Antes do massacre, deputado federal chamou povo Gamela de “pseudoindígenas”

In De Olho nos Conflitos, Em destaque, Povos Indígenas, Principal, Últimas

Em entrevista a uma rádio maranhense, Aluisio Mendes Filho disse que haveria uma tragédia e que avisou o ministro da Justiça, Osmar Serraglio

Massacre com repercussão internacional, o ataque ao povo Gamela no Maranhão, no domingo, foi antecedido da fala intolerante de um deputado federal a uma rádio.  O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) contou no mesmo dia que o deputado Aluísio Guimarães Mendes Filho (PTN-MA) – que foi guarda-costas de José Sarney quando ele era presidente do Senado – deu entrevista contra os Gamela na sexta-feira. Ele chamou os Gamela de “pseudoindígenas”.

Dezenas de jagunços atacaram os indígenas com facões, paus e armas de fogo no povoado de Bahias, no município de Viana (MA). Uma das vítimas teve as mãos cortadas com facão. Saiba mais sobre o ataque aos Gamela aqui: “Ataque a tiros e facadas fere cerca de uma dezena de indígenas Gamela e deixa três baleados“.

Aluísio Mendes foi guarda-costas do presidente José Sarney e secretário de Estado de Segurança Pública no Maranhão durante a gestão de Roseana Sarney. Ele começa a entrevista após o apresentador insistir que os Gamela são pessoas “que se passam por índios”. Mendes previu uma tragédia e disse que iria responsabilizar todas as autoridades que se omitiram. Referindo-se, principalmente, à Fundação Nacional do Índio (Funai), que seria, segundo o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, um órgão “inoperante”.

A entrevista na íntegra, divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pode ser ouvida aqui, após o décimo minuto:

O deputado disse que avisou Serraglio – antigo colega da bancada ruralista – que haveria uma tragédia. Durante a entrevista, ele conta que expôs ao ministro uma situação “gravíssima”: a Companhia Energética do Maranhão pretende passar uma linha sobre a área indígena, “com tudo pronto, todas as licenças ambientais concedidas, e esse grupo de pessoas que se dizem proprietárias da área indígena estão evitando e vão prejudicar mais de 600 mil pessoas”.

Aluísio Mendes contou que iria à região no sábado com uma equipe da Polícia Federal. É nesse momento que ele chama os Gamela de “pseudoindígenas”. De Olho nos Ruralistas não identificou o deputado chamando os indígenas de arruaceiros, como foi divulgado – a palavra “arruaça” aparece antes, na fala de um morador da região. Outro fala em “vandalismo”, sem ser contestado pelo parlamentar.

Aluísio Mendes foi secretário de Segurança do Maranhão. (Foto: Divulgação)

Mendes encerra a entrevista pedindo que o povo não aja com violência, pois o conflito seria resolvido de forma pacífica e ordeira. Mas diz que a população “ordeira e trabalhadora” da região estava sendo “ameaçada” pelos indígenas.

Eleito pela primeira vez em 2014, pelo PSDC, o mineiro Aluísio Mendes declarou possuir R$ 2 milhões em bens. Ele informava ser servidor público federal – era agente da Polícia Federal. Dono de duas casas e três apartamentos, não tinha nenhum bem rural. Foi da base política da presidente Dilma Rousseff e, no ano passado, votou contra o impeachment. Ele apoiou também os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2014, o UOL informava que Mendes, como secretário de Segurança, “comandou a arapongagem” no Maranhão.

SARNEY FILHO REPUDIA VIOLÊNCIA

O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, emitiu uma nota nesta segunda-feira, cobrando informações do Ministério da Justiça sobre o caso e pedindo a punição dos responsáveis: “Toda vida é preciosa e merece o mais absoluto respeito, por isso minha repulsa por qualquer ato de violência”.

You may also read!

Prefeito de Eldorado do Sul terraplanou terreno em APA às margens do Rio Jacuí

Empresa em nome de sua família foi investigada pelo Ministério Público após aterrar área de "banhado" da Área de

Read More...

Expulsão de camponeses por Arthur Lira engorda lista da violência no campo em 2023

Fazendeiros e Estado foram os maiores responsáveis por conflitos do campo no ano passado; despejo em Quipapá (PE) compõe

Read More...

Estudo identifica pelo menos três mortes ao ano provocadas por agrotóxicos em Goiás

Pesquisadores da Universidade de Rio Verde identificaram 2.938 casos de intoxicação entre 2012 e 2022, que causaram câncer e

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu