Mais de 318 mil hectares (47%) desse total estão nos municípios que compõem o Arco do Desmatamento; pelo menos 82 candidatos receberam multas nesses municípios do país que mais destroem o bioma, onde a fronteira econômica avança contra a floresta
Por Alceu Luís Castilho
São políticos mineiros, capixabas, paulistas, goianos, gaúchos, paranaenses, além daqueles do Pará, do Mato Grosso, do Amazonas e demais estados que compõem a Amazônia Legal. Juntos, esses candidatos a prefeito — excluídos os candidatos a vice-prefeito e vereador — possuem 677 mil hectares de terras na Amazônia, o que equivale a um território maior que a Palestina, somando-se a Cisjordânia com a Faixa de Gaza.
O levantamento feito pelo De Olho nos Ruralistas aponta que 47% das terras desses candidatos (318 mil hectares) estão em alguns dos 267 municípios do Arco do Desmatamento, região com maior incidência de desmatamento na região. Uma porcentagem bem maior, portanto, que a proporção (35%) entre esses municípios e o total de 772 municípios que compõem a Amazônia Legal.
O observatório traz detalhes sobre o tema em reportagem publicada nas páginas do jornal espanhol El País dentro da série O Voto que Devasta, sobre os candidatos ruralistas das eleições de 2020. Na reportagem é possível conhecer outras histórias de políticos que atuam contra o ambiente e os povos do campo na Amazônia e procuram manter o poder local.
Do total de 677 mil hectares de candidatos a prefeito na Amazônia Legal, 163 mil hectares são de políticos que são candidatos em outras regiões do país. É o caso do mineiro Fabinho Gardingo, candidato em Matipó (MG), mas que tem um longo histórico familiar de exploração na Amazônia, com acusações de trabalho escravo e grilagem no Amazonas.
De Olho também identificou que 158 candidatos a prefeito foram multados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento na Amazônia Legal, sendo 82 deles no Arco do Desmatamento. É o caso do capixaba Sidney Rosa, candidato em Paragominas (PA) multado pelo Ibama e acusado de trabalho escravo. Rosa migrou de Santa Teresa (ES) para explorar madeira no norte do Pará e acabou virando prefeito, deputado e secretário estadual.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas |