De Olho nos Ruralistas é referência em relatório internacional sobre lobby do veneno

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Observatório é citado doze vezes na publicação “Comércio Tóxico”, da Friends of the Earth Europe, que desnuda a articulação política de multinacionais como Bayer, Basf e Syngenta; uso dessas substâncias multiplicou-se seis vezes nos últimos vinte anos

Por Mariana Franco Ramos 

Relatório usa referências de trabalhos do observatório. (Imagem: FoE Europe)

Reportagens investigativas do De Olho nos Ruralistas foram usadas como referência para a produção do relatório “Comércio Tóxico, a ofensiva do lobby dos agrotóxicos”, lançado nesta quinta-feira (28), pela rede ambientalista Friends of the Earth Europe (Amigos da Terra Europa, em tradução livre). O estudo cita informações obtidas pelo observatório sobre o Instituto Pensar Agro (IPA), financiador da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Congresso, e sobre congressistas donos de propriedades rurais, cujos conflitos de interesses nos temas agrários são explícitos.

As autoras Audrey Changoe e Larissa Bombardi relatam que grupos representando Bayer/Monsanto, Basf e Syngenta gastaram cerca de dois milhões de euros para apoiar as atividades de lobby do IPA. E que os esforços geraram frutos: o uso de agrotóxicos multiplicou-se seis vezes ao longo dos últimos 20 anos e há um número recorde de novas substâncias aprovadas desde que Jair Bolsonaro assumiu o poder. Apenas em 2021, foram autorizados 562 novos pesticidas, segundo o Diário Oficial da União (DOU).

Juntas, Bayer e Basf tiveram 45 produtos liberados em três anos, sendo que dezenove deles contêm componentes proibidos na União Europeia. De acordo com o documento, os esforços conjuntos desses dois atores para promover o livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) também causaram danos significativos à saúde das pessoas e ao meio ambiente no Brasil. “Eles apoiam uma agenda legislativa que visa minar os direitos dos indígenas, remover salvaguardas ambientais e legitimar o desmatamento”, diz trecho.

O estudo reforça ainda que, enquanto as empresas buscam maximizar seus lucros, a cada dois dias uma pessoa morre de envenenamento por agrotóxicos no Brasil. Cerca de 20% dessas vítimas são crianças e adolescentes com idade entre 0 e 19 anos.

Relatório mostra resultado do lobby do agronegócio no Brasil. (Imagem: FoE Europe)

OBSERVATÓRIO CONTOU COMO VERBAS SÃO DIRECIONADAS PARA A FPA

Em maio de 2019, o observatório contou de que forma as verbas do IPA são direcionadas para a FPA. Os recursos são oriundos da contribuição de 38 associações mantenedoras, que pagam uma mensalidade de pelo menos R$ 20 mil cada uma. Isso significa R$ 760 mil no caixa por mês. A reportagem, assinada por Priscilla Arroyo, foi uma das principais fontes do relatório.

Na época, o observatório identificou as empresas ligadas a doze dessas associações e listou as que têm mais relevância na economia. Da lista, fazem parte 22 das 50 maiores companhias do agronegócio no Brasil, de acordo com a revista Forbes. Além de Bayer, Basf e Syngenta, são citadas a BRF, a JBS, a Bunge e a Cargill

Algumas das associações do agronegócio que financiam a FPA comandaram a campanha pela aprovação do projeto de lei 6.299/02, conhecido como PL do Veneno. O texto, que já passou pela Câmara e aguarda análise do Senado, foi relatado pelo deputado federal Luiz Nishimori (PR-PR), o “Senhor Veneno”. Saiba mais sobre ele:

A proposta, originalmente apresentado pelo ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, dará mais poder ao Ministério da Agricultura, que terá responsabilidade exclusiva para aprovação de novos produtos. Atualmente, agrotóxicos precisam ser aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Conforme as pesquisadoras, se sancionada, a matéria “provavelmente levará a um aumento no número de registros, autorizações e uso de agrotóxicos, sem uma avaliação adequada de suas consequências socioambientais”.

Líderes ruralistas também pressionaram pela liberação do paraquat, agrotóxico associado à doença de Parkinson e mutações genéticas. Reportagem da Agência Pública e da Repórter Brasil mostrou a relação entre reuniões e lobby do agronegócio e decisões da Anvisa em relação ao produto. De Olho destacou cinco personagens centrais desse jogo político. Relembre aqui.

Moreira, Hummel, Nishimori, Heinze e Lupion pressionaram para liberar veneno. (Imagem: De Olho nos Ruralistas)

PARLAMENTARES ACUMULAM FAZENDAS NA AMAZÔNIA E MATOPIBA

Ainda em 2019, o observatório elaborou um mapa que localiza, por município, as propriedades rurais declaradas por deputados e senadores. A série de reportagens, que apontou latifúndios de congressistas no Matopiba (formado pelo estado do Tocantins e partes do Maranhão, Piauí e Bahia) e na Amazônia Legal, foi outra referência da publicação.

Ao todo, os deputados federais são donos de 43,9 mil hectares de terra, espalhados por treze estados. Os senadores, apesar de serem em menor número – 81 para 513 deputados – respondem por uma área maior. No total, somam 107,8 mil hectares. Os suplentes de senadores, que são escolhidos durante a formação das chapas, concentram outros 37,5 mil hectares.

Ainda segundo o estudo da Friends of the Earth Europe, praticamente metade dos 513 deputados eleitos em 2014 receberam R$ 60 milhões em doações de empresas ou indivíduos multados por crimes ambientais pelo Ibama.

| Mariana Franco Ramos é repórter do De Olho nos Ruralistas. |

Foto principal (Campanha contra os Agrotóxicos): Juntas, Bayer e Basf tiveram 45 produtos liberados em três anos

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