Nishimori, do PL do Veneno, fez lobby para empresas japonesas que produzem agrotóxicos

In De Olho na Política, Em destaque, Principal, Últimas

Relator do PL 6.299, deputado promoveu multinacionais Marubeni e Mitsui, esta última financiadora oculta da bancada ruralista; ele também já acompanhou Bolsonaro e filhos em viagens ao Japão; De Olho nos Ruralistas faz série sobre conflitos de interesses

Por Mariana Franco Ramos

O agro é lobby. E um lobby institucionalizado. Relator do Projeto de Lei 6.299/02, conhecido como PL do Veneno, o deputado federal Luiz Nishimori (PL-PR) possui uma relação quase umbilical com empresas que produzem e vendem agrotóxicos. De Olho nos Ruralistas contou, em início de série sobre o parlamentar, que ele negociou o pagamento de uma dívida pessoal por R$ 1,5 milhão com a Syngenta, interessa direta na aprovação do projeto de lei: “Nishimori, do PL do Veneno, fez acordo por dívida de R$ 1,5 milhão com a Syngenta“.

O político atuou também a favor de multinacionais japonesas como a Mitsui e a Marubeni. O observatório publica uma série sobre possíveis conflitos de interesse na tramitação de leis relativas aos pesticidas no Congresso. Coordenador de Relações Internacionais da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a face mais organizada da bancada ruralista, e presidente do Grupo Parlamentar Brasil Japão, o paranaense é um dos principais personagens desta trama: “Relator do PL do Veneno teve bens bloqueados em caso de funcionários fantasmas“.

O observatório já tinha mostrado que ele se encontrou com diretores da Mitsui em Moçambique, em 2012, quando chefiou a delegação brasileira que divulgava as vantagens do ProSavana. O projeto – parceria entre Brasil, Japão e Moçambique – é considerado um exemplo internacional de land grabbing, quando grandes empresas internacionais se apropriam, mesmo que legalmente, de terras tradicionais. A Mitsui é parceira da Vale no país africano.

As reportagens sobre Nishimori motivaram também um vídeo da série De Olho no Congresso:

GOVERNO JAPONÊS FINANCIOU TOUR COM FLÁVIO, CARLOS E EDUARDO BOLSONARO

Nishimori acompanhou o então candidato à presidência e seus filhos ao Japão. (Foto: Twitter)

De lá, Nishimori seguiu para o Japão, onde relatou a viagem para Moçambique, na agência de cooperação internacional, e esteve na sede da multinacional. “A relação entre Brasil e Japão é a melhor parceria possível, pois podemos oferecer recursos naturais que nenhum outro país possui e, ao mesmo tempo, o Japão nos fornece tecnologia de ponta”, comemorou, à época. Leia mais: “Deputado pró-agrotóxicos promoveu Mitsui, empresa flagrada com venenos ilegais na BA”.

Desde então, as visitas à Ásia e, em especial, às multinacionais, se tornaram corriqueiras. Algumas delas, em missões oficiais com o presidente.

Nishimori articulou entrada da Mitsui em Moçambique. (Foto: Divulgação)

Em junho de 2016, ele foi a Tóquio buscar possíveis interessados em financiar uma ferrovia para escoar a produção do oeste paranaense e do Mato Grosso do Sul, via Porto de Paranaguá. Avaliado em cerca de R$ 10 bilhões, o projeto foi apresentado aos grupos Mitsui, Mitsubishi, Hitachi e Marubeni e contava com o apoio da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná (Faciap).

Dois anos depois, ciceroneou o então candidato ao Palácio do Planalto e três de seus filhos – Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro. O tour, garantiu, foi financiado pelo governo japonês. Faziam parte da comitiva, ainda, Abraham Weintraub (PMB-SP) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que mais tarde se tornariam ministros da Educação e da Casa Civil, respectivamente. Foi quando o capitão reformado disse a célebre frase “minha especialidade é matar“.

Em 2019, Nishimori acompanhou a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, ex-presidente da FPA. A comitiva passou ainda por China, Indonésia e Vietnã , em reuniões com autoridades e investidores. “Temos muito potencial, uma brilhante agricultura, matéria-prima de alta qualidade e podemos colaborar de maneira significativa com o mercado asiático”, disse. Eleito, Bolsonaro se reuniu com membros da FPA, em café da manhã, e reafirmou a aliança com o grupo: “Esse governo é de vocês”.

MITSUI É UMA DAS FINANCIADORAS OCULTAS DA BANCADA RURALISTA

No ano passado, a Mitsui conseguiu autorização para vender o agrotóxico Garant. O pedido foi um dos 67 concedidos pelo Ministério da Agricultura na edição de 25 de fevereiro do Diário Oficial da União (DOU). Eles se somaram a outras 967 permissões registradas até então durante o governo Bolsonaro – hoje, já são mais de 1.500.

Político comemora aprovação do PL do Veneno. (Imagem: Facebook)

Muitos desses produtos são associados ao câncer, a mutações genéticas e a malformações fetais, entre outros problemas de saúde. A chefe do Mapa, que por seu entusiasmo com o PL 6.299 foi apelidada de “Musa do Veneno”, Senhora Desmatamento na visão do Le Monde, é cotada para ser vice do candidato à reeleição no pleito presidencial de outubro.

Ainda em 2021, a Mitsui e outra companhia japonesa, a ISK, compraram juntas 25% da fabricante de pesticidas Ourofino Agrociência. Tanto a Mitsui como a Ourofino são financiadoras ocultas da FPA. Elas integram o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), cujos recursos custeiam o Instituto Pensar Agro (IPA), motor logístico da frente. É o instituto que mantém a mansão do Lago Sul, em Brasília, conhecida como “bunker ruralista”, onde parlamentares se encontram para preparar o discurso a favor do agronegócio e contra o ambiente e os povos do campo.

EMPRESA TEVE PESTICIDAS APREENDIDOS NA BAHIA

O observatório relatou em 2018 que um dos braços agropecuários da Mitsui do Brasil, a Agrícola Xingu, teve pesticidas apreendidos durante operação coordenada pelo Ministério Público da Bahia. Com direito a uso irregular do glifosato, um dos venenos mais utilizados – e contestados – no mundo: “Agrotóxicos proibidos são apreendidos na BA em fazenda da gigante japonesa Agrícola Xingu”.

Força-tarefa apreendeu agrotóxicos na Bahia. (Imagem: Reprodução)

A Gavillon do Brasil S.A é uma trading brasileira, braço da divisão da Marubeni, com forte presença nos mercados de fertilizantes e de grãos. Ela atua com uma variedade de commodities, incluindo soja, milho e trigo, em dezessete escritórios espalhados pelo país, desde 31 de Março de 2018. E a matriz tem relação igualmente antiga com o político.

Em 2006, o então deputado estadual já articulava a instalação de uma unidade em Maringá, seu reduto eleitoral. A visita à diretoria da empresa foi registrada pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Dois anos depois, foi ele quem anunciou a instalação de uma fábrica da companhia em Marialva, município vizinho onde ele nasceu, com investimento estimado em US$ 40 milhões.

DEPUTADO CHEGOU A USAR DDT EM PLANTAÇÕES

O próprio parlamentar se apresenta, em suas redes sociais, como agricultor. Ele conta ter constituído a Mariagro em 1977, aos 21 anos. Na sequência, em 1993, fundou a Nishimori Distribuidora de Diesel, voltada ao comércio de combustíveis e derivados. E, em 2003, a Nishimori Agrícola Ltda, que produz sementes, mudas e outras formas de propagação vegetal.

Nishimori, o Senhor Veneno. (Ilustração: Eduardo Baptistão)

Esta última é administrada pelos filhos do político e consta em relatório produzido pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), de 2014, que listou estabelecimentos inscritos para receber permissão para comercializar agrotóxicos.

“Eu usei DDT, Parathion e BHC“, recordou-se, durante uma das audiências na comissão que avaliou o PL do Veneno, em maio de 2016. “Eu sou dessa época, eu usava. Antigamente, passavam BHC para matar piolho!”

Na sessão que culminou com a aprovação do PL do Veneno, há duas semanas, ele fez uma associação com o uso de medicamentos: “Eu peguei o Covid ontem. Não queria ser medicado, mas precisei. A planta é a mesma coisa”.

O observatório entrou em contato com o deputado federal na manhã do dia 15. No gabinete, a reportagem foi orientada a procurar a assessoria de imprensa da FPA, que ainda não retornou.

| Mariana Franco Ramos é repórter do De Olho nos Ruralistas. |

You may also read!

Prefeitura de SP nega superfaturamento e diz que obra de R$ 129 milhões segue “ritos legais”

Investigada por irregularidades, Ercan Construtora foi contratada para obra emergencial em talude na comunidade Morro da Lua, no Campo

Read More...

Os Gigantes: com apoio de prefeitos, projetos de carbono violam direitos de comunidades tradicionais

De Olho nos Ruralistas mapeou 76 projetos de emissão de créditos de carbono em 37 dos cem maiores municípios;

Read More...

Os Gigantes: em Corumbá (MS), prefeito faz lobby por hidrovia que ameaça áreas protegidas do Pantanal

Marcelo Iunes pressiona por obras na hidrovia do Rio Paraguai, que enfrenta pior seca em 51 anos, e pela

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu