Eduardo Bolsonaro ataca parceiro de US$ 26,6 bilhões, a China, e agronegócio reage

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Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, o gaúcho Alceu Moreira (MDB) correu a ressaltar relações comerciais do Brasil com o país; um deputado paulista disse que vai pedir a Sergio Moro que investigue as supostas ameaças ao embaixador

Por Leonardo Fuhrmann

Os ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à China, na quarta-feira (18), provocaram uma reação imediata do agronegócio, setor que deu apoio massivo para a eleição do presidente. O parlamentar, terceiro filho de Jair Bolsonaro, acusou o governo chinês de ter omitido informações sobre o Covid-19 e, com isso, dificultado o combate à pandemia.

Faltam dois dos quatro trapalhões. (Foto: Eduardo Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Em nota divulgada nesta quinta-feira, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Alceu Moreira (MDB-RS), evitou criticar diretamente Eduardo, que faz parte da frente, mas destacou a importância da parceria com o país asiático: “A Frente Parlamentar da Agropecuária, composta por quase 300 parlamentares do Congresso Nacional, deseja manter no mais alto nível as relações bilaterais entre Brasil e China, lembrando que declarações isoladas não representam o sentimento da nação ou de qualquer setor”.

Um dos principais líderes da bancada ruralista, Moreira definiu a China como “parceira de longos anos do Brasil”, “com quem temos excelente relação comercial e de amizade”. “Fica aqui também o nosso mais profundo desejo de união para combatermos o novo Coronavírus juntos, sem maiores prejuízos à vida humana e às relações internacionais globais.”

A resposta do ruralista tem uma motivação econômica. No ano passado, o setor exportou US$ 26,6 bilhões em produtos para a China, mais de US$ 20,5 bilhões em produtos vegetais, notadamente grãos. Além de comprar 80% da soja exportada pelo Brasil, o país tem uma participação crescente na aquisição de proteína animal brasileira. Ao todo, a China gastou, em 2019, US$ 65,4 bilhões em produtos brasileiros.

Eduardo Bolsonaro é tido como o mais influente dos filhos do presidente em assuntos de Relações Internacionais, tanto que o presidente chegou a anunciar que o indicaria para o cargo de embaixador nos Estados Unidos. Ele costuma acompanhar o pai em diversas viagens internacionais e participou ao lado do pai de encontros com o presidente norte-americano, Donald Trump.

EMBAIXADOR CHINÊS DIZ TER SIDO AMEAÇADO

O presidente da República Popular da China, Xi Jinping, com Bolsonaro no Itamaraty. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Logo depois das declarações de Eduardo nas redes, a Embaixada da China usou as redes sociais para responder a ele: “Suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos”.

O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming usou suas redes pessoais para reforçar a resposta ao filho do presidente. Ele “repudiou veementemente” as afirmações, e pediu que Eduardo se retratasse. Classificou a postagem como “insulto maléfico” que fere a “relação amistosa” entre os dois países. Wanming chegou a relatar nas redes sociais que teria sofrido ameaças por telefone depois das declarações de Eduardo. Ele retirou em seguida a publicação.

O deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, afirmou que vai pedir informações ao embaixador sobre a ameaça. E, se for o caso, vai pedir ao ministro da Justiça, Sergio Moro, a abertura de uma investigação. Pinato criticou as declarações de Eduardo: “Estamos em meio a uma crise, vamos brigar agora com quem mais ajuda?”

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJA), já havia criticado o que considerou “palavras irrefletidas” do filho do presidente e pediu desculpas ao embaixador: “A atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia. Em nome de meus colegas, reitero os laços de fraternidade entre nossos dois países. Torço para que, em breve, possamos sair da atual crise ainda mais fortes”.

Aliado de Bolsonaro nas eleições de 2018, com a dobradinha BolsoDoria, o governador de São Paulo, o tucano João Doria, destacou o aspecto econômico ao classificar a declaração de Eduardo como “lamentável e irresponsável”. Ele manifestou solidariedade aos chineses na luta contra o coronavírus e pelas vidas perdidas.

“Além do absurdo de minimizar a pandemia e convocar manifestações, ignorando protocolos mundiais de saúde, colocando em risco milhares de vidas, agora ele envergonha os brasileiros com declaração preconceituosa sobre o mais importante parceiro comercial do Brasil”, publicou o governador. Doria tenta descolar sua imagem da de Bolsonaro nos últimos meses.

A família Bolsonaro já tinha feito ataques à China durante a campanha eleitoral, quando acusou o país asiático de querer “comprar o Brasil”. Mas o presidente vem se rendendo ao pragmatismo e busca uma relação amena com o parceiro comercial. Em outubro, ele se reuniu na Ásia com o presidente Xi Jinping, em busca de uma ampliação nos negócios entre os dois países.

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One commentOn Eduardo Bolsonaro ataca parceiro de US$ 26,6 bilhões, a China, e agronegócio reage

  • josé mário ferraz

    Se a economia é a arte de tirar dos pobres para dar aos ricos, o agribiuzinesse é a materialização desta realidade. Das exportações endeusadas pelos papagaios de microfone a serviço dos ricos donos do mundo resulta em destruir a natureza em troca de um dinheiro que em nada beneficiará a sociedade porque tem destino certo: o bolso dos avarentos Reis Midas do mundo. Do mesmo modo como a agiotagem do sistema financeiro correu a vitalidade das finanças dos brasileiros através dos suculentos empréstimos que os governos fizeram com os agiotas do FMI, também o agribiuzinesse corrói a sustentabilidade dos solos e compromete o futuro das gerações vindouras.

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