Agricultora, educadora popular e sindicalista, Jaqueline Simão dedicou a vida a defender os direitos dos povos do campo; aos 39 anos, ela foi uma das mais de 345 mil vítimas da pandemia e da política genocida do governo Bolsonaro
Por Mariana Franco Ramos
A indignação contra as violências e injustiças que acometem os povos do campo, da floresta e das águas marcou a trajetória de Jaqueline Simão Pinto, de 39 anos. Agricultora, educadora popular, missionária e sindicalista, ela foi uma das mais de 345 mil vítimas fatais da Covid-19 no Brasil. Era uma das participantes da Marcha das Margaridas, realizada de quatro em quatro anos, rumo a Brasília.
Em Aratuba (CE), a 132 quilômetros de Fortaleza, um cortejo na quinta-feira (08) marcou a despedida da filha da terra. Amigos desceram dos carros para soltar balões brancos. “Nós perdemos uma das mulheres mais fortes, gentis e luminosas que já conhecemos”, escreveu o prefeito, Joerly Vitor (Republicanos), em nota. Ele decretou luto oficial de três dias na cidade. “Jaqueline foi uma força da natureza”.
Na presidência do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Aratuba, Jaque, como era conhecida, encabeçou a luta pelo fortalecimento da agricultura camponesa, responsável por 70% do alimento que chega às mesas da população brasileira, e de uma política emergencial de combate à fome e à miséria.
O setor é um dos que mais sofre os impactos da pandemia, devido ao fechamento de muitas feiras onde os produtos são comercializados. Com a suspensão das aulas presenciais nas escolas, houve problemas em todo o país com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que utiliza produtos da agricultura familiar para a merenda.
MARCHA DAS MARGARIDAS HOMENAGEIA CAMPONESA ASSASSINADA EM 1983
A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) destacou, também em nota, que Jaqueline Simão sempre esteve presente nas ações da Rede de Educadores e Educadoras Populares do Ceará e na realização da Marcha das Margaridas.
Maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina, a marcha é um ato de resistência que ocorre todos os anos em alusão à luta de Margarida Maria Alves. A sindicalista paraibana foi assassinada em 1983 por um matador de aluguel a mando de fazendeiros da região. Até hoje, nenhum acusado por sua morte foi condenado.
Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT-CE), a partida da dirigente sindical reforça a necessidade de fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e a busca para que todos tenham direito à saúde pública e universal e a viver em segurança. “A CUT Ceará se solidariza com a família, amigos, companheiros e companheiras do STRAAF de Aratuba e com a sociedade cearense, que enfrenta esta difícil luta contra o coronavírus”.
A organização escreveu ainda que Jaqueline foi uma grande defensora da democracia, dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras e incansável na luta por um Brasil mais justo e igualitário. “Sem dúvida o seu trabalho continuará vivo na memória do movimento sindical e de todos aqueles que acompanharam a sua linda trajetória”.
| Mariana Franco Ramos é repórter do De Olho nos Ruralistas. |
Foto principal (Reprodução/Facebook): Sindicalista lutava pelo fortalecimento da agricultura familiar, atingida pela pandemia