Com mortes por coronavírus em seis estados, quilombolas ainda não registram nenhuma cura

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Distribuição de álcool-gel no quilombo de Custodópolis, em Campos dos Goytacazes (RJ). (Foto: Reprodução)

Quilombos têm ainda 37 pessoas em tratamento e 36 em observação; para a Conaq, uma articuladora nacional das comunidades, alta taxa de letalidade está relacionada à dificuldade de acesso a médicos e exames

Por Leonardo Fuhrmann

As comunidades quilombolas registram treze mortes por coronavírus em seis estados e uma morte suspeita ainda sem confirmação da causa, segundo um boletim elaborado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) que será divulgado neste domingo (03). Mais preocupante do que o número de mortes é que ainda não há um caso sequer de cura entre eles.

Atualmente, são 37 casos confirmados em tratamento e 36 casos suspeitos em observação. A direção da Conaq aponta como motivos para a alta taxa de letalidade as dificuldades de acesso a médicos e exames. “Geralmente, temos conseguido atendimento quando as pessoas estão em um estágio bastante avançado da doença, em que a cura fica mais difícil”, afirma Selma Dealdina.

A preocupação é que a pandemia torne ainda mais grave a situação dentro das comunidades, que já sofrem com a falta de alimentos e a dificuldade de acesso à água. A situação também torna mais difíceis as medidas de prevenção contra a Covid-19. “O vírus pode até ser democrático na contaminação, mas a cura é seletiva”, diz. “E não é para os negros”.

São quatro óbitos no Amapá, três no Pará, dois em Pernambuco e em Goiás, um no Rio de Janeiro e outro na Bahia. A morte sem causa confirmada foi registrada na Bahia. Há casos de contaminação também no Maranhão.

Apenas em Goiás as mortes são de moradores do mesmo quilombo. Ou seja, o vírus já atingiu onze comunidades. A vítima fatal mais jovem é do Rio de Janeiro e tinha 25 anos. O mais velho era de Goiás, e estava com 74 anos.

No boletim divulgado em 22 de abril, a Conaq havia registrado seis mortes, além de outros sete casos confirmados de Covid-19 e outros 29 que estão sendo monitorados por suspeita de contaminação.

Arte: Thiko/Marco Zero Conteúdo

A maior letalidade entre os negros já foi constatada nos grandes centros urbanos. No município de São Paulo, segundo dados divulgados na semana passada, os pretos têm uma chance 62% maior de morrer por Covid-19 do que os brancos. Os pardos têm 23% mais risco. O levantamento foi feito a partir da análise científica das mortes registradas na cidade até 17 de abril. O estudo foi desenvolvido pelos cientistas do Observatório Covid-19, em parceira com a Prefeitura de São Paulo.

As condições socioeconômicas e doenças relacionadas à pobreza são apontadas como principal fator da concentração racial das mortes. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde na segunda semana de abril também indicavam uma mortalidade maior pelo coronavírus entre pretos.

FRENTE NA CÂMARA PEDE MEDIDAS ‘URGENTÍSSIMAS’

Coordenada pelo deputado Bira do Pindaré (PSB-MA), a Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Quilombolas apresentou um projeto de lei (PL 2.160/20) que prevê, conforme texto divulgado pela Câmara, “auxílio emergencial de um salário mínimo mensal por família, medidas restritivas de circulação nas comunidades, ampliação emergencial do apoio por profissionais de saúde e garantia de testagem rápida, entre outros pontos”.

As medidas foram apontadas à Agência Câmara de Notícias como “urgentíssimas”. O texto observa que leitos de UTI só são encontrados em alguns municípios médios. E, pelo processo de formação dos quilombos, a maioria deles se encontra em lugares distantes.

Segundo a Conaq, integrantes de diferentes comunidades relataram dificuldade de acesso à renda básica emergencial, especialmente no que toca à acessibilidade dos procedimentos de cadastramento via aplicativo e à falta de ações dos governos estaduais e municipais no sentido de atender demandas emergenciais dos quilombos.

Muitas comunidades estão reforçando o isolamento, principalmente as de maior interesse turístico, como em Paraty (RJ), Jalapão (TO), Vale do Ribeira (SP) e no Território Kalunga, que tiveram suas entradas cercadas. Além da pandemia, o temor é de aumento dos conflitos agrários, como tem acontecido com os indígenas.

Foto principal (prefeitura de Campos): distribuição de álcool-gel no quilombo de Custodópolis

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