Em resposta a reportagens do De Olho nos Ruralistas, Grupo Massa diz que preservará floresta e trabalhará com créditos de carbono; em outra ocasião ele chegou a falar em 200 mil hectares, 1/3 da Palestina; povos indígenas criticam o latifúndio e seus impactos
Por Mariana Franco Ramos
Três dias após o início da publicação de reportagens sobre seu império agrário, o Grupo Massa emitiu uma nota relativa às terras no Acre, tema do segundo texto da série. A empresa pertencente ao apresentador Carlos Massa, o Ratinho, informou que a área total na Amazônia é de 149.400 hectares, e não 175.300 hectares. E que as terras estão “documentadas e regularizadas pelos órgãos ambientais há mais de vinte anos”.
Uma área de 149.400 hectares é quase o tamanho de Guadalupe, território francês no Caribe. Ou uma vez e meia o território de Hong Kong. Para se ter uma ideia melhor, a área da Palestina corresponde a 600 mil hectares, pouco mais que os 580 mil hectares que formam o Distrito Federal.
O Grupo Massa não fez menção aos despejos que ocorrem há pelo menos dezoito anos em terras do empresário, do Acre ao Paraná. De acordo com a empresa, o projeto do grupo é “manter a preservação da floresta e trabalhar com crédito de carbono”.
A primeira reportagem, sobre conflitos com camponeses, foi publicada na terça-feira (20). No dia seguinte foi a vez da reportagem sobre o latifúndio na Amazônia, adquirido junto à Companhia Paranaense de Colonização Agropecuária e Industrial do Acre (Paranacre). Fontes ouvidas pelo observatório contam que elas são fruto de um processo de grilagem, iniciado com os antigos donos, e de exploração de mão de obra.
GRUPO REPETE ESTRATÉGIA DE ATAQUE DA FRENTE PARLAMENTAR DA AGROPECUÁRIA
Confira a nota na íntegra:
“Sobre a matéria veiculada pelo site De Olho nos Ruralistas e replicada pelo site Plural, o Grupo Massa reitera o compromisso que sempre teve com ações ambientais e de preservação. Sobre a área de 149 mil e 400 hectares localizada no Acre, informamos que as terras estão documentadas e regularizadas pelos órgãos ambientais há mais de 20 anos. A área permanece preservada de acordo com as políticas do Grupo de Preservação da Floresta Amazônica. O projeto do Grupo Massa para esta área e de manter a preservação da floresta e trabalhar com crédito de carbono. Lamentamos a divulgação de informações inverídicas e sem fundamento e reforçamos nosso compromisso no combate as fake News”.
O grupo foi procurado desde o dia 13, mas só se manifestou agora, após a replicação da série no site Plural, com sede no Paraná. A estratégia de classificar as reportagens de “fake news” é a mesma adotada pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em ataques ao observatório, sem enviar nenhuma correção.
A série de reportagens foi produzida durante três meses, após pesquisa em dezenas de documentos — entre eles decisões judiciais — e várias entrevistas, de especialistas a líderes camponeses. De Olho nos Ruralistas mantém as informações publicadas.
GOVERNO DO PARANÁ DIZ DESCONHECER DESPEJOS REALIZADOS NO ESTADO
O governo do Paraná, chefiado por um dos filhos de Ratinho, Carlos Massa Ratinho Júnior, também divulgou uma nota relativa aos despejos realizados no estado, tema da primeira reportagem da série:
“O Governo do Estado lamenta não ter sido procurado pelo De Olho nos Ruralistas ou pelo Plural na reportagem, publicada e republicada sem o mínimo de senso crítico. Há no texto erros primários, como o intertítulo “Ratinho Jr despejou mais de 500 famílias no Paraná”. Como se sabe, processos de desapropriação são ordenados pelo Poder Judiciário e cumpridos pela autoridade policial, sem qualquer relação subjetiva com o chefe de Poder Executivo. O Governo do Estado também desconhece a informação de “nove despejos, em diversas regiões do Paraná” porque não foi consultado sobre eles e não teve a chance de se pronunciar, contextualizar a questão e se posicionar diante das ilações políticas. Nenhuma das supostas informações foi confrontada, restando, por óbvio, que se trata de mau jornalismo. O Governo do Estado também lamenta a relação desarrazoada entre as desapropriações realizadas pela autoridade policial com as empresas e pessoas citadas, além do uso de imagens distorcidas e retiradas de contexto para satisfazer a vontade do texto”.
Foto principal (Reprodução): Ratinho em uma de suas fazendas, durante visita da apresentadora Eliana
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