Candidatos do Mato Grosso do Sul apoiaram a resistência armada contra indígenas e procuram a reeleição; governador Azambuja é acusado de receber propina da JBS
Por Luís Indriunas
O governador Reinaldo Azambuja (PSDB), o senador Waldemir Moka (MDB) e a deputada federal Tereza Cristina (DEM), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), foram alguns dos anfitriões sul-mato-grossenses do chamado leilão da resistência. Um evento ocorrido em 2013 em Campo Grande, quando produtores do Estado arrecadaram R$ 640 mil para resistir, inclusive com armas, contra as ações de indígenas e camponeses que tentam frear as investidas do agronegócio em suas terras.
Tereza Cristina motiva uma reportagem específica da série De Olho na Bancada Ruralista: “Artífice do apoio ruralista a Bolsonaro, deputada do MS legisla em prol dos seus financiadores“.
Os três tentam a reeleição. Também estavam no evento o atual candidato ao Senado Nelson Trad (PTB), o deputado federal Henrique Mandetta (DEM), que desistiu da reeleição, e o deputado federal eleito Carlos Marun (MDB), atual ministro da Secretaria de Governo de Temer. O leilão, que chegou a ser proibido pela Justiça na época, contou ainda com a presença de outros expoentes nacionais dos ruralistas, como o candidato ao governo goiano Ronaldo Caiado (DEM) e a candidata à vice-presidente Kátia Abreu (PDT), ambos senadores.
Além de defender as grandes empresas do agronegócio, grandes doadoras de campanha, alguns desses políticos estão envolvidos em investigações da Polícia Federal que ligam os doadores a benefícios financeiros dentro do estado. É o caso do governador Reinaldo Azambuja.
PROPINA PARA PAGAR MENOS IMPOSTO
Pecuarista, dono de fazendas no valor de R$ 25,4 milhões, ele está sendo investigado por receber propina do grupo JBS para isentar tributos estaduais da empresa. Enquanto fazia campanha, sua casa e seu gabinete foram alvo de busca e apreensão da Polícia Federal no início de setembro. Seu filho Rodrigo Silva foi preso.
Em 2014, Azambuja teve a campanha mais cara do estado: R$ 25,3 milhões, quase R$ 1 milhão a mais que seu principal adversário, Delcídio do Amaral, na época filiado ao PT.
O maior doador individual de Azambuja foi um ex-gerente de banco que se tornou pecuarista, Ivanildo da Cunha Miranda, com R$ 550 mil. Durante a operação Lama Asfáltica, Miranda abriu o jogo de como funcionava a operação do ex-governador André Puccinelli (MDB), preso por corrupção. Segundo o doleiro Lúcio Funaro, Ivanildo foi responsável por facilitar empréstimo para a Agropecuária Marfrig e emitir notas falsas para dedução de ICMS para a JBS e a Buriti Carnes, num esquema que teria continuado no governo Azambuja.
Oficialmente, a JBS doou R$ 10,7 milhões para a campanha do governador em 2014, por meio dos diretórios estaduais e nacionais do PSDB. Segundo a delação dos proprietários da empresa, Wesley e Joesley Batista, as propinas da companhia para Azumbuja chegaram a R$ 24,8 milhões. A Buriti Carnes doou oficialmente R$ 747 mil diretamente para o candidato.
Outro beneficiado oficialmente pela JBS foi Nelson Trad, então candidato ao governo, em 2014, que recebeu R$ 3,25 milhões da empresa. Parte desse dinheiro, mais de R$ 130 mil, foi para a campanha da deputada Tereza Cristina, que hoje briga na Justiça contra a JBS, que a acusa de calote.
Adversário de Trad nesta eleição, Waldemir Moka não consta na lista de beneficiados pela JBS, mas é um constante defensor do ex-governador André Puccinelli (MDB), acusado de ser o mentor do esquema de notas frias e propina que beneficiaram a multinacional da carne. Em 2010, Moka recebeu R$ 250 mil de Puccinelli, hoje preso.
Ao se levar em conta a delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da JBS, o esquema de propina e benefícios era algo combinado mesmo entre adversários. Antes de perder seus direitos políticos, o ex-senador Delcídio do Amaral foi candidato ao governo em disputa com Azambuja, em 2014, e teria recebido R$ 12 milhões da empresa.
Delcídio perdeu o mandato em 2016. Quem assumiu o cargo foi seu suplente, o empresário Pedro Chaves (PRB). Sem acusações de corrupção, o milionário e novato na política Chaves gostou da experiência do poder e pensou em se reeleger, mas acabou desistindo.
AMIGO DE BUMLAI E DO AGRONEGÓCIO
Mesmo sem experiências em eleições, o senador Pedro Chaves foi, além de suplente, o coordenador da campanha de 2010, quando Delcídio do Amaral elegeu-se senador. Não imaginava que iria ocupar a cadeira do Senado, seis anos depois.
A ligação com a política não era novidade para o empresário. Sua filha Neca Chaves Bumlai é casada com Fernando Bumlai, filho de José Carlos Bumlai, conhecido como amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – ele é amigo de inúmeros políticos – e preso pela Operação Lava Jato.
Seu empenho na campanha de Delcídio, coordenando as doações, era grande e pessoal. Entre empresas, Chaves e seus familiares, as doações somaram R$ 1 milhão.
Quando assumiu a cadeira no Senado, Chaves tornou-se o quarto senador mais rico da casa, perdendo apenas para Tasso Jereissati (PSDB-CE), Blairo Maggi (PP-MT) e Eunício de Oliveira (MDB-CE). Seu patrimônio, segundo declaração de 2010 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), era de mais de R$ 69 milhões, sendo cerca de R$ 3 milhões relativos a quatro propriedades rurais. Dez anos depois, sua fortuna quase dobrou: R$ 130 milhões.
O principal ramo de atividade de Chaves é a educação, mas o apoio aos gigantes do agronegócio faz parte da linha política do senador. Ele comemorou a derrubada do veto presidencial, pelo Congresso, a uma anistia às dívidas do setor com a União.
No pouco tempo de mandato, o senador foi protagonista de um projeto que visava reprimir manifestações no interior do país. Chaves apresentou uma alteração no Código Nacional de Trânsito, que previa multa para o pedestre que interrompesse as vias públicas.
Confira os planos dos atuais membros sul-mato-grossenses da Frente Parlamentar da Agropecuária:
DE OLHO PREPARA ESPECIAL SOBRE O MS
Nas próximas semanas, o De Olho nos Ruralistas começa uma série especial sobre o Mato Grosso do Sul. Serão detalhadas as relações de autoridades e empresários com os povos indígenas, além de mostrar como vivem as populações tradicionais no Estado, vítimas da violência e pressão constante do agronegócio. Aguarde.