Agentes vasculharam a casa de candidato à reeleição e a sede do governo; seu filho foi preso; deputado estadual Zé Teixeira (DEM), o mais rico na Assembleia, é investigado na ação
Por Igor Carvalho e Luís Indriunas
Alvo da Operação Vostok, da Polícia Federal, na manhã desta quarta-feira (12), o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), tem uma fortuna de R$ 39 milhões, que conta com 2,7 mil hectares de terra, além de uma dezena de bens como tratores, colheitadeira, pulverizador, um pesqueiro e 2.340 cabeças de boi. Apenas em fazendas e suas benfeitorias somam R$ 25,4 milhões, segundo os dados de 2014. Entre todos os bens ligados ao agronegócio, ele tem R$ 35,2 milhões. E sua fortuna não para de crescer.
De 2006, quando era candidato a deputado federal, até 2018, o patrimônio de Azambuja praticamente dobrou. Para ser exato, saiu de R$ 20.221.019,35 para R$ 38.698.697,47, aumento de 91,4%, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Importante aliado do agronegócio no Mato Grosso do Sul, Azambuja tenta a reeleição ao governo e lidera a corrida eleitoral com 39%, de acordo com a última pesquisa Ibope, divulgada em 24 de agosto.
Com um mandado de busca e apreensão, os agentes federais vasculharam a casa do tucano e a sede do governo estadual. Candidato à reeleição, Azambuja é acusado de participar de um esquema de redução ilegal de impostos, que teria sido estimulado por um esquema de propina.
Rodrigo Silva, filho de Azambuja, foi preso durante a operação. O deputado estadual Zé Teixeira (DEM) e Márcio Monteiro, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, também foram alvos da operação.
A ação desta quarta-feira é um braço da Operação Lama Asfáltica. Ela investiga o desvio de verbas federais que deveriam ter sido utilizadas em pavimentações de rodovias. Delações feitas por diretores da J&F – a holding da JBS – fizeram a Polícia Federal desencadear uma nova investigação que chegou até Azambuja.
O esquema garantia liberação de impostos a partir da emissão de notas frias. O nome da operação Vostok é uma alusão à estação russa na Antártica, lugar de baixas temperaturas.
Oficialmente, apenas na campanha de 2014, Azambuja recebeu R$ 10,7 milhões do grupo dos irmãos Wesley e Joesley Batista.
Em decorrência da Operação Lama Asfáltica, o ex-governador André Puccinelli (MDB) e seu filho, André Puccinelli Júnior, foram presos em agosto, acusados de desviar R$ 235 milhões em obras com verbas da União e por ter recebido R$ 20 milhões em propina.
DEPUTADO TEM TERRAS EM ÁREA INDÍGENA
O deputado estadual Zé Teixeira, que tenta o sétimo mandato, é o mais rico parlamentar na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, com R$ 15,9 milhões em patrimônio. São 6.183 hectares em nove propriedades rurais somando R$ 10,9 milhões. Há muitos anos no Estado, Zé Teixeira tem um histórico de conflitos com povos tradicionais.
Entre as suas propriedades está a Fazenda Santa Claudina, de 4,4 mil hectares, que foi ocupada por 40 famílias Guarani Kaiowá, em 2013, após parte da área ter sido declarada Terra Indígena Guyraruká, quatro anos antes. Muito antes da retomada, em 2000, quando os indígenas ainda acampavam na beira da estrada, um bebê foi morto por disparos vindos de dentro da propriedade, segundo o Ministério Público Federal.
VEM AÍ O ‘DE OLHO NO MATO GROSSO DO SUL’
O deputado Zé Teixeira e o governador Azambuja são alguns dos políticos que o De Olho nos Ruralistas irá apresentar detalhadamente na série De Olho no Mato Grosso do Sul. Ela terá dezenas de reportagens – com mapas e vídeos – sobre a questão fundiária no estado e a violência contra a população indígena.