Informação consta de relatórios da organização guardados por décadas, revelou o repórter Jamil Chade à Agência Pública; etnia foi vítima de madeireiros, mineradores e outros invasores
Trabalhar por um punhado de arroz. Assim era a vida dos Nambiquara em Vilhena (RO), em 1970, conforme relatórios feitos pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha entre 1965 e 1975. Os documentos ficaram parados em Genebra, nas últimas décadas, e foram revelados nesta segunda-feira (24/10) pelo repórter Jamil Chade, em texto veiculado na Agência Pública: “Documentos da Cruz Vermelha revelam massacre de indígenas na ditadura“.
“Todos são obrigados a trabalhar para o fazendeiro, uma espécie de chefe local que os mantinha mais ou menos em um estado de completa dependência, dando algum arroz de tempos em tempos e ocasionalmente alguma roupa”, informou o relatório da Cruz Vermelha, após visita à região. “As mulheres não querem engravidar, pois temem perder os filhos diante do trabalho duro que tem de fazer e do temor de não poder cuidar. O resultado eram abortos frequentes e, portanto, um estagnação na população da aldeia”.
Não é mencionado o nome do fazendeiro.
Apesar da importância histórica, a reportagem de Jamil Chade ficou parada durante seis meses no Estadão, jornal onde ele trabalha, como correspondente em Genebra. Até que decidiu veiculá-la na Agência Pública. O texto traz informações sobre a miséria e as doenças que deixavam vários povos da Amazônia “à beira do extermínio”, nos anos 60 e 70.
HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA
Em relatório feito em 2010 para a Fundação Nacional do Índio, a antropóloga Siglia Zambrotti Doria estimou em 5,5 milhões de hectares a área original ocupada pelos Nambiquara. A história desse povo, diz ela, foi marcada pela violência dos “civilizados”, como seringalistas, jesuítas e fazendeiros.
A população atual da etnia é de 2.332 pessoas, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena. Eles vivem em Rondônia e no Mato Grosso.
Segundo a antropóloga, a mineradora de ouro Santa Elina dizia ter 8.607 hectares na Terra Indígena Paukalirajausu, ocupada também, desde os anos 90, pelo madeireiro Sebastião Brinsky e pela família Bosok, entre outros. Em 2007, a população de Nambiquara nessa área era de 121 pessoas.
A Santa Elina pertence desde 2003 à canadense Yamana Gold.