JBS: delações apontam R$ 31 milhões para 99 deputados ruralistas

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Lista total da empresa fala em R$ 49 milhões, nas eleições de 2014, para 165 deputados; 66 membros da Frente Parlamentar da Agropecuária receberam R$ 22 milhões

Por Alceu Luís Castilho

Pelo menos 165 deputados federais em exercício receberam dinheiro – a maior parte de propina – da JBS nas eleições de 2014. Isto segundo as delações de Joesley Batista e de Ricardo Saud, presidente da J&F. De Olho nos Ruralistas fez um levantamento dos membros da Câmara que fazem parte da bancada ruralista, membros ou não da Frente Parlamentar da Agropecuária. Constatação: 99 desses 165 deputados são ruralistas. Eles receberam R$ 31 milhões de um total de R$ 49 milhões.

A lista divulgada pelo site Congresso em Foco traz o nome de 167 políticos (mais um suplente e um candidato não eleito), 165 deles deputados, que receberam doações da JBS. Segundo os delatores, a maior parte das doações era propina. Mesmo aquelas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um dos donos da empresa, Joesley Batista, explicou em vídeo como funciona o esquema:

– Normalmente acontece o seguinte: se combina o ilícito, se combina o ato de corrupção com o político, com o dirigente do poder público, e daí pra frente se procede o pagamento. Os pagamentos são feitos das mais diversas maneiras. Seja nota fiscal fria, seja dinheiro, caixa 2, até mesmo doação política oficial.

Cinco partidos concentram 95% das doações. Leia aqui: “JBS: PP concentra metade das doações para deputados ruralistas“.

HEINZE E SEUS COLEGAS

Entre os membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), 66 estão na lista divulgada pelos delatores. Isso significa 1/3 dos 202 deputados que compõem a frente na Câmara. Segundo a JBS, eles receberam R$ 21,6 milhões. Entre os 66 deputados listados, 21 ficaram com a maior parte desse valor: R$ 16,3 milhões. Vejamos a lista desses 21 parlamentares, organizada pelo observatório:

Entre esses 21 deputados está um expoente da FPA, o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), primeiro vice-presidente da CPI da Funai e do Incra, encerrada esta semana na Câmara. Dilceu Sperafico (PP-PR) também era membro titular da CPI. Heinze ficou famoso por ter se referido a indígenas, gays, lésbicas e quilombolas, durante uma audiência pública no Rio Grande do Sul, como “tudo que não presta”.

TAMBÉM NA LAVA-JATO

Heinze, Sperafico, Arthur Lira (PP-AL), Dilceu Sperafico (PP-PR), Jerônimo Goergen (PP-RS), Lázaro Botelho (PP-TO), Renato Molling (PP-RS) e Roberto Balestra (PP-GO) apareceram em 2015 na lista de 48 deputados investigados na Lava-Jato, conforme inquérito aberto pelo então ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF). A maioria desses deputados era ruralista, conforme levantou o Instituto Socioambiental (ISA).

Outros 15 deputados da FPA receberam, segundo os delatores da JBS, entre R$ 200 e R$ 500 mil nas eleições de 2014. São eles: Geraldo Resende (PMDB-MS), R$ 450 mil; Luiz Nishimori (PR-PR), Marinha Raupp (PMDB-RO) e Milton Monti (PR-SP), R$ 400 mil cada. Nishimori também integrou a CPI da Funai, que indiciou indígenas, antropólogos, indigenistas e procuradores.

A planilha divulgada pelos delatores da JBS continua com José Rocha (PR-BA) e Jorginho Mello (PR-SC), R$ 300 mil cada; Benito Gama (PTB-BA), R$ 285 mil; Benjamin Maranhão (SD-PB), Daniel Vilela (PMDB-GO), Giacobo (PR-PR), Nilton Capixaba (PTB-RO), Pedro Chaves (PMDB-GO) e Sergio Vidigal (PDT-ES), R$ 250 mil; Elcione Barbalho (PMDB-PA) e Lucio Vieira Lima (PMDB-BA), R$ 200 mil.

Tereza Cristina, atuante na CPI da Funai. (Foto: Divulgação)

Mais 14 deputados receberam entre R$ 100 mil e R$ 170 mil. Entre eles se destaca a deputada Tereza Cristina (PSB-MS), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e uma das mais ativas da bancada ruralista. Ela também integrou a CPI da Funai. Outro nome que se destaca nessa faixa de doações é o do deputado Carlos Marun (PMDB-MS), aliado do presidente Michel Temer e do ex-deputado Eduardo Cunha. Marun presidiu a Comissão Especial da Reforma da Previdência.

Por fim, 15 deputados da FPA receberam R$ 50 mil ou menos, de acordo com os delatores. Entre eles, três com valores irrisórios, abaixo de R$ 1 mil. Um dos três que receberam R$ 50 mil, Valtenir Pereira (Pros-MT), era membro titular da CPI da Funai. Os delatores não informaram de quanto foi a doação para o deputado Diego Andrade (PSD-MG).

OUTROS RURALISTAS

Nem todo deputado ruralista faz parte da Frente Parlamentar da Agropecuária. Alguns já fizeram parte, outros preferem ficar de fora, por motivos diversos – mas são notórios defensores do agronegócio e de grandes proprietários. De Olho nos Ruralistas identificou outros 23 ruralistas da Câmara na lista da JBS. Eles receberam, no total, R$ 9,1 milhões.

Entre eles, nove parlamentares foram agraciados, segundo os delatores, com a maior parte dessa fatia: R$ 7,9 milhões. São aqueles que receberam valores acima de R$ 500 mil. Vejamos:

Outros seis deputados ruralistas – mas que não integram a FPA – receberam pelo menos R$ 100 mil. São eles: Alfredo Nascimento (PR-AM), R$ 307 mil; Walter Ihoshi (PSD-SP), R$ 250 mil; Jair Bolsonaro (PP-RJ), R$ 200 mil; Sergio Moraes (PTB-RS), R$ 110 mil; Damião Feliciano (PDT-PB) e Paulo Azi (DEM-BA), R$ 100 mil cada.

Bolsonaro costuma esbravejar contra sem-terra e indígenas, em defesa aberta da violência: “Na Paraíba, Bolsonaro diz que vai dar fuzil contra ‘marginais do MST’“.

OUTRO LADO

O site Congresso em Foco, que divulgou a lista completa, tentou ouvir todos os políticos listados pelos delatores. Entre os 99 deputados ruralistas, 27 responderam.

São eles: Adail Carneiro (PP-CE, eleito pelo PHS), Aelton Freitas (PR-MG), Alfredo Nascimento (PR-AM), Beto Mansur (PRB-SP), Beto Rosado (PP-RN), Bilac Pinto (PR-MG), Daniel Vilela (PMDB-GO), Diego Andrade (PSD-MG), Dimas Fabiano (PP-MG), Eduardo Barbosa (PSDB-MG), Elcione Barbalho (PMDB-PA), Elizeu Dionizio (SD-MS), Geraldo Resende (PMDB-MS), Guilherme Mussi (PP-SP), Heitor Schuch (PSB-RS), Iracema Portella (PP-PI), Jerônimo Goergen (PP-RS), Lázaro Botelho (PP-TO), Luis Carlos Heinze (PP-RS),  Mário Heringer (PDT-MG), Nilton Capixaba (PTB-RO), Renato Andrade (PP-MG), Renzo Braz (PP-SP), Saraiva Felipe (PR-MG), Sergio Vidigal (PDT-ES), Valtenir Pereira (Pros-MT) e Zé Silva (SD-MG).

Os deputados Adail Carneiro (PP-CE), Beto Mansur (PRB-SP), Bilac Pinto (PR-MG), Beto Rosado (PP-RN), Elcione Barbalho (PMDB-MG), Elizeu Dionizio (SD-MS), Geraldo Resende (PMDB-MS), Guilherme Mussi (PP-SP), Heitor Schuch (PSB-RS), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Renato Andrade (PP-MG), Sergio Vidigal (PDT-ES) e Valtenir Pereira (Pros-MT), disseram que as doações da JBS foram legais. Alfredo Nascimento (PR-AM), Iracema Portela (PP-PI) afirmaram que todas as doações de campanha foram declaradas. Diego Andrade (PSD-MG), Eduardo Barbosa (PSDB-MG) e Renzo Braz (PP-SP) sustentam que não receberam recursos da JBS na campanha de 2014. Mário Heringer (PDT-MG) e Saraiva Felipe (PR-MG), que receberam somente material de propaganda eleitoral.

Zé Silva (SD-MG) definiu a citação de seu nome na delação como caluniosa. Lázaro Botelho (PP-TO) informou que deve haver um equívoco na citação de seu nome na lista. Dimas Fabiano, que não tem qualquer relacionamento com a JBS e sequer conhece seus diretores e acionistas. Nilton Capixaba (PTB-RO) afirmou que recebeu verba do partido sem saber quem era o doador. Daniel Vilela (PMDB-GO) contou que a doação de R$ 250 mil foi declarada e que sua relação era com José Batista Júnior, irmão de Joesley Batista e seu aliado político. Aelton Freitas (PR-MG) divulgou esta nota. Jerônimo Goergen (PP-RS) negou ter recebido repasse ilegal e contou que sua aproximação com o grupo empresarial se deu através do ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, a quem assessorou no ministério e que se tornou diretor da JBS.

A defesa completa dos deputados pode ser vista aqui.

SENADORES

A planilha de doações divulgada pelos delatores inclui também 28 senadores que receberam R$ 58 milhões. Pelo menos 22 deles são ruralistas. O valor é maior que a soma das doações para todos os deputados, mas principalmente pela presença na lista do senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato a presidente em 2014.

Foto principal: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados

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