, Robson Santos, por divulgar uma mensagem de áudio com informações falsas para induzir 34 Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Condisis) e 34 Coordenadores de Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) para que se manifestassem contra o projeto de lei PL 1142/2020, aprovado por maioria na Câmara, para garantir medidas emergenciais para populações tradicionais. No áudio, o secretário dizia que o PL acabaria com a Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai.
Em agosto, o Ministério Público Federal iniciou um inquérito civil para investigar a divulgação nas redes sociais de uma informação falsa envolvendo a atuação do Exército em terras indígenas. Segundo o boato, que circulou na forma de memes, a instituição aplicaria em indígenas Xavante uma suposta vacina para Covid-19 que provocaria a morte de indígenas. Ou seja, procurava-se desestimular, mais uma vez a vacina.
Este disparo em massa de informações falsas pelas redes sociais é corrosivo para a democracia, segundo Rosemary Segurado, a especialista da PUC-SP:
— Uma sociedade democrática não pode ser constituída na base de inverdades e desinformação. O autoritarismo não precisa do debate político, mas a democracia sim. O chamado Gabinete do Ódio ativa contas inautênticas nas plataformas digitais para disseminar conteúdos de ódio que atingem reputações e adversários políticos. Ele atua dentro do governo. Nenhuma democracia no mundo pode suportar uma coisa como essa.
O cerco começou a se fechar ainda mais para o Gabinete do Ódio em maio, quando o Supremo apreendeu documentos, computadores e celulares de dezessete blogueiros e empresários ligados ao presidente. Bolsonaro escreveu que a existência de um grupo de aliados para promover ataques a opositores nas redes “é a maior das fake news inventada pela imprensa”.
Diversas contas bloqueadas pelo Facebook eram utilizadas desde a campanha de 2018 para desmoralizar adversários políticos, como a deputada Maria do Rosário (PT-RS) e o então deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que abriu mão de seu mandato e deixou o Brasil após sofrer ameaças.
A escalada autoritária piorou, na avaliação da deputada Natália Bonavides (PT-RN), integrante da CPMI das Fake News, que falou à Rede Brasil Atual:
— Depois que Bolsonaro chega à presidência, isso se solidifica. Além das estruturas que já tinham, financiadas com recursos empresariais, eles agora estão no poder, fazendo uso dessas estruturas para fortalecer essas redes de ódio.
| Sarah Fernandes é repórter do De Olho nos Ruralistas |
Foto principal (Renan Olaz/CMRJ): Carlos Bolsonaro, o filho 02, articulador de mídias do presidente
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