Membro de família de desmatadores na Amazônia sugere Secretaria do Ambiente em Minas

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Fabinho Gardingo é candidato em Matipó, na região atingida pelo rompimento da barragem da Samarco, e tenta voltar à prefeitura; no Amazonas, pai e tios são acusados de desmatamento, exploração de trabalho escravo e formação de milícia

Por Leonardo Fuhrmann

Fábio Henrique Gardingo, 41 anos, tenta se eleger pela terceira vez prefeito de Matipó, pequeno município com menos de 20 mil habitantes na Zona da Mata, em Minas Gerais, cuja principal atividade é a produção de café. Abastecido pela bacia do Rio Doce, atingido pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 2015. O município convive com simulações de rompimento de outra barragem mais próxima, da mesma empresa.

Matipó, em Minas: clã de políticos opera na Amazônia. (Foto: Reprodução)

Candidato pelo Cidadania, Fabinho, como é mais conhecido em Matipó, anuncia como uma de suas propostas a criação de uma Secretaria de Meio Ambiente para mitigar esses problemas.

A quase 4 mil quilômetros dali, os municípios amazonenses de Lábrea e Boca do Acre, no Amazonas, convivem com outro desastre ambiental: a destruição da Floresta Amazônica. Os dois fazem parte do chamado Arco do Desmatamento, um conjunto de municípios que concentra os principais casos de destruição da vegetação. De Olho nos Ruralistas falou sobre essa região em reportagem publicada no El País: “Políticos avançam com terras e multas nos municípios que mais desmatam“.

Os Gardingo estão entre os principais acusados pelo desmatamento no Sul e Sudeste do Amazonas, além de serem citados em outros crimes na região, como exploração de trabalho escravo e uso de milícias para a apropriação de terras públicas e de pequenos posseiros. O principal nome ligado ao desmatamento é o de Sebastião Gardingo, o Tãozinho, 73 anos, tio de Fabinho e também ex-prefeito de Matipó.

FISCALIZAÇÃO ENCONTRA TRABALHO ESCRAVO EM DUAS FAZENDAS

Na eleição de 2016, quando foi candidato derrotado a prefeito, após dois mandatos seguidos do sobrinho, Tãozinho declarou ser dono de mais de vinte propriedades em Lábrea e Boca do Acre. Ele recebeu seis multas do Ibama por desmatamento em Boca do Acre no valor de R$ 2.075.176,00 em 2004. Irmã de Tãozinho e tia de Fabinho, Esperança Gardingo Muratori Carvalho foi multada pelo Ibama em R$ 1.145.000,00 por desmatamento em Lábrea, em 2019.

A família é acusada de explorar trabalho escravo na região. Tãozinho e Antônio Fábio, pai de Fabinho, já estiveram na lista suja do trabalho escravo. Em julho de 2011, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Amazonas (SRTE/AM), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) encontraram 42 trabalhadores em regime de escravidão — entre eles, seis adolescentes — Fazendas Santa Terezinha do Monte, de Antônio Fábio, e Fazenda Simonike e Kero Kero, de Tãozinho.

EX-PREFEITO, TIO É ACUSADO DE FORMAR MILÍCIA

Tãozinho foi alvo, no ano passado, da Operação Ojuara, da Força-Tarefa Amazônia de Combate ao Desmatamento Ilegal, Grilagem e Violência Agrária do Ministério Público Federal (MPF). Segundo a denúncia, ele faz parte de uma organização criminosa responsável por invasões de terras da União e desmatamentos em larga escala no município de Boca do Acre.

Segundo os procuradores da República, “para garantir a continuidade e a impunidade de suas atividades criminosas”, latifundiários da região recorreram ao uso de violência contra pequenos agricultores e coletores, pagamentos de propina, lavratura de autos de infração em nome de “laranjas” e apresentação de defesas administrativas elaboradas pelo próprio Superintendente do Ibama no Estado do Acre.

O MPF aponta que o grupo somou R$ 147.483.066,19 em multas aplicadas pelo Ibama, pela destruição de uma área de 86.091,16 hectares de Floresta Amazônica.

As investigações apontam que Tãozinho e outros dois fazendeiros constituíram e custearam uma milícia particular formada por quatro policiais militares, pagos para cometerem crimes em defesa dos seus interesses. Caberia aos policiais, segundo a denúncia, “expulsar posseiros e extrativistas de terras públicas da União, promover a segurança de trabalhadores e equipamentos mobilizados para a realização do desmatamento ilegal” e “cobrar os devedores dos seus patrões e de quem mais os contratava”.

Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas.|

Foto principal (SDS/Governo do Amazonas): Boca do Acre, um dos municípios sob influência dos Gardingo, convive com a ameaça da devastação 

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