Território indígena no Pará é invadido dois dias após acusado de grilagem se eleger prefeito

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Em 2016, quando também era prefeito, João Cleber ameaçou renunciar ao cargo em São Félix do Xingu (PA) caso o governo federal insistisse na desintrusão de invasores da Terra Indígena Apyeterewa, do povo Parakanã, na divisa com Altamira

Por Leonardo Fuhrmann

Dois dias após a vitória nas urnas do ex-prefeito João Cléber de Sousa Torres, um grupo de 50 a 70 pessoas cercou a base da Fundação Nacional do Índio (Funai) na Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), na divisa com Altamira. Os invasores bloquearam estradas e pontes que dão acesso ao território e ameaçaram funcionários da fundação, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e agentes da Força Nacional que faziam uma operação contra o desmatamento ilegal.

Segundo o blog do repórter Rubens Valente, do UOL, os agressores impediam que os servidores entrassem ou saíssem da base e bloquearam o acesso deles a alimentos e combustíveis. A equipe tem recebido ameaças de que a base será invadida e os carros da fiscalização serão queimados.

Os agentes haviam conseguido conter os focos de desmatamento na Terra Indígena Trincheira-Bacajá, na mesma região. Mas sofreram uma emboscada quando chegaram à Apyterewa. Os invasores receberam os fiscais com tiros para o alto e incendiaram a ponte por onde eles passavam, além de serrar um de seus pilares.

EM 2016, JOÃO CLÉBER AMEAÇOU RENUNCIAR SE HOUVESSE DESINTRUSÃO

A terra indígena já esteve no centro de uma disputa de João Cléber com o governo federal em 2016, no governo Dilma Rousseff, quando ele terminava seu mandato anterior. Em janeiro daquele ano, durante uma reunião com a Funai, ele ameaçou renunciar ao cargo, caso o governo insistisse na retirada — tecnicamente chamada de desintrusão — dos invasores.

João Cleber, eleito no domingo.  (Foto: Arquivo Pessoal)

Agora, a retirada dos intrusos foi decidida pela Justiça Federal, em uma ação do Ministério Público Federal. Uma liminar concedeu a reintegração de posse, com o uso de força policial para a retirada imediata, a apreensão de todos os maquinários, instrumentos, equipamentos e veículos encontrados no local. A multa ao governo federal por descumprimento da medida é de R$ 20 mil por hora.

João Cléber foi citado em 2003, em relatório do Ministério Público Federal (MPF), como principal mandante da morte de sete trabalhadores rurais e um comerciante na Vila Taboca, no município: “Acusados de grilagem, desmatamento e outros crimes são eleitos para prefeituras no sul do Pará”.

Segundo os procuradores, ele e seu irmão Francisco Torres de Paula Filho promoviam invasão e grilagem de terras públicas na região, com a retirada de madeira e a ocupação com gado.

Não são as únicas acusações graves contra o prefeito eleito. Em 2014, ele esteve na lista suja de trabalho escravo, pelas péssimas condições dadas aos trabalhadores da fazenda Bom Jardim.

Naquele ano, recebeu a primeira multa do Ibama por desmatamento, no valor de R$ 6.635.000. Ele também é citado em diferentes casos de corrupção e, em um deles, foi acusado de tentar coagir testemunhas.

Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas |

Foto principal (Reprodução/TV Liberal): Invasores de terra indígena cercam base do Ibama e da Funai em São Félix do Xingu

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