Pesticidas: gigante agroalimentar Triskalia acusada por funcionários com câncer

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(Foto: Pieter von Marion CC)

Dois trabalhadores de um armazém de produtos fitossanitários, pertencente à gigante agroalimentar britânica Triskalia, testemunharam publicamente no dia 9, na França, sobre doenças adquiridas no trabalho

Contratado em 1973 pela Coopagri Bretagne, cuja fusão com outras cooperativas originou a Triskalia, Raymond Pouliguem tem hoje 69 anos. Ele está com leucemia, diagnosticada em 1999. Durante dez anos, ele descarregou caminhões que transportavam inseticidas, herbicidas e fungicidas. “A administração não tomava nenhuma medida de segurança”, lembra-se. “Nada de luvas, máscara ou vestiário, tudo feito no armazém de estocagem, mesmo o café era tomado no local, sem chuveiros, apenas lavabos, nenhuma ventilação. Esse armazém pequeno demais estava sempre sobrecarregado com mercadorias nos corredores. Às vezes caíam pilhas inteiras de produtos. Claro que tudo vazava, e toda embalagem furada era recondicionada”. Tempos depois, com outros colegas,  ele foi encarregado de queimar produtos danificados, invendáveis. A incineração ocorria “no aterro ao norte do armazém”. Alguns líquidos eram derramados no chão.

Pai e filho com câncer

A construção de um novo armazém, em 1984, não alterou as condições de trabalho: “Muitos produtos armazenados nos corredores vazavam, os líquidos derramados e dispersos. A limpeza e o varrimento do armazém inexistiam durante boa parte do ano, ou simplesmente se limitavam às regiões acessíveis. A não ser durante as visitas programadas”, relata Raymond Pouliguen.

Seu filho Noël Pouliguen, de 49 anos, foi igualmente diagnosticado com linfoma – um tipo de câncer – em agosto de 2015, 26 anos após ter começado a trabalhar na Coopagri. Ele também esvaziou caminhões de pesticidas e embalagens usadas. “Interrompíamos o preparo dos pedidos para descarregar os caminhões. Isso gerava muito trabalho durante o dia. Então tínhamos de retirar as caixas furadas e os produtos tóxicos com uma pá e uma vassoura, depois levá-las a outra embalagem que era queimada ao lado do armazém, ao chão, com os resíduos de plástico e papelão. As latas com líquido eram esvaziadas com rodos“.

Cinco entre dez funcionários morreram antes dos 70, cinco ficaram doentes

Noël tentou alertar a administração. Quando ele manipulava as embalagens usadas, teve – assim como muitos de seus colegas – inflamação nas pernas, irritação da face, garganta e brônquios, dores de cabeça e sangramento do nariz. “Não há nada de perigoso”, diziam a eles os responsáveis. Depois de várias queixas apoiadas pelo comitê de saúde, segurança e condições de trabalho, o setor de medicina do trabalho interveio para alertar os trabalhadores sobre os riscos dos produtos. Mas o recolhimento de embalagens contaminadas continuou. “Não queríamos recolher, mas todos tinham medo de demissão”, diz Noël. Procurada para falar sobre as condições de trabalho, a direção da Triskalia não respondeu.

Noël e Raymond não parecem não ser os únicos afetados. “Conheço outros na empresa que tiveram graves problemas de saúde”, afirma Noël Pouliguen. Segundo associações e grupos que apoiam os dois funcionários da Triskalia-Glomel, cinco dos dez funcionários mais afetados pelo armazenamento de pesticidas morreram antes dos 70 anos (quatro deles de câncer), quatro estão com câncer grave e outro está com doença crônica. “A maioria dos familiares, pais e mulheres das vítimas, não quer mover processos”, diz Noël. Ele chegou a negar o reconhecimento de que seu câncer tem origem profissional. Mas, ao falar publicamente, espera quebrar o pacto de silêncio.

(Tradução: Alceu Luís Castilho)

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