Ministro da Agricultura pagou R$ 2,2 bilhões em propriedade de 105 mil hectares, a Itamarati, avaliada em R$ 300 milhões; fazenda no Mato Grosso tem onze pistas de pouso
No inicio do ano, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, arrematou a Fazenda Itamarati, da família de Olacyr de Moraes, o antigo “rei da soja”, por R$ 2,2 bilhões – no valor estariam inclusos outros ativos além da terra. A fazenda com 105 mil hectares foi um símbolo de desenvolvimento – e de conflitos – no Mato Grosso. Na semana passada, cenário de um caso de policia, como registrou o jornal mato-grossense O Livre.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado na delegacia de Campo Novo do Parecis, a 404 quilômetros de Cuiabá, um veículo Cruze dirigido por duas pessoas foi atingido, às 11h40, por uma bala disparada pela equipe de seguranças da fazenda. O motorista não quis revelar seu nome. O homem de 31 anos disse na delegacia que ia em direção a Tangará da Serra quando ficou com sede e desviou no sentido da fazenda do grupo Amaggi.
Em direção à guarita, após dirigir por cerca de 300 metros, um estrondo – e a janela do carro estilhaçada. Os cacos cortaram a testa da passageira. De acordo com o B.O., houve mais dois disparos em direção do casal. Ambos abaixaram e desligaram o carro. Um segurança armado pediu que o casal descesse e colocasse as mãos para o alto. “Como vou saber se vocês não querem me agredir?”, disse o guarda.
De acordo com o boletim de ocorrência, o segurança não deu opção de diálogo. Em seguida, outros guardas armados chegaram. O gerente da segurança alegou que o motorista estava em alta velocidade e derrapou o carro antes do quebra-molas. Por causa disso, a guarda efetuou o disparo “de advertência”. A vitima negou essa versão. Na quinta-feira (1), o caso foi registrado como tentativa de homicídio doloso.
O grupo Amaggi informou em nota que também registrou um B.O na Polícia Civil para reportar que, “por volta das 22h30 de quarta-feira, um veículo em alta velocidade adentrou as dependências da Fazenda Itamarati, propriedade privada, localizada na rodovia MT-358, desobedecendo as placas de sinalização no local (onde o limite de velocidade é de 20 km/h)”.
A empresa conclui a nota da seguinte forma: “Vendo-se em situação de risco, os vigilantes adotaram os procedimentos de segurança. Os suspeitos foram abordados e, após averiguação, liberados. A empresa se colocou à disposição e aguarda a apuração dos fatos por parte das autoridades policiais”.
VALOR SETE VEZES MAIOR
Dias antes da compra pelo grupo, de acordo com o Estadão, a Fazenda Itamarati estava estimada em R$ 300 milhões. Uma reportagem do Globo Rural confirmava o valor. A propriedade pertencia aos herdeiros de Olacyr de Moraes, morto em 2015, e estava sendo arrendada ao Grupo Amaggi desde 2002. Acabou sendo comprada por R$ 2,2 bilhões.
Ao jornal mato-grossense O Livre, o Grupo Amaggi disse que no valor estavam inclusos outro ativos pertencentes à Companhia Agrícola do Parecis (Ciapar). A propriedade conta com 700 funcionários e tem 51 mil hectares de área produtiva. O jornal local informa que dentro da propriedade há onze pistas de pouso e decolagens, hangar, silos e uma vila que abriga centenas de funcionários. A ideia do ministro é transformar a região em um município.
UM POUSO FICTÍCIO
Em junho do ano passado, a fazenda Itamarati Norte protagonizou outro caso nas páginas policiais. Um bimotor foi interceptado com 653 quilos de cocaína pela Força Aérea Brasileira (FAB), na região de Aragarças (GO). Em nota, a FAB informou que o avião, de matrícula PT-IIJ, decolara da Fazenda Itamarati Norte, conforme disse o piloto durante a abordagem. No mesmo dia, o Grupo Amaggi confirmou administrar uma fazenda com “o mesmo nome”, mas negou ter qualquer relação com a aeronave.
Dois dias depois, a Policia Federal (PF) alegou que, segundo uma analisa feita do GPS, o avião não tinha decolado da Fazenda Itamarati Norte. À TV Anhanguera, retransmissora da TV Globo em Goiás, a PF disse que a aeronave saiu de Cuiabá às 4 horas e chegou na Bolívia às 6h40. O piloto da aeronave, Apoena Índio do Brasil Siqueira Rocha, teria mentido sobre o plano de voo para a FAB ao ser interrogado.
Em nota, o grupo Amaggi reforçou não ter qualquer relação com o bimotor e alegou que a região de Campo Novo de Parecis é “vulnerável à ação de grupos do tráfico internacional de drogas, dada a sua proximidade com a fronteira do estado de Mato Grosso com a Bolívia”. (Cauê Seignemartin Ameni)