Dos onze votos contrários à cassação do filho do ex-presidente, onze foram de integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária, entre eles o diretor Domingos Sávio (PL-MG); membro da FPA, Eduardo não comparece a uma sessão da Câmara desde 13 de março
Por Bruno Stankevicius Bassi
O Conselho de Ética da Câmara se reuniu nesta quarta-feira (22) para votar o pedido de cassação contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o filho 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por crimes contra a democracia. Dominado por integrantes do Centrão e da extrema direita, o conselho arquivou o pedido por 11 votos a 7.

Desde que fugiu para os Estados Unidos, alegando perseguição política, Eduardo está há 224 dias sem comparecer à Câmara. Sua última presença em plenário ocorreu em 13 de março. Ao todo, o parlamentar acumula 36 ausências não justificadas em sessões deliberativas, quase duas vezes além do limite de um terço exigido para abertura de cassação.
Todos os votos favoráveis a Eduardo Bolsonaro saíram de deputados filiados à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a face institucional do lobby ruralista no Congresso. Entre os aliados de Eduardo Bolsonaro, há ruralistas da velha guarda, como Domingos Sávio (PL-MG), coordenador de Defesa Agropecuária e ex-vice-presidente da frente.
A lista inclui outros nomes relevantes da FPA, como Delegado Fabio Costa (PP-AL) e Gustavo Gayer (PL-GO), integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 2023; Cabo Gilberto Silva (PL-PB), ligado ao lobby do setor sucroenergético; e o delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que vem atuando pela revisão de menções negativas ao agronegócio em livros escolares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Os quatro tiveram participação decisiva no motim bolsonarista no Congresso, nos dias 5 e 6 de agosto. Mostramos o papel de cada um em vídeo publicado em nosso canal do YouTube: “Veja, um a um e por UF, quem são os 111 deputados que fizeram ato golpista na Câmara“.
A relação de ruralistas que votaram pelo arquivamento do pedido de cassação inclui ainda Albuquerque (Republicanos-RR), Delegado Marcelo (União-MG), Fausto Jr. (União-AM), Gilson Marques (Novo-SC), Gutemberg Reis (MDB-RJ) e Julio Arcoverde (PP-PI).
EDUARDO BOLSONARO TEM RELAÇÃO INSTÁVEL COM LÍDERES RURALISTAS
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária desde 2019, Eduardo Bolsonaro possui um histórico conturbado com a cúpula da bancada. Em março de 2020, diante da detecção dos primeiros casos de Covid-19 ao Brasil, ele acusou publicamente a China de fabricar o vírus, gerando uma crise diplomática com o principal mercado para as exportações do agronegócio. O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), então presidente da FPA, saiu em defesa do parceiro asiático, dizendo que “declarações isoladas” de integrantes não representavam as opiniões da frente ruralista.
Nos anos seguintes, o filho 03 de Bolsonaro se dedicou a consertar a relação. Em 2022, ele atuou junto à presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para livrar fazendeiros investigados por grilagem no Projeto de Assentamento (PA) Tapurah/Itanhangá, no norte de Mato Grosso. Entre os acusados, figurava o então vice-presidente da FPA, Neri Geller (PP-MT). Em março de 2025, semanas antes de fugir para os Estados Unidos, Eduardo foi nomeado pelo PL para a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, sob a promessa de pautar temas agrários.

A relação voltou a azedar em julho, após o presidente estadunidense Donald Trump decretar uma sobretaxa de 40% às importações de produtos brasileiros, elevando a tarifa total para 50% — a mais alta do mundo, ao lado da Índia. O deputado chamou para si a responsabilidade do tarifaço, justificado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos em virtude da “perseguição” do ministro Alexandre de Moraes contra Jair Bolsonaro. O país também aplicou a Lei Magnitsky, originalmente pensada como sanção a violadores de direitos humanos, contra Moraes e outros ministros do Supremo Tribunal Federal.
A reação da FPA foi dúbia. Em entrevista ao Poder 360, o presidente da frente, Pedro Lupion (PP-PR), buscou se desvincular de Eduardo Bolsonaro, afirmando que ele “age individualmente”. Ao mesmo tempo, o deputado paranaense classificou a fuga do colega como “exílio” e disse que ele estaria “cumprindo seu papel”. As críticas foram reservadas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tentando viabilizar seu nome como pré-candidato para a disputa presidencial em 2026, Eduardo lançou ataques contra a vice-presidente da FPA, Tereza Cristina (PP-MS). O motivo? Uma declaração dada pela ex-ministra de Jair Bolsonaro descartando a viabilidade de uma candidatura do filho 03. Contexto: a líder ruralista é a favorita para vice na chapa que vem sendo construída pelo Centrão, seja com Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) ou com Ratinho Júnior (PSD-PR).
Imagem em destaque (WikiCommons): Eduardo Bolsonaro em discurso na conferência CPAC, nos Estados Unidos
| Bruno Stankevicius Bassi é coordenador de pesquisa do De Olho nos Ruralistas. |