Lembram-se da Boi Gordo? 131 mil hectares no MT estão em leilão

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Empresa que deu golpe de pirâmide a partir de 1996, lesando 32 mil pessoas, deve hoje R$ 4 bilhões; 91 mil hectares leiloados são de floresta amazônica; 30 mil de cerrado; empresário Paulo Roberto de Andrade livrou-se de processo criminal

Por Alceu Luís Castilho 

Uma das maiores fraudes da história agrária brasileira está tendo um desfecho parcial neste mês de setembro. A parte mais significativa da Boi Gordo, 131 mil hectares no Mato Grosso, está indo a leilão. Mais de 32 mil pessoas foram lesadas, de jogadores de futebol (Evair, César Sampaio, Edilson), técnico (Luiz Felipe Scolari) ao Tremendão, Erasmo Carlos. Era um esquema de pirâmide. Um golpe.

O leilão em São Paulo prevê a compra das fazendas Realeza do Guaporé I e II, com lance mínimo de R$ 306 milhões. Caso não seja arrematado, o lote será desmembrado em 31 fazendas, entre as que compõem o complexo, em Comodoro (MT), às margens do Rio Guaporé. Somente o leiloeiro ficará com R$ 14 milhões.

O total de terras descritas como bioma “floresta”, pelo juiz, é de 91.223 hectares. Outros 29.914 ficam no bioma cerrado. (A rigor, essa soma dá 121 mil hectares, 10 mil a menos que o anunciado.)

Quatro das 31 fazendas tiveram 80% da área desmatada para lavoura ou pecuária.

O leilão será encerrado na terça-feira (13/09), às 13 horas, no auditório da Sociedade Rural Brasileira, no Anhangabaú, em São Paulo.

A venda dos bens foi definida em julho pelo juiz Marcelo Barbosa Sacramone, da 1ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo. O edital informa que há pendências: quem arrematar as fazendas herdará 23 processos, em trâmite em Comodoro e São Paulo. Há ainda um segundo lote de leilão, com 17 unidades do loteamento Realeza do Guaporé I e II. Esses não têm ônus. Somados, totalizam 3.216 hectares, avaliados em R$ 14,8 milhões.

A área de 131 mil hectares foi avaliada em R$ 510 milhões. Só que já foram feitas tentativas de venda, em agosto, sem sucesso. Por isso, agora, o deságio.

O anúncio do leilão traz informações curiosas. Como o tamanho da área leiloada, quase a do município de São Paulo. Ou o tempo que um trabalhador com salário mínimo levaria para reunir R$ 4 bilhões,  o valor da dívida atual da Boi Gordo: 379 mil anos.

Vejamos o resumo da fraude feito por O Globo: “Em 1996, a Fazenda Reunidas Boi Gordo iniciou um processo de investimentos em animais. Pela proposta, investidores receberiam após 18 meses o lucro da venda do boi engordado, com promessas de 42% de rendimento via certificados de investimentos, como aponta a Lut Leilões. A empresa, no entanto, pagava contratos vencidos com recursos de novos investidores, em esquema configurado como pirâmide financeira. Em 2001, a empresa pediu concordata, e faliu em 2004”.

A Fazendas Reunidas Boi Gordo foi uma aventura capitaneada pelo fazendeiro paulista Paulo Roberto de Andrade, que tinha sido indicado duas vezes, pela Gazeta Mercantil, como empresário do ano. O Supremo Tribunal Federal (STF) o livrou em 2009 de processo criminal relativo à pirâmide.

Confiram imagens de divulgação do leilão, pela Lut Leilões:

Infográfico Boi Gordo

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