“O agronegócio mata”, dizem em Belo Horizonte procuradores do MPF e do MPT

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Pedro Serafim, do MPT. (Foto: Terra de Direitos)

Em falas durante IV Encontro Nacional de Agroecologia, Felício Pontes e Pedro Serafim identificam apropriação das referências dos pequenos pelos comerciais “agro é pop”

Por Alceu Luís Castilho*

“O discurso hegemônico está dizendo que o agro é pop, é tech, é tudo”, iniciou o procurador Felício Pontes Júnior, do Ministério Público Federal no Pará. “O agro mata”, emendou o colega Pedro Serafim de Souza Filho, do Ministério Público do Trabalho. “Podemos concordar em parte desde que seja o agro da ecologia”, continuou Pontes, durante seminário no IV Encontro Nacional de Agroecologia, em Belo Horizonte, no sábado (02/06).

O procurador no Pará considera calculado o discurso – nos comerciais veiculados pela Rede Globo – que mistura protagonistas do agronegócio com camponeses. “Não é aleatório”, afirmou. “Há um plano para que isso aconteça. O mesmo agro que faz propaganda da soja faz propaganda do queijo orgânico na Serra da Canastra”. Por um lado, do dendê – exploração pelos grandes. Por outro, de uma produção do coco feita tradicionalmente pelos indígenas.

“Todos os dias tem propaganda em nossas casas, como se fôssemos ignorantes”, disse Pontes a um público formado principalmente por camponeses e defensores de direitos humanos, com alguns indígenas presentes. “Como se a produção de soja no Mato Grosso fosse igual ao extrativismo na Amazônia”.

Ele prosseguiu:

– O grande desafio é mostrar à população que não é assim. Não é fácil dizer que o agrotóxico mata. Quem vai abrir as portas, em um canal grande de comunicação, para a gente falar isso?

Pouco depois, Pedro Serafim – um dos seis procuradores presentes na tenda montada no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, na capital mineira – aproveitou a deixa. Começou citando o trecho de uma música:

O galo cantou
com os passarinhos no esplendor da manhã
agradeço a deus por ver o dia raiar
o sino da igrejinha vem anunciar
preparo o café, pego a viola, parceira de fé
caminho da roça, e semear o grão…
saciar a fome com a plantação
é a lida…

É o trecho do samba-enredo da Vila Isabel em 2013, no Rio, em homenagem ao agronegócio. Serafim deu o exemplo para continuar a falar de apropriação. “A música foi feita a partir de um escritório da Basf”, disse o procurador, referindo-se ao patrocínio da gigante mundial dos agrotóxicos – utilizados também nas câmaras de gás durante o regime nazista.

DELFINO DEFENDE GT DE AGROECOLOGIA

Marco Antônio Delfino, do MPF. (Foto: Verena Glass)

Procurador do Ministério Público Federal em Dourados (MS), Marco Antônio Delfino de Almeida utilizou uma de suas falas para sugerir a criação de um grupo de trabalho de agroecologia no MPF, transversal às diversas câmaras temáticas da instituição. Uma delas, por exemplo, trata de povos indígenas e tradicionais; outra, de meio ambiente. Houve concordância unânime entre os presentes.

Já adotada em temas como o Cerrado e os grandes empreendimentos, a sugestão foi configurada como uma proposição formal do Encontro Nacional de Agroecologia, a ser submetida ao Conselho Superior do MPF. A mediadora do seminário, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), definiu a proposta como um dos principais encaminhamentos do encontro.

“O direito não foi feito para proteger as populações tradicionais”, afirmou Delfino, muito atuante nos conflitos no Mato Grosso do Sul entre fazendeiros e povos indígenas, um dos maiores da América Latina. Ele também sugeriu que sejam feitos esforços para que o pagamento de ICMS ecológico por empresas seja destinado à agroecologia, e não somente para plantar árvores e coletar resíduos, como de hábito.

* O editor viajou a convite da Articulação Nacional de Agroecologia.

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