Governos estaduais param de titular terras quilombolas

In De Olho na Política, Em destaque, Principal, Últimas
(Foto: Mikaell Carvalho/Repórter Brasil)

Responsáveis por 80% das titulações no Brasil, eles não fizeram nenhuma em 2016; governo federal titula a primeira do ano hoje, Dia da Consciência Negra

A Comissão Pró-Índio informa: nenhuma terra quilombola tinha sido titulada até ontem, em 2016, nem pelo governo federal, nem pelos governos estaduais. O governo federal entrega a primeira neste domingo, Dia da Consciência Negra, em Alagoas. Mas as perspectivas, que já não eram boas, são ruins: o orçamento da União para 2017 é 87% inferior ao do ano passado.

A estimativa da Comissão Pró-Índio é de que 92% das famílias quilombolas – não custa lembrar, descendentes de escravos – vivem em terras não tituladas.

O Brasil tem 757 mil hectares de terras quilombolas tituladas, beneficiando 16.230 famílias. No total, são 165 terras tituladas. Outras nove têm concessão de direito real de uso – enquanto a titulação não vem. Outras 114 foram reconhecidas, mas não tituladas. Estão exatamente à espera dessas ações dos governos, que não estão sendo feitas.

image001

De Olho nos Ruralistas ouviu Otavio Penteado, assessor de programas da Comissão Pró-Índio de São Paulo, sobre o tema. Confiram a entrevista dada a Alceu Luís Castilho:

Os números sobre legalização de terras quilombolas mostram uma súbita paralisação em 2016. Qual o motivo?

O cenário em 2016 não se mostrou muito diferente dos demais em número de publicações. Se manteve o padrão de baixa efetividade do direito dos quilombolas à suas terras.

É verdade que ainda não tivemos titulações esse ano, mas o Incra anunciou a titulação de uma terra quilombola (TQ Tabacaria –AL) em 20 de novembro e de outras quatro até o final do ano. 

Confirmado esse total de 5 terras, ficaríamos na baixa média dos anos anteriores. 

O que cenário de 2016 tem de diferente é a ausência de terras tituladas até agora por governos estaduais, os responsáveis por praticamente 80% das 164 terras quilombolas tituladas no Brasil. 

O Pará, estado pioneiro na regularização de terras quilombolas e que titulou um total de 50 terras, diminuiu consideravelmente o ritmo de titulações nos últimos anos. Uma das razões é a limitação do orçamento para a titulação de terras quilombolas. 

Houve algum momento (algum ano, por exemplo), nessa série histórica, que se poderia chamar de aceitável em relação às demandas dos povos quilombolas?

Não, o número de terras quilombolas tituladas por ano sempre foi muito abaixo da demanda. Não há um ano que fuja a essa regra. 

Desde 1995 (quando pela primeira vez uma terra quilombola foi titulada) até hoje o governo federal regularizou apenas 36 terras e desse total 19 foram apenas parcialmente tituladas.

O contrate com o número de processos em tramitação é gritante, já que atualmente são mais de 1.500 processos abertos no Incra; um terço deles abertos há mais de 10 anos.

Estimamos que 92,5% das famílias quilombolas do Brasil vivem em terras não tituladas. 

Qual a provável perspectiva com o governo Temer?

O governo de Michel Temer ainda não se posicionou de forma mais clara sobre o que pretende para a política de regularização de terras quilombolas. Porém, há duas medidas que podemos tomar como sinais sobre suas intenções e, assim, considerar nada animadoras as perspectivas para os próximos anos.

A mudança da atribuição de regularizar as terras quilombolas do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário para a Casa Civil, o que pode indicar que o processo deixa cada vez mais de ser técnico e influenciado por decisões políticas.

E a proposta de cortar pela metade o orçamento para a regularização de terras quilombolas no Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2017 apresentada pelo governo ao Congresso Nacional. 

Estão previstos apenas R$ 4 milhões disponíveis – valor 87% inferior ao disponível em 2015. Com tão pouco recurso, a titulação pode se tornar uma realidade ainda mais distante para as comunidades quilombolas.

You may also read!

Estudo identifica pelo menos três mortes ao ano provocadas por agrotóxicos em Goiás

Pesquisadores da Universidade de Rio Verde identificaram 2.938 casos de intoxicação entre 2012 e 2022, que causaram câncer e

Read More...

Quem é César Lira, o primo de Arthur demitido do Incra

Exonerado da superintendência do Incra em Alagoas, primo do presidente da Câmara privilegiou ações em Maragogi, onde planeja disputar

Read More...

Reportagem sobre Arthur Lira ganha Prêmio Megafone de Ativismo

Vencedor da categoria Mídia Independente, dossiê do De Olho nos Ruralistas detalha face agrária e conflitos de interesse da

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu