Campanha de Bolsonaro mente sobre votação em assentamento no Pará

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Candidato à reeleição obteve 42,61% dos votos válidos em Aritapera, segundo dados do próprio TSE, e não 92,2%, como afirma peça publicitária; inserção é a mesma que distorceu resultado do primeiro turno em presídios

Por Mariana Franco Ramos

“Bolsonaro é o mais votado por quem trabalha e produz”, diz a narradora da campanha do candidato à reeleição. “No Assentamento Aritapera, no Pará, 92,2% votaram Bolsonaro”. De Olho nos Ruralistas checou os dados junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e constatou: trata-se de mais uma mentira propagada pela equipe do atual presidente.

Na realidade, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o preferido de 684 dos 1.757 eleitores aptos a votar no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Aritapera, em Santarém (PA), chegando a 49,32% dos votos válidos. Bolsonaro recebeu 591 votos (42,61% dos válidos).

De Olho nos Ruralistas publica série de vídeos sobre mentiras de Bolsonaro. (Ilustração: Aroeira)

O PAE Aritapera foi criado por Lula em 2006, com o objetivo de atender comunidades tradicionais ribeirinhas da várzea do Rio Amazonas. A informação consta no Diário Oficial da União (DOU). E, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), até hoje só existe um assentamento com esse nome em todo o país.

Quem primeiro constatou a mentira do capitão foi o engenheiro agrônomo Cândido Neto da Cunha, que é servidor do Incra. Ele publicou os dados, com as devidas fontes oficiais, em sua conta no Twitter.

Fazem parte do PAE catorze comunidades, das quais onze possuem seções eleitorais. Lula venceu em sete seções, enquanto Bolsonaro venceu em quatro. O atual presidente fez a contagem considerando apenas uma delas, Ilha do Bom Vento, onde há 63 eleitores aptos e onde de fato ele recebeu 92,15% dos votos válidos. O resultado de todas as outras foi descartado, como forma de enganar o telespectador e eleitor.

Curiosamente, em Santarém foi Bolsonaro quem saiu vitorioso no primeiro turno, com 49,4% dos votos válidos, contra 41,75% de Lula. No Pará, a exemplo do que ocorreu nacionalmente, o petista ficou em primeiro: recebeu apoio de 52,22% do eleitorado, frente 40,27% do candidato do PL. Reeleito com 70,41% dos votos válidos, o governador Helder Barbalho (MDB) anunciou apoio a Lula.

Observatório checou informações sobre votação em assentamento. (Imagem: De Olho nos Ruralistas)

PRESIDENTE COMENTOU NOTÍCIA FALSA EM LIVE COM LOBISTA DO GARIMPO

Bolsonaro comentou as notícias mentirosas de seu programa eleitoral em uma live ao lado do deputado federal Joaquim Passarinho (PL-PA), defensor do garimpo e relator do Grupo de Trabalho da Mineração na Câmara. Ele é um dos 54 parlamentares retratados no relatório Os Operadores da Boiada, sobre a relação entre eles, as leis contra o ambiente e os interesses das grandes multinacionais.

A gravação aconteceu no dia 07, durante o Círio de Nazaré, evento religioso que Bolsonaro tentou, sem sucesso, transformar em ato político. Ele atribuiu a enganosa vitória às ações do programa Titula Brasil, que na prática facilita as invasões e legaliza a grilagem de terras, como De Olho nos Ruralistas e O Joio e o Trigo em série de reportagens: “Titula Brasil faz parte da maior ofensiva de grilagem pós-ditadura“.

“Levamos paz no campo”, afirmou Bolsonaro. “Reduzimos a violência e hoje levamos tranquilidade”, completou, em nova tentativa de enganar quem o assistia. Outro dossiê de uma série divulgada por este observatório durante a campanha eleitoral mostrou exatamente a captura do Incra para fins eleitorais: “Dossiê detalha loteamento do Incra e uso eleitoral por parlamentares“.

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Pará lidera o ranking nacional de conflitos agrários no país. Em 2021, o estado registrou 156 casos. Na sequência, aparecem Bahia (134) e Maranhão (97). No total, o Brasil contabilizou 1.242 ocorrências do tipo no ano passado, envolvendo 670.760 pessoas.

Bolsonaro e Passarinho (direita) em live. (Foto: Reprodução)

PL ESPALHA DESINFORMAÇÃO SOBRE VOTOS DE PRESIDIÁRIOS

A campanha de Bolsonaro também mente ao falar sobre o resultado da votação em cadeias. O candidato à reeleição apresenta um suposto relatório de urnas do Presídio de Tremembé, em São Paulo, e outro em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, que apontariam vitória de Lula.

No entanto, além de omitir outros resultados, como o da Papuda, no Distrito Federal, onde o atual presidente ganhou por 59 a 49 votos, a inserção não apresenta o número total de eleitores presos, nem tampouco explica como acontece a votação nesses locais.

Presos provisórios, isto é, sem condenação criminal transitada em julgado, e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas têm o direito de votar no Brasil. Conforme reportagem da Folha, contudo, esse grupo corresponde a apenas 3% do total de cidadãos privados de liberdade no país.

O material se soma a outros veiculados por apoiadores do presidente, incluindo parlamentares. Condenada diversas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propagar mentiras em suas redes, a deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP) republicou um vídeo mentiroso de comemoração em presídio, para atacar Lula logo após o término do primeiro turno.

As imagens, que mostram homens pulando, foram acrescidas de um áudio falso de apoiadores gritando o nome do petista. Segundo a AFP Checamos, a gravação é de julho de 2016 e, no áudio original, não há qualquer menção ao ex-presidente.

Como forma de revidar o programa de TV do candidato à reeleição, o PT produziu um vídeo intitulado “Os maiores assassinos do Brasil apoiam Bolsonaro”. Na peça, o partido elenca famosos condenados por assassinato, como o ex-goleiro Bruno, Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniella Perez, e a ex-deputada Flordelis. Todos eles são apoiadores do atual presidente.

Guilherme de Pádua e a esposa em ato de apoio a Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

SÉRIE DE VÍDEOS ESCANCARA MENTIRAS DO ATUAL PRESIDENTE

As sucessivas e compulsivas mentiras de Jair Bolsonaro e de sua equipe são o tema da série de vídeos “Ele Mente“, que o observatório lançou neste segundo turno.

As seis peças já publicadas, de um total de dez previstas, tratam da fome, que atinge 33 milhões de brasileiros, do desrespeito com as mulheres, do aumento da criminalidade em função do acesso facilitado a armas de fogo, da corrupção no atual governo, da tentativa de compra de votos de eleitores mais pobres e do descaso com a pandemia.

Bolsonaro é um impostor. Em 30 de outubro, o país terá a chance de dar fim ao projeto de morte executado por ele. Todos os vídeos estão disponíveis no nosso canal no YouTube e nas nossas redes sociais. Você pode baixá-los e enviá-los diretamente para os seus contatos.

| Mariana Franco Ramos é jornalista. |

|| Colaborou Eduardo Carlini, geógrafo e pesquisador. ||

Imagem principal (Reprodução/Poder 360): Bolsonaro abusa da mentira e da desinformação em programa eleitoral

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