Indígenas enfrentam assédio por compra de votos e dificuldades para ir às urnas

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Aliados de Bolsonaro tentam enfraquecer a presença indígena no processo eleitoral; caso com maior repercussão ocorreu em Prado, no sul da Bahia, com pressão violenta dos fazendeiros, mas De Olho nos Ruralistas e Apib identificaram outras situações pelo país

Por Leonardo Fuhrmann

Mais do que decidir entre o voto em Lula ou Bolsonaro, povos indígenas estão enfrentando a dificuldade de levar a sua escolha para a urna. A sabotagem ao voto dos povos originários tem sido uma estratégia de políticos aliados do atual presidente na tentativa de viabilizar sua vitória. Os casos aconteceram no primeiro turno e podem se repetir no segundo, o que pode até afetar o resultado de uma disputa que promete ser apertada.

Indígenas no Xingu contam que foram assediados para vender votos. (Foto: Reprodução/Yabaiwa Juruna)

O caso mais emblemático foi em Prado, na Bahia, Líderes indígenas relatam que houve até fechamento de passagens em estradas, para impedir que os indígenas votassem. Segundo reportagem publicada no site da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a eleição em Prado (BA), onde vivem 6  mil indígenas, cidade com maior número proporcional de indígenas da Bahia, teve 27,84% de abstenção.

O povo Pataxó é a principal etnia que mora na região. Integrantes da Primeira Caravana Intercultural Indígena, com pesquisadores e jornalistas, contaram que fazendeiros e pistoleiros chegaram a fazer uma carreata armados para intimidar os indígenas e evitar que eles saíssem da aldeia — e votassem.

A violência também prejudicou o direito a voto dos Avá-Guarani, no oeste do Paraná. Eles vivem um clima de conflitos que se agravou no dia do primeiro turno, com a divulgação de áudios intimidatórios. Temendo represálias, eles acabaram permanecendo nas aldeias, conforme informações da Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

TENTATIVA DE COMPRA DE VOTO NA REGIÃO DO XINGU FOI GRAVADA

No Mato Grosso, os ataques se repetiram. Coordenador da campanha de Lula no estado, o senador Carlos Fávaro (PSD) estimou que pelo menos 1,5 mil indígenas foram impedidos de votar no estado. A polícia investiga a tentativa de um secretário da prefeitura de Marcelândia de comprar os votos dos indígenas na região do Xingu. Entre  outros, o objetivo era beneficiar o governador Mauro Mendes (UB), reeleito no primeiro turno, e Bolsonaro.

A Apib divulgou uma nota em que afirma que os casos divulgados pela organização não foram isolados. Em Guajará-Mirim, os povos Wari, Canoé, Oro Mon e Jabuti, que vivem em alta vulnerabilidade, não conseguiram transporte para ir votar. Os povos indígenas que conseguiram comparecer às seções, segundo a nota, foram cooptados a votar no candidato que cedeu o transporte para eles.

Um alto percentual do povo Xerente, de Tocantínia (TO), também ficou sem votar por causa da falta de meio de locomoção. Ainda no Tocantins, a prefeita de Itacajá, Maria Aparecida Lima Rocha Costa, foi acusada de dificultar o transporte para os indígenas votarem. Ela é apoiadora de Bolsonaro.

No Amazonas, o povo Yanomâmi conseguiu sair para votar. Mas 400 deles não conseguiram voltar para casa em razão da falta de combustível para as embarcações.

Foto principal (SSP/BA): aldeia Pataxó tem sido vítima de violência de fazendeiros, e não foi diferente no primeiro turno

| Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas. |

|| Colaborou Alceu Luís Castilho, diretor de redação do observatório. ||

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