PMs e fazendeiros presos participavam de caça ilegal no Paraná, diz Gaeco

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Nomes de usineiro e de dois proprietários de terra não foram divulgados; Ministério Público suspeita que eles pagavam propina aos agentes para garantir reforço na segurança das fazendas e ‘vistas grossas’ na fiscalização de irregularidades

Por Mariana Franco Ramos

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público do Paraná (MPPR), prendeu nesta quarta-feira (15) dois policiais militares e três empresários, sendo dois deles proprietários de terras na região do Norte Pioneiro e um dono de usina de álcool, por suspeita de peculato e crime ambiental.

MP encontrou mais de R$ 160 mil com um dos investigados (Foto: Divulgação/MPPR)

De acordo com o promotor Jorge Fernando Barreto da Costa, coordenador do Gaeco em Londrina, as prisões são temporárias, ou seja, válidas por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. A ação aconteceu em São Sebastião da Amoreira, município de menos de 9 mil habitantes, próximo a Assaí, com o apoio da Corregedoria da Polícia Militar (PM). Os nomes dos investigados não foram divulgados.

Segundo Costa, as identidades foram preservadas para “evitar qualquer situação que leve ao insucesso da medida”, uma vez que equipes ainda estavam em campo para cumprir doze mandados de busca e apreensão. Ele informou apenas que os agentes, um segundo sargento da reserva e outro da ativa, integram a Força Verde, antiga Polícia Florestal, e estavam lotados em um posto da Polícia Ambiental na Rodovia PR-218.

As investigações indicam que eles vinham recebendo propina para garantir a segurança das propriedades e, eventualmente, permitir infrações ao meio ambiente. O Gaeco encontrou documentos, armas, munição, objetos de caça, equipamentos eletrônicos e cerca de R$ 160 mil em dinheiro na casa de um dos empresários.

A suspeita é de que os policiais se omitiram de fiscalizar a caça de animais silvestres no interior de uma das fazendas e até mesmo teriam participado de caça ilegal. “Há uma série de fatos objeto da investigação, um deles justamente esse acordo espúrio”, conta o promotor, completando que o pagamento aos policiais incluía “olhar com vistas grossas ou não olhar” a prática de crimes ambientais.

POSTO POLICIAL FICAVA EM FAZENDA

Gaeco apreendeu armas e objetos de caça (Foto: Divulgação/MPPR)

O Gaeco investiga, ainda, denúncia de peculato, que é o desvio de dinheiro público em benefício próprio, referente à apropriação de doações de combustíveis e demais materiais destinados à corporação. O grupo diz que o Posto da Polícia Ambiental foi construído em meados de 2015, ao lado da guarita de entrada da fazenda de um dos presos, “às expensas dos proprietários do local e de terras vizinhas”. De acordo com a PM, a construção data de 2010 e o ponto foi escolhido por ser “estratégico” para atender a região.

Os proprietários rurais foram levados ao Centro de Triagem de Londrina, para posterior encaminhamento a uma penitenciária, e os policiais devem ficar no 5º Batalhão da PM, até que sejam transferidos para Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. “Há a notícia de que um deles está no grupo de risco para a Covid-19, em razão da idade e de problemas de saúde, e outro apresenta sintomas”, explica o promotor. “Vão ficar obviamente em quarentena, aguardando a investigação final”.

O coordenador do Gaeco conta que, a partir de agora, vai analisar o material apreendido e ouvir as diversas testemunhas. Na sequência, deve chamar os presos, para que eles tenham oportunidade de apresentar suas versões dos fatos:

— Existem outras pessoas sendo investigadas. Se for necessário e conveniente para instrução ou produção de prova, com certeza o Ministério Público vai requerer a decretação dessas prisões.

Em nota, a PM informa que instaurou um inquérito para investigar o envolvimento de seus agentes. “O encarregado do documento chegou à conclusão de que os policiais militares tinham relação com os fatos”. A corporação acrescenta que disponibilizou toda a documentação necessária cabível à situação e que o inquérito foi concluído e encaminhado à Vara de Auditoria da Justiça Militar Estadual (VAJME). “Após isso, com base nos levantamentos feitos pela PM, foi decretada a prisão dos policiais”.

Mariana Franco Ramos é repórter do De Olho nos Ruralistas |

Foto principal (Divulgação/PMPR): Força Verde tem a função de coibir ações que representem ameaças ou depredações da natureza

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