Membros-chave da Frente Parlamentar da Agropecuária estiveram presentes na manifestação do domingo; entre eles estão políticos financiados por invasores de terras indígenas; a deputada Carla Zambelli desfilou com suas “botinas Bolsonaro”, em homenagem também ao agronegócio
Por Carolina Bataier
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Realizada no dia 25 de fevereiro, data em que é celebrado o Dia do Agronegócio, a manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista teve a presença de 19 líderes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), entre deputados e senadores. Desses, 14 são correligionários do Partido Liberal (PL) e quatro integram o Partido Progressistas (PP) que, desde setembro, integra a base do governo Lula. Completa a lista o PSDB, representado pelo senador Izalci Lucas, do Distrito Federal.
Presidente da FPA, o deputado Pedro Lupion (PP-PR) vestiu a camiseta verde e amarela da seleção brasileira e posou para uma foto ao lado dos governadores Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). A imagem foi publicada no Instagram e no Twitter do paranaense com a legenda “acompanhando a manifestação do povo brasileiro”.
Nos vídeos de convocação da manifestação, publicados em suas redes sociais, Bolsonaro adotou tom de fala moderado e informou que se tratava de um ato em defesa do Estado Democrático de Direito. “Nesse evento, eu quero me defender de todas as acusações que vêm sendo imputadas à minha pessoa nos últimos meses”, ressaltou, em referência à operação da Polícia Federal que investiga o ex-presidente pela tentativa de golpe de estado do dia 8 de janeiro de 2023.
Em seu discurso na Avenida Paulista, Bolsonaro questionou a acusação. “Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração, é trazer classes políticas pro seu lado, empresariais”, disse o ex-presidente no carro de som. “Nada disso foi feito no Brasil”. No discurso, Bolsonaro chamou de “pobres coitados” os participantes do quebra-quebra em Brasília.
Divulgado em outubro de 2023, o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas apresentou uma lista com dezesseis financiadores do movimento que resultou na invasão e depredação do patrimônio público. Desses, treze são fazendeiros, conforme noticiou o De Olho nos Ruralistas: “Entre 16 financiadores do golpe denunciados por CPMI,13 são fazendeiros“.
BASE DE LULA, PP MARCOU PRESENÇA EM ATO BOLSONARISTA
Pedro Lupion pertence a uma linhagem de ruralistas paranaenses, composta pelo ex-deputado Abelardo Lupion e pelo ex-governador Moisés Lupion. O apoio dele a Jair Bolsonaro contou com o coro de outros três colegas de partido, o mesmo do presidente da Câmara, Arthur Lira. Vice-presidente da FPA na Câmara, o capixaba Evair de Melo (PP), da bancada do café, viajou a São Paulo para a manifestação e compartilhou vídeos homenageando o ex-presidente e a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.
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Ele foi um dos líderes da bancada ruralista que receberam financiamento de campanha de fazendeiros com imóveis sobrepostos a terras indígenas, conforme revelado pelo relatório “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores possuem sobreposições em terras indígenas“, produzido por este observatório. Evair recebeu R$ 20 mil de Adelar Mateus Jacobowski, sócio da Agropecuária São Gabriel, que disputa uma área limítrofe à TI Menkü, no Mato Grosso.
O mesmo tipo de financiamento beneficiou a campanha de outro nome de peso do PP, o senador gaúcho Luis Carlos Heinze. Atualmente ocupando o cargo de “vogal” — uma espécie de conselheiro — da FPA, o negacionista climático Heinze recebeu durante a campanha de 2018 uma transferência no valor de R$ 100 mil de Wanda Inês Riedi, diretora da empresa I. Riedi, um dos cem maiores conglomerados do agronegócio brasileiro. A empresa disputa terras com indígenas da TI Tekohá Guasu Guavirá, em Terra Roxa (PR), e é dona de 6.312,86 hectares sobrepostos às TIs Porquinhos e Kanela Memorturé, no Marnahão.
