Em nota jurídica, líder bolsonarista aponta Alípio Schuwank Maggi como financiador de ônibus que levaram terroristas para Brasília no domingo de terror; radicado em Manaus, extremista usou nome da Agropecuária Maggi para aplicar golpes em Mato Grosso nos anos 2000
Por Bruno Stankevicius Bassi e Tonsk Fialho
A busca pelos financiadores dos atos terroristas que devastaram a Praça dos Três Poderes no domingo mobiliza o país. Um levantamento divulgado hoje (10) pela Agência Lupa, a partir do monitoramento de 17 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram utilizados para convocar extremistas para ir a Brasília, revelou o nome de Ramiro Alves da Rocha Cruz Junior, o “Ramiro Caminhoneiro”, como principal organizador das caravanas golpistas. Candidato a deputado federal em 2018 e 2022, ele é citado pelo menos 170 vezes nas conversas, incluindo menções ao seu número de Pix, para recebimento de contribuições.
A repercussão gerou uma resposta imediata do bolsonarista. Em nota publicada no Instagram, Ramiro afirma não ser responsável por custear as caravanas de ônibus para Brasília. Segundo ele, o principal financiador dos ônibus para os atos terroristas foi um empresário do agronegócio na Amazônia. Seu nome, omitido na divulgação da Lupa, é Alípio Schuwank Maggi, primo do ex-ministro Blairo Maggi, ex-senador e ex-governador do Mato Grosso.
Dono da Maggi Alimentos e Agroindustrial, com sede em Porto Velho, Alípio é descrito por Ramiro como “empresário do AGRO da Amazônia”. (É ele que escreve a abreviação de agronegócio em letras maiúsculas.) O líder bolsonarista relatou em suas lives que Maggi “forneceria a princípio 3 mil ônibus para Brasília, entretanto após 48 horas lograram a aquisição de 16 mil ônibus fretados e com passageiros para Brasília”. Ao todo, foram apreendidos 87 veículos pela Polícia Federal e pela Polícia Rodoviária Federal.
EMPRESÁRIO FOI ACUSADO DE GOLPES E É ALVO DE INQUÉRITO NO STF
A citação por Ramiro Caminhoneiro não é a primeira menção a Maggi relacionada à organização de atos golpistas. Em 22 de setembro de 2022, o ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal (STF), requereu à empresa Telegram que fornecesse os dados cadastrais e o conteúdo das mensagens publicadas no grupo denominado “Caçadores de ratos do STF”. Dentre os 141 usuários listados por Morais, aparecem o nome ‘Alípio Maggi’ e ‘@Ramiro_dos_Caminhoneiros’.
Residente em Manaus, onde também possui uma empresa de construção e outra de coleta de resíduos, Alípio é ativo nas redes sociais. Em seu Instagram, costuma postar imagens de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ataques aos ministros do Supremo.
Em 2004, ele foi mencionado em reportagem do jornal Gazeta Digital, acusado de aplicar golpes nos municípios mato-grossenses de Santa Cruz do Xingu, Vila Rica, Cáceres e Pontes e Lacerda, utilizando-se da fama do primo Blairo Maggi, então governador do estado. Segundo um assessor do governo, Alípio chegou a alugar aviões se intitulando diretor do Grupo Amaggi no Amazonas.
Em resposta à reportagem, Blairo afirmou que “jamais autorizou alguém a falar em seu nome, tanto como governador quanto empresário sobre quaisquer assuntos, sejam eles de interesse político ou empresarial”.
O ex-governador do Mato Grosso também se difere de Alípio no espectro político: nas eleições de 2022, o cacique do PP apoiou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, em movimento semelhante ao do primo Eraí Maggi, do grupo Bom Futuro, o maior produtor de soja do Brasil.
| Bruno Stankevicius Bassi é coordenador de projetos do De Olho nos Ruralistas. |
|| Tonsk Fialho é estudante de Direito na UFRJ e pesquisador, com foco em sindicatos e movimentos sociais. ||
Foto principal (Instagram): Alípio Maggi, apontado como financiador de ônibus que levaram terroristas a Brasília
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