Executivo da JBS nos EUA recebe 450 vezes mais que os trabalhadores

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Funcionários da Pilgrim’s não têm tempo de ir ao banheiro; empresa de frango controlada pelos brasileiros é uma das 12 que mais violam direitos trabalhistas no país

Por Alceu Luís Castilho

Além de liderar o mercado de carne bovina nos Estados Unidos, o grupo JBS controla a Pilgrim’s Pride, uma das quatro maiores empresas americanas de abate de aves, com 70% das ações. Um relatório chamado “Dirty Dozen 2017“, divulgado em abril, coloca a empresa com sede no Colorado como uma das 12 que mais violam direitos trabalhistas no país. Segundo Alexandre Galimbert, da Oxfam EUA, os funcionários da empresa não têm tempo nem de ir ao banheiro.

As informações foram dadas por Galimbert em São Paulo, nesta quinta-feira (22/06), durante o seminário Empresas e Investimentos Brasileiros no Exterior, promovido pela Oxfam Brasil e pela Fase. As empresas mais mencionadas foram as de soja e carne. No caso da JBS, 50% de seu faturamento ocorre nos Estados Unidos; apenas 15% no Brasil. A Oxfam é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos, entre eles os trabalhistas.

Em sua exposição, Galimbert mostrou que o CEO da Pilgrim’s ganha US$ 9 milhões por ano, 450 vezes mais que a média dos trabalhadores da empresa, de US$ 20 mil anuais. Não há contrapartida em termos de segurança: em 2015 a Oxfam mostrou que funcionários das processadoras de frango têm mais doenças e acidentes que a média dos trabalhadores americanos.

A JBS comprou a Pilgrim’s em 2009. Wesley Batista deixou no dia 15 a presidência do conselho administrativo da empresa, a segunda maior do setor nos Estados Unidos. Seu irmão Joesley também deixou o conselho. Os irmãos protagonizam uma das maiores delações sobre corrupção da história do Brasil, em acordo com o Ministério Público Federal que prevê uma multa de R$ 10,3 bilhões.

MORTE, ACIDENTES E VAZAMENTO

O relatório “Dirty Dozen 2017” conta que, em 2012, um funcionário da Pilgrim’s morreu esmagado em um acidente evitável, na Georgia. A agência estadunidense do Departamento do Trabalho, a Osha, recomendou uma multa de US$ 58 mil. A lista das 12 empresas que mais violam trabalhistas foi divulgada em abril pelo National Council for Occupation Safety and Health, ou Conselho Nacional pela Saúde e Segurança no Trabalho.

Trabalhadores pedem melhores condições na indústria do frango. (Fotos: Oxfam America)

A empresa controlada pela JBS foi citada três vezes pela Osha, em 2016, por graves violações de regras de segurança. Em março desse ano, propôs uma multa de US$ 77 mil pela perda de três dedos de um trabalhador. A máquina começou a funcionar enquanto ele a consertava. No mesmo mês a Osha recomendou indenização de US$ 122 mil pelo vazamento de amônia numa fábrica no Texas.

Em julho de 2016 foi a vez do Arkansas. Nesse caso a agência pediu multa de US$ 78 mil à Pilgrim’s Pride por expor os trabalhadores ao risco de amputação e por não oferecer tratamento médico adequado a funcionários que relataram acidentes. Segundo a Oxfam, foi a primeira vez que uma produtora de frango foi citada por não encaminhar prontamente os trabalhadores aos médicos.

Mesmo assim, a indústria americana do frango pressiona por mais velocidade na linha de produção. Segundo o representante da Oxfam EUA, o Congresso americano deve votar em breve essa autorização. Os lobbistas alegam que a velocidade é praticada em outros países, entre eles os da América do Sul.

LISTAS DE DOZE PIORES

“Dirty Dozen” significa, literalmente, As Doze Sujas. É uma referência ao filme de Robert Aldrich com esse nome, no Brasil “Os Doze Condenados”, de 1967. (Em Portugal a obra ganhou o nome de “Os 12 Indomáveis Patifes”.) Não são incomuns listas de doze piores nos Estados Unidos. Uma delas, por exemplo, traz os 12 produtos com mais agrotóxicos.

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