Presidente se une a outros políticos que utilizaram o artefato, entre eles o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; isso ocorre apesar de sua política contra os direitos dos povos originários, “nem um centímetro a mais para terras indígenas”
Por Alceu Luís Castilho
“Nem um centímetro a mais para terras indígenas”. A frase foi repetida várias vezes por Bolsonaro durante a campanha eleitoral. E, durante seu governo, efetivada. Ontem, em São Gabriel da Cachoeira, ele não se constrangeu em utilizar o artefato durante a inauguração de uma ponte de madeira. As fotos foram registradas por Marcos Corrêa, profissional da própria Presidência de República. Um vídeo mostra o presidente retirando a máscara para cumprimentar indígenas, no município com a maior concentração de etnias do país.
Bolsonaro já tinha utilizado cocar em agosto do ano passado, durante inauguração de uma área de lazer em Belém, como apontou o site Os Divergentes. Em mais um registro feito por fotógrafo do Palácio do Planalto, Alan Santos.
Naquela ocasião ele defendeu o uso da hidroxicloroquina:
— Eu sou a prova viva que deu certo. Muitos médicos defendem esse tratamento e sabemos que mais de cem mil pessoas morreram no Brasil, que, caso tivessem sido tratados lá atrás com esse medicamento, poderiam suas vidas terem sido evitadas.
De Olho nos Ruralistas mostrou, em fevereiro de 2019, como ministros do governo Bolsonaro já utilizavam cocar para se promoverem. Isso aconteceu com os ministros Ricardo Salles e Tereza Cristina, por exemplo, reproduzindo prática de políticos de outros partidos e governos. O país não vivia ainda uma pandemia: “Só Ricardo Salles e Tereza Cristina? Conheça os políticos anti-indígenas e ‘com cocar’“.
Em maio do ano passado, já durante a pandemia, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, participou, com cocar, de uma cerimônia para distribuição de cestas básicas em Rondonópolis (MT).
PRESIDENTE JÁ PROMETIA EM 2017 ACABAR COM DEMARCAÇÕES
O presidente critica a demarcação de terras indígenas desde quando ainda não era candidato à Presidência, como mostramos em abril de 2017: “Bolsonaro: ‘Nem um centímetro para quilombola ou reserva indígena’“. Sua notória política anti-indígena foi esmiuçada em algumas reportagens da série Esplanada da Morte, uma delas sobre a Fundação Nacional do Índio (Funai), outra sobre a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Há exatamente um mês o presidente da Funai, Marcelo Xavier, promovia aglomeração, sem máscaras, no Mato Grosso. Naquela ocasião não foram utilizados cocares: “Sem máscaras, presidente da Funai e líderes da Aprosoja aglomeram em terra indígena“.
O observatório mostrou ontem como a política do governo federal impacta outra região com ampla concentração de indígenas no país, o Mato Grosso do Sul: “Ministério da Saúde desvia vacinas e implode equipe que reduziu mortalidade indígena em Dourados (MS)“.
O senado realiza uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as responsabilidades do governo nas mortes por Covid-19. Nenhum indígena foi convocado, ainda, para depor como testemunha.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |
Foto Principal (Marcos Corrêa/PR): presidente retirou a máscara, em plena pandemia, e interagiu com indígenas
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