Vice-presidente da FPA para a região Norte, o deputado Vicentinho Junior (PP-TO) também vestiu verde e amarelo e foi para a Avenida Paulista no domingo. Ele é investigado por usar recursos da cota parlamentar para comprar um carro no valor de R$ 100 mil. O veículo adquirido com dinheiro público foi registrado em nome da irmã do deputado.
Apesar da presença dos parlamentares, o PP integra oficialmente a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em setembro de 2023, o presidente da Câmara Arthur Lira negociou a adesão da sigla ao governo. Em troca, o líder do Centrão recebeu a presidência da Caixa Econômica Federal e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), além do Ministério dos Esportes, onde emplacou seu aliado André Fufuca (PP-MA). Apesar da entrega de cargos, o bloco rachou nos meses seguintes: um grupo de parlamentares se amotinou e declarou não pertencer à base governista.
ALA RURALISTA DO PL TAMBEM SE CONECTA A INVASORES DE TERRAS INDÍGENAS
O deputado Domingos Sávio (PL-MG), vice-presidente da FPA na região sudeste, acompanhou a manifestação do alto do trio elétrico principal, perto do ex-presidente Jair Bolsonaro. Agropecuarista, Sávio tem entre os financiadores da sua campanha o fazendeiro Adelar Mateus Jacobowski, titular da Fazenda Frei Gabriel, que se sobrepõe aos limites da TI Menkü, em Mato Grosso.
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No grupo de integrantes da FPA com campanha financiada por invasores de terras indígenas, estavam os deputados Marcos Pollon (PL-MS), da Comissão de Segurança no Campo; e Rodolfo Nogueira (PL-MS). Na campanha de 2022, eles receberam dinheiro dos fazendeiros Rovilson Alves Correa e Walter Romeiro Beloto, respectivamente, cujas fazendas incidem em TIs no Mato Grosso do Sul.
Entre os manifestantes com cargos de destaque na FPA estavam as deputadas Caroline de Toni (PL-SC), da Coordenação Jurídica da FPA; Coronel Fernanda (PL-MT), da Comissão de Defesa Vegetal e Bia Kicis (PL-DF), da Comissão de Alimentação e Saúde; e os deputados Giacobo (PL-PR), da Comissão de Orçamento; e Zé Vitor (PL-MG), da Comissão do Meio Ambiente.
Amigo íntimo de Bolsonaro, o deputado e ex-policial militar Alberto Fraga (PL-DF) usou o Instagram para convidar seus seguidores para o evento. Na FPA, ele é vogal, cargo equivalente ao de conselheiro. Entre os políticos com cargo de vogal, marcaram presença na manifestação bolsonarista os deputados Giovani Cherini (PL-RS), José Medeiros (PL-MT) e Roberta Roma (PL-BA), esposa de João Roma, presidente do PL na Bahia, que também vestiu verde e amarelo e posou ao lado de Lupion.
Para participar da manifestação, o senador Jorge Seif (PL-SC) alterou a data de uma viagem de trabalho e gerou um gasto público no valor de R$30 mil, conforme noticiou o UOL. No Instagram, ele publicou um carrossel de imagens, onde posa ao lado de outros apoiadores de Bolsonaro, como os senadores Magno Malta (PL-ES) e Márcio Bittar (UB), eleito pelo Acre, estado que, no dia da manifestação, tinha 17 dos 22 municípios em estado de emergência devido a enchentes.
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) aproveitou a ocasião para fazer propaganda de uma marca de calçados que leva o nome do ex-presidente. Em um vídeo publicado no Instagram minutos antes do início da manifestação, Zambelli olha para a câmera e saúda seus seguidores: “E aí, pessoal, tudo bem? Chegando na Paulista com um detalhe”. Então, ela se abaixa e aponta para a botina, onde se lê “Bolsonaro” bordado em azul, entre uma faixa verde e outra amarela. “Vai virar moda”, afirmou.
O calçado é de uma marca criada por apoiadores do ex-presidente e tem como slogan a frase “Passos firmes com o agro”.
Foto principal (Reprodução/Instagram): presidente da FPA posa ao lado de governadores em ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista
| Carolina Bataier é jornalista e escritora. |