Série “O Voto que Devasta” detalha, nas próximas semanas, a relação dos candidatos a prefeito com o ambiente, o território e os povos do campo; as eleições municipais mostram um país muito mais rural do que é percebido pela grande imprensa
Por Alceu Luís Castilho
O gado vai às urnas. A soja vai às urnas. A madeira vai às urnas. Assim começa o vídeo de divulgação da série “O Voto que Devasta”, que estreou nesta quarta-feira (28) com uma reportagem sobre a relação muito particular entre os candidatos a prefeito e a pecuária. Esses políticos são donos dos bois, donos de uma quantidade significativa do território brasileiro — e protagonistas de conflitos sociais, infrações ambientais, entre outras práticas que configuram o sistema político brasileiro, intrinsecamente ruralista.
A série continua nas próximas semanas com uma radiografia desse protagonismo político no campo. Os candidatos a prefeito (a prioridade foi dada à eles, diante dos candidatos a vice-prefeitos e às Câmaras Municipais) possuem madeireiras e multas, possuem centenas de milhares de hectares e tratores, eles declaram empresas agropecuárias e têm determinados apoios políticos. Quais? De que forma os ruralistas (e não somente os prefeitos) afirmam seu poder no campo a partir das eleições municipais?
Confira abaixo o vídeo de divulgação da série:
Para esta cobertura eleitoral o observatório montou sua maior equipe desde sua criação, em setembro de 2016 — justamente quando se aproximavam as últimas eleições municipais. Naquele ano a série, focada nos municípios que mais desmatam no país, se chamou O Arco Político do Desmatamento. Em 2020, a base territorial se amplia, mas com idêntica preocupação em relação às fronteiras do desmatamento, as mesmas fronteiras da agropecuária no Brasil. Da madeira ao gado, da soja à cana — ou a qualquer monocultura de plantão.
A definição de uma equipe de quinze pessoas para o projeto, em outubro e novembro, foi possível graças a três apoios institucionais. Um deles, do Instituto Clima e Sociedade (ICS). Outro, do Rainforest Jornalism Fund, em seu braço amazônico, administrado pelo Pulitzer Center. O terceiro, o apoio dos assinantes, que, desde o início do projeto, por meio da campanha De Olho nos Mil Parceiros, permitem que a redação tenha um ponto de partida. E que o agronegócio, neste país, seja sistematicamente fiscalizado.
|| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas ||
Foto principal (Sob a Pata do Boi/O Eco): logo de “O Voto que Devasta” foi feito por Felipe Fogaça