Secom comemora Dia do Agricultor com foto de homem armado

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Em meio ao crescimento da fome no país, especialmente no campo, e ao aumento no número de conflitos agrários, conta oficial do governo publica informações falsas e celebra o fato de Bolsonaro ter estendido a posse de armas dos fazendeiros

Por Mariana Franco Ramos

A Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), órgão ligado à Presidência da República, usou nesta quarta-feira (28) a foto de um homem com uma espingarda para comemorar o Dia do Agricultor. O banco de imagens onde ela é vendida, por valores que variam de 19,99 a 199,99 dólares, a descreve com as tags “caça”, “arma” e “só para adultos”.

A postagem foi publicada na conta do Twitter da Secom, acompanhada dos dizeres: “Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da Covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo”.

O governo federal também afirma que conseguiu “reduzir a invasão de terras”, numa referência a programas como o Titula Brasil, que legaliza a grilagem, e ainda celebra o fato de Jair Bolsonaro ter estendido a posse de armas dos fazendeiros a toda a sua propriedade.

“Graças ao trabalho desses homens do campo, nosso país é uma das potências mundiais com segurança alimentar”, escreve a Secom. “E a previsão é de que a produção do agro brasileiro continue crescendo”.

ENQUANTO ISSO, INDÍGENAS, QUILOMBOLAS E CAMPONESES SÃO ALVO DE VIOLÊNCIA…

Os dados da Secom não correspondem à realidade. O último relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), publicado em 31 de maio, aponta um recorde de conflitos no campo em 2020, com 2.054 casos registrados. O que Bolsonaro fez foi consolidar a Amazônia Legal, formada pelos estados da região Norte, Mato Grosso e a maior parte do Maranhão, como o principal foco de violência no campo brasileiro, com 77% dos casos. Leia mais em reportagem de Leonardo Fuhrmann.

Em um mês, quatro trabalhadores rurais foram assassinados no Maranhão. Segundo nota da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado (Fetaema), José Francisco de Sousa Araújo, morto a tiro por dois homens no povoado Volta da Palmeira, a 290 quilômetros de São Luís, no dia 11, era conhecedor dos conflitos agrários na comunidade Vergel, localizada em Codó, e já tinha perdido quatro familiares.

… E DA FOME

De acordo com o inquérito mais recente da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pennsan), divulgado em abril, dos 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões convivem com algum grau de Insegurança Alimentar (IA). Destes, 43,4 milhões não têm alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões enfrentam a fome.

A Insegurança Alimentar grave dobra nas áreas rurais do país, especialmente quando não há disponibilidade adequada de água para produção de alimentos (de 21,1% para 44,2%) e para o consumo dos animais (de 24% para 42%).

Segundo o agrônomo José Graziano da Silva, ex-diretor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e diretor do Instituto Fome Zero, o crescimento da fome, sobretudo no campo, não se deve à falta de comida, e sim à pujança do agronegócio. Essa mesma que Bolsonaro defende. Com armas.

Imagem principal (Secom/Twitter): banco de imagens descreve “agricultor” da Secom com as tags “caça” e “só para adultos” 

LEIA MAIS:
Bolsonaro consolida Amazônia como foco de violência agrária no Brasil, aponta CPT
José Graziano, ex-diretor da FAO, aponta papel do agronegócio no agravamento da fome

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