Conheça, um a um, os principais responsáveis pela boiada no Congresso

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Dossiê expõe conflitos de interesses e conexões empresariais de 52 líderes da Frente Parlamentar da Agropecuária; cartas de baralho — com naipes de motosserras, picaretas, armas e cifrões — mostram hierarquia da bancada e o papel deles na destruição socioambiental

Por Alceu Luís Castilho e Bruno Stankevicius Bassi

Clique para acessar dossiê com conexões empresariais de líderes ruralistas. (Imagem: Renato Aroeira/De Olho nos Ruralistas)

Criada oficialmente em 1995, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) constitui, ao longo das últimas três décadas, o grupo de interesse mais poderoso do Congresso Nacional. Com 280 membros — 39 senadores e 241 deputados federais, representando 22 dos 23 partidos com mandatos na atual legislatura —, ela é a face mais saliente da bancada ruralista em Brasília.

O que faz da FPA o grupo de interesse mais poderoso de Brasília não é apenas o número de integrantes que a compõem. O que torna a frente ruralista capaz de navegar com tranquilidade entre mudanças de governo – de FHC a Lula, do apoio ao impeachment de Dilma Rousseff à eleição de Jair Bolsonaro – é o grau de articulação de seu núcleo duro: um grupo composto por 52 deputados e senadores que ocupam (ou ocuparam) cargos diretivos dentro da frente.

Ao longo dos últimos meses, De Olho nos Ruralistas analisou o histórico de atuação e as conexões empresariais destes parlamentares. Quem mantém e quem elege esses operadores? A quais interesses eles atendem? Estas são algumas das perguntas respondidas pelo do dossiê “Os Operadores da Boiada“, que apresenta, como cartas de um baralho, quem são os líderes ruralistas responsáveis por fazer girar o rolo compressor de direitos socioambientais movido durante o governo de Jair Bolsonaro.

Confira aqui o relatório na íntegra.

DOCUMENTOS MOSTRAM COMO CONGRESSO ATENDE SETORES PRIVADOS

O documento é uma continuação do relatório “Os Financiadores da Boiada: como as multinacionais do agronegócio sustentam a bancada ruralista e patrocinam o desmonte socioambiental”, publicado em 18 de julho, com versões em português e inglês, que detalhou a rede corporativa por trás do Instituto Pensar Agro (IPA), o cérebro pensante por trás da FPA.

Prestes a eleger seus representantes no próximo domingo (02/10), o país precisa decidir qual Congresso escolherá para os próximos quatro anos. Neