Deputado ruralista prevê até 100 mil hectares de terras para cada estrangeiro

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À esquerda, Newton Cardoso Jr, representante do setor que será beneficiado

Em entrevista ao InfoMoney, Newton Cardoso Jr (PMDB-MG), cujo pai tem empresas de celulose, fala em aprovação do projeto em 2016, como “presente de Natal para setores agrícola e florestal”

Por Alceu Luís Castilho

Filho de latifundário, o ex-governador mineiro Newton Cardoso, o deputado Newton Cardoso Junior (PMDB-MG) declarou ao portal InfoMoney que os deputados ruralistas têm maioria para aprovar a venda de terras para estrangeiros ainda este ano. Seria um “presente de Natal para os setores agrícola e florestal”. A entrevista pode ser conferida aqui: “O Brasil não vai virar uma grande imobiliária”, diz deputado sobre venda de terras a estrangeiros.

O próprio portal ressalta algumas críticas ao projeto, que poderia significar desrespeito à soberania nacional, riscos para áreas de proteção ambiental, “possível aumento da biopirataria, grilagem de terras e [sic] até a especulação imobiliária”.

O vice-líder do PMDB supõe investimentos de R$ 50 bilhões no Brasil em áreas agrícolas e florestais. Ele preside a Frente Parlamentar de Silvicultura. Seu pai, Newton Cardoso, possui empresas nesse setor – que foram as maiores doadoras de campanha para Cardoso Junior, em 2014. O próprio limite de 100 mil hectares para as aquisições, segundo o deputado, foi pensado por causa do mercado de celulose, que os ruralistas chamam de setor “florestal”.

Cardoso diz que 10% desses 100 mil hectares poderiam ser destinados à reforma agrária. O ministro da Agricultura, porém, o sojeiro Blairo Maggi, é favorável à venda para estrangeiros, mas já se declarou contrário aos 10% para reforma agrária, que comparou a uma política de “cotas”.

Segundo o InfoMoney, cinco companhias têm interesse direto na aprovação do projeto e tiveram alta de suas ações na Bovespa: SLC Agrícola, Vanguarda Agro (alta de 50% em quatro sessões), BrasilAgro, São Martinho e Cosan.

O presidente Michel Temer apoia a iniciativa. Para o deputado, necessária para que o Brasil “aumente sua produção de grãos e faça uma expansão significativa da área florestal plantada”. Ou seja, a indústria de celulose seria uma das principais beneficiadas.

Cardoso conta que Dilma Rousseff queria colocar um limite “pequeno” para cada estrangeiro. O que, segundo ele, não foi aceito pelo mercado e “inviabiliza a ideia”. “O mercado quer a isenção de limite, mas também é algo que dificulta a aprovação por conta de aspectos de soberania, de controle que o Estado precisa ter”.

O ruralista diz que é possível aprovar o projeto ainda em 2016, após as eleições, a discussão do ajuste fiscal e da previdência: “Seria um presente de Natal para os setores agrícola e florestal”.

SEM ONGS, SEM MOVIMENTOS SOCIAIS

O InfoMoney pergunta por que ONGs e fundos soberanos foram excluídos do texto inicial. Cardoso alega que as ONGs “não têm compromisso de investimento no país”. “O projeto é para o setor produtivo, gerar emprego, renda, tributação e divisa para o país. Não é para especular terra ou permitir que qualquer um tenha condição de transformar o Brasil em uma grande imobiliária”.

O deputado considera impossível o estrangeiro fundar outra nação dentro do Brasil. “Chega de ideologia nisso”, afirma, eximindo-se de qualquer ideologia – liberal, no caso – que ele mesmo tenha. “É uma política de Estado, de fazer a nação crescer, de dominar as terras brasileiras com controle pleno e visão até nacionalista”.

Perguntado sobre a oposição de movimentos sociais, Cardoso definiu o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como “uma organização criminosa”. “Se o MST se tornar uma instituição digna de respeito, poderá até vir a fazer parte dessa discussão. Hoje, como está, sinto muito, mas eles primeiro precisam resolver os problemas dos crimes que vêm cometendo”.

O critério de 100 mil hectares se baseia, segundo o deputado, à “capacidade mínima para um grande projeto de celulose”. “Então, esse número é idealmente em torno de 100 mil hectares”.

INTERESSES

Newton Cardoso Jr declarou possuir R$ 1,8 milhão, em 2014. A maior parte, R$ 1,5 milhão, relativa a um apartamento em Nova Lima (MG). Em 2010, seu pai declarou à Justiça Eleitoral uma fortuna de R$ 78 milhões. Entre os bens, várias empresas agropecuárias, entre elas a Pitangui Agroflorestal.

Em anos anteriores, a ex-mulher de Newton Cardoso acusou o ex-governador de possuir cem fazendas. Ele rebateu: “Não tenho 100, tenho 145”.

O Grupo Newton Cardoso atua em reflorestamento (tem também a Florevale), agropecuária e siderurgia – outro setor que será beneficiado pela venda de terras a estrangeiros, conforme a entrevista de seu filho ao InfoMoney.

A Floresta Vale do Jequitinhonha Ltda (Florevale) faz parte da NC Participações, declarada por Newton Cardoso à Justiça Eleitoral em 2010. Outro político mineiro que tem cotas – minoritárias – na NC Participações é Aécio Neves (PSDB). O tucano também tem cotas na empresa Agropecuária e Florestal Ltda.

A campanha de Newton Cardoso Junior foi majoritariamente financiada pelas empresas do pai, em 2014, na eleição para seu primeiro mandato na Câmara. A Rio Branco Agropecuária, por exemplo, doou R$ 520 mil. A Pitangui Agroflorestal, R$ 120 mil. O próprio Newton Cardoso, o pai, R$ 200 mil.

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