Próximo da controversa Araupel, Valdir Rossoni (PSDB-PR) é sócio de duas empresas em Bituruna, no interior do Paraná, onde possui terras; ele já foi acusado de crime ambiental, de contratar funcionários fantasmas e de desviar dinheiro de escolas públicas
Por Mariana Franco Ramos
O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) Valdir Rossoni (PSDB-PR), de 68 anos, é sócio de duas empresas do setor madeireiro em Bituruna, no interior do Paraná, e já respondeu por crimes ambiental e de improbidade administrativa. Ele vai assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados, no lugar de José Carlos Schiavinato (PP-PR), morto na terça-feira (13) em decorrência de complicações da Covid-19.
O tucano possui 80% do capital social da Ecoplac Agroindustrial e cotas na Brasfibra e na Fibrapar. As duas primeiras atuam nas áreas de fabricação de madeira, cultivo de pinus, cultivo de eucalipto, transporte rodoviário de carga, serrarias e extração de madeira em florestas plantadas. Rossoni também é dono de um terreno na região, avaliado em R$ 112 mil, e outros bens que somam R$ 2 milhões. Os dados constam da prestação informada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O parlamentar tem ligação, ainda, com a Araupel, de quem recebeu, em 2014, doações para sua campanha a deputado federal, no valor de R$ 50 mil. Responsável por 15% da madeira industrializada exportada pelo Brasil, a madeireira trava há 25 anos uma disputa com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Quando foi fundada, em 1972, ela adquiriu cerca de 80% de um latifúndio de aproximadamente 104 mil hectares dentro das Fazendas Rio das Cobras e Pinhal Ralo, originalmente pertencentes à União.
PARLAMENTAR CHAMOU FISCALIZAÇÃO DE “TERRORISMO AMBIENTAL”
A atuação política do tucano começou em 1983, na terra natal, e é no mínimo conflituosa. Crítico do que chamava de “fiscalização duvidosa em áreas florestais”, ele próprio já recebeu multa e foi alvo de inquérito por crime ambiental. De acordo com a Polícia Federal (PF), o tucano é suspeito de destruir uma Área de Preservação Permanente (APP), inclusive com incêndio, e de transformar madeira em carvão sem autorização. À PF, o parlamentar negou ter cometido os delitos e atribuiu o incêndio a um vizinho.
O deputado disse que o inquérito é resultado de uma ação perseguidora. “Isso estava paralisado há 12, 13 anos e agora resolveram mexer, não sei por que cargas d’água”, argumentou. “É um incêndio causado por terceiros que, além de queimar a minha propriedade, queimou outras propriedades, mas o único inquérito que foi aberto foi em cima do meu”.
Rossoni foi deputado estadual de 1991 a 2015. No período, fez uma série de pronunciamentos inflamados contra a fiscalização ambiental. Em um deles, em 2006, criticou a “situação caótica” da indústria madeireira. O deputado citou como exemplo uma área de sua propriedade, de 200 hectares. “Não posso utilizar nem a metade dessas terras, e não estou falando em mata nativa, de proteção ambiental, e sim de área produtiva”.
Em 2009, durante encontro com o então governador Roberto Requião (MDB-PR), pediu “o fim do terrorismo” na Operação Angustifolia, que investigou desmate ilegal no estado. “Se há crime ambiental, executem a multa ou prendam os infratores, mas não coloquem todos na vala comum”, defendeu. “Estão ocorrendo abusos de autoridade e divulgando informações inverídicas”. As declarações estão disponíveis no site da Alep.
TUCANO SE ENVOLVEU EM ESCÂNDALOS NO GOVERNO RICHA
Presidente da Alep de 2011 a 2014 e secretário de Richa de 2015 a 2018, Rossoni comandou ainda o PSDB estadual. Ele deixou o cargo em 2015, após proferir ofensas machistas contra uma professora, em discussão nas redes sociais. Durante sua passagem pela Alep e pelo governo, envolveu-se em alguns escândalos.
Em 2018, foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) e teve R$ 124 milhões bloqueados pela Justiça por contratar funcionários “fantasmas” para “trabalharem” em seu gabinete, de 1992 a 2010. O político negou participação no esquema.
No mesmo ano, nova condenação, por ato de improbidade administrativa. A suspeita do Ministério Público do Paraná é de que o parlamentar colocou dois servidores comissionados do legislativo para atuarem na campanha eleitoral de seu filho, Rodrigo Rossoni, ao cargo de prefeito de Bituruna.
Em outro caso, o dono da Valor Construtora, Eduardo Lopes de Souza, afirmou em colaboração premiada que Rossoni recebeu propina na construção de escolas públicas estaduais. A denúncia é relativa à Operação Quadro Negro, que investiga desvios de mais de R$ 20 milhões em obras. Na época, a defesa alegou que não existiam provas e que o delator, além de criminoso, seria mentiroso.
A reportagem procurou o parlamentar nesta quarta-feira (14), mas não conseguiu contato.
| Mariana Franco Ramos é repórter do De Olho nos Ruralistas. |
Foto principal (Reprodução/Facebook): Valdir Rossoni é dono de empresas e terrenos em Bituruna, no interior do Paraná