Idec e Campanha Contra Agrotóxicos repudiam relatório da Anvisa

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Organizações dizem que relatório da agência ignora risco das doenças que aparecem ao longo de anos de exposição e quer ocultar os problemas causados pelos venenos

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) manifestaram-se contra o relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que apresenta os resultados  do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) de 2013 a 2015. Entre outros problemas apresentados pelo relatório está o fato de ignorar, em suas análises, as substâncias mais presentes (56%) nos agrotóxicos que consumimos no Brasil, o glifosato e o 2,4-D.

A Campanha, que já vem denunciando a atuação da Anvisa por atender a interesses empresariais, lançou nota em repúdio ao relatório, o qual afirma que “apenas” 1% dos alimentos representa risco agudo à saúde, isto é, de intoxicação em 24 horas, enquanto 42% das amostras estão limpas – e recomenda que se lave o alimento “com água corrente e bucha ou escovinha” para reduzir a quantidade de veneno.

“Será possível?”, pergunta a organização. “Este relatório apresenta uma clara tentativa de ocultar os problemas causados pelos agrotóxicos no Brasil. Afirmar a lavagem de  alimentos como possível solução é um perigo para a sociedade, e demonstra um gravíssimo retrocesso no Para e na Anvisa. A quase totalidade dos agrotóxicos possui ação sistêmica, ou seja, opera ‘por dentro’ e não na superfície dos vegetais.”

A Campanha afirma também que a conclusão de que apenas 1% dos alimentos analisados representa risco agudo à saúde oculta o risco maior, o das doenças crônicas: como câncer, depressão, doença celíaca  e outras que aparecem ao longo de anos de exposição. Além de desconsiderar os riscos da exposição a vários tipos de veneno, que grande parte das amostras apresenta.

A nota repudia ainda a conclusão de que significa “segurança alimentar aceitável” o fato de uma em cada cem amostras apresentar risco de causar intoxicação aguda – que considera gravíssima. E o fato de a Anvisa ignorar os agrotóxicos contrabandeados, estimados em 20%.

O Idec destacou o incrível número de agrotóxicos diferentes num mesmo alimento – 88 tipos nas amostras de pimentão, 78 nas de abobrinha e 72 nas de uva, por exemplo – muitos deles não permitidos para esses cultivos. “Em todos os alimentos foram encontradas essas substâncias não autorizadas”, diz o instituto. “O agrotóxico mais utilizado indevidamente foi o acefato, encontrado em 18 dos 25 alimentos testados. A própria Anvisa afirmou em 2009 que essa substância possui acentuada neurotoxicidade e que há suspeitas de que seja cancerígena, tanto que é proibida em vários países”.

O pimentão lidera a lista de problemas com 89% das amostras irregulares (agrotóxicos acima do limite permitido e/ou proibido para essa cultura). Depois vêm a abobrinha, com 78% (em 2012 eram 48%), e a uva, com 75% (em 2012 eram 29%). No caso da presença de resíduos de agrotóxicos acima do Limite Máximo de Resíduos o morango é o “campeão”. Em seguida vêm o abacaxi e a uva.

“Seguiremos atentos e denunciando que é o modelo do agronegócio que torna nossa agricultura insustentável e quimicamente dependente. Seguimos afirmando a agroecologia como única forma de produção de alimentos saudáveis para o Brasil e mundo”, afirma a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos. “Essa orientação para higienização dos alimentos pode causar ao consumidor uma falsa impressão de segurança”, alerta o Idec. “Além disso, sentimos falta da recomendação do consumo de alimentos orgânicos, como já foi feito anteriormente”.

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