38 camponeses querem ocupar os parlamentos estaduais e federal

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Representantes de povos do campo defendem reforma agrária, direito à terra, comida de verdade e direitos humanos; candidatos representam todas as regiões e se alinham em na proteção de comunidades tradicionais; luta política dentro e fora das eleições ocorre há décadas

Por Luma Prado e Nanci Pittelkow

Representantes do campesinato, incluindo ribeirinhos, pescadores, sem-terra e populações tradicionais, lançaram candidaturas para conquistar espaços na política institucional, na eleição de 2 de outubro. Para o terceiro episódio do De Olho na Resistência especial eleições foram identificadas 38 chapas reunindo 25 homens e 13 mulheres de todas as regiões do Brasil, sendo uma chapa coletiva feminista. Estão distribuídas por 17 estados, em todas as regiões, e no Distrito Federal. 

As pautas camponesas incluem reforma agrária e direito à terra, comida de verdade, combate à fome, produção sem veneno e fortalecimento da agricultura camponesa . “A gente luta diariamente contra o agronegócio, contra o capitalismo que vem desenfreado trazendo doenças e alimentos com veneno”, conta o professor Rafael Chapéu de Couro, candidato a deputado estadual pelo PT-PB. “Por tudo isso é importante ter representantes na Câmara, nas Assembleias Legislativas, em todas as instâncias do nosso país”, completa.

As candidaturas do campo reúnem acampados e assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), camponeses ligados à Comissão Pastoral da Terra (CPT), integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Movimento pela Soberania Popular Frente à Mineração (MAM), trabalhadores rurais e militantes. Veja no mapa interativo abaixo os candidatos em seus estados.

Mapa mostra candidaturas camponesas em 17 estados mais Distrito Federal. (Elaborado por Eduardo Luiz Damiani Goyos Carlini)

CANDIDATOS DEFENDEM AGROECOLOGIA CONTRA O AGRONEGÓCIO

As candidaturas ligadas ao MST têm como objetivo eleger bancadas que defendam reforma agrária, moradia e alimentação digna. Todos saem pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e apoiam a eleição de Lula. Já o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) não tem candidaturas próprias, mas apoia aliados, como a quilombola e pescadora Eliete Paraguassu. 

Assim como os candidatos indígenas e quilombolas, os camponeses defendem o ambiente e a proteção da vida. “Continuando a lógica atual não há desenvolvimento, é o fim da Amazônia”, diz a ribeirinha Carmen Foro, candidata a deputada federal pelo PT-PA. “Eu quero fazer a defesa que eu faço a minha vida inteira, como agricultora, e precisamos de parlamentares comprometidos não só com os seus bolsos, mas com a vida”, explica.

Produção agroecológica está na pauta camponesa. (Foto: Juliana Barbosa/Divulgação)

Se eleitos, os candidatos do campo pretendem ampliar a resistência que já alimenta a defesa de seus territórios. “Somos cercados por plantadores de soja, a Suzano, a pecuária, as barragens” conta Vânia Ferreira, militante do MST e candidata a deputada federal PT-MA. “No meio disso tudo estão as comunidades camponesas, os assentados, os quilombolas, os povos indígenas, quebradeiras de coco, as comunidades e povoados, trabalhadores rurais e os pequenos agricultores e agricultoras do nosso estado”, enumera. 

Além de defender suas comunidades, representantes de povos tradicionais querem levar suas propostas de desenvolvimento para o país. “Nossa resistência está na construção de experiências concretas de promoção de educação e pesquisa em agroecologia”, conta Alexandre Pires, candidato a deputado estadual pelo PSOL-PE. “São experiências protagonizadas principalmente por mulheres e por jovens, de tecnologias sociais que contribuem para o uso sustentável e eficiente dos nossos bens comuns, da nossa água, das nossas sementes crioulas”, detalha.

Veja mais propostas e candidaturas no terceiro vídeo do especial sobre Eleições do De Olho na Resistência:

POLÍTICA É TERRITÓRIO CAMPONÊS HÁ DÉCADAS   

A história da luta camponesa é bem maior que a via eleitoral. Maria Margarida Alves, por exemplo, foi uma mulher pioneira no sindicalismo rural na Paraíba e marcou a trajetória de camponeses que hoje buscam se eleger. “Eu era adolescente quando conheci Margarida em um comício na minha comunidade”, lembra Vânia Ferreira. “Foi a primeira vez que ouvi falar de Reforma Agrária e direitos trabalhistas.”

Movimentos do campo lutam por mais políticas públicas. (Foto: Divulgação)

O professor Rafael também foi marcado pelos movimentos sociais do campo. “A minha avó, Dona Helena, era uma líder camponesa da Comissão Pastoral da Terra (CPT)”, conta. “Desde criança a via atuando como líder dos trabalhadores, religiosa e catequista”.

Já na política institucional os camponeses estão presentes desde ao menos a década de 1960. José Porfírio de Souza é considerado o primeiro deputado camponês, eleito deputado estadual pela coligação PTB-PSB no estado de Goiás, em 1963. Com o golpe de 1964, teve seu mandato cassado, foi preso e permanece desaparecido. 

O advogado Francisco Julião não era camponês, mas representava as Ligas Camponesas e defendia a reforma agrária, pelo Partido Socialista Brasileiro. Foi cassado e preso em 1964. Como mostram dois dos episódios do programa De Olho na História, o golpe de 1964 foi dado contra o campo e contra sua organização política.

Mesmo assim, houve resistência. Militantes históricos do MST, como Adão Pretto e Marcon, do PT-RS, e Valmir Assunção, do PT-BA, são alguns dos nomes que ocuparam cadeiras nos parlamentos estaduais e federal na Nova República. Entre as mulheres, Luci Choinacki foi a primeira mulher agricultora eleita na história de Santa Catarina nos anos 90.

PROPOSTAS UNEM ELEIÇÕES E MANUTENÇÃO DA LUTA

Mulheres camponesas se organizam para participar da política. (Foto: Divulgação)

Para quem é do campo, as eleições são uma continuidade do dia a dia. “Produzir alimentos saudáveis é um ato político. Assim como defender a saúde pública de qualidade, a democratização do acesso à terra, o direito ao trabalho, ao lazer, ao esporte”, afirma Vânia Ferreira, do PT-MA. “Precisamos ter vozes do campo, da periferia, das mulheres, defendendo nosso projeto de vida”.

“É importante votar em parlamentares para as assembleias legislativas, câmara e senado em pessoas que estejam comprometidas com as causas populares”, diz Alexandre Pires, do PSOL-PE. “Comprometidos com a agroecologia, agricultura familiar e camponesa, combate aos agrotóxicos e aos transgênicos, contra o latifúndio e contra essa lógica que oprime, que escraviza e que violenta as pessoas, e sobretudo as mulheres.”

Nos próximos programas serão abordadas as bancadas da comida de verdade, do ambiente, da cultura e diversidade. (Colaborou Natalie Hornos)

Foto principal (Pedro França/Agência Senado): Na Marcha das Margaridas, camponesas reúnem forças para influenciar a política. 

| Luma Prado é historiadora, roteirista e apresentadora do De Olho na Resistência. |

|| Nanci Pittelkow é jornalista. ||

VER MAIS:
Candidatos indígenas de 45 povos podem se eleger em 24 estados
Quilombolas lançam candidaturas em 13 estados
Cobertura eleitoral terá dossiês sobre bancada ruralista e governo Bolsonaro

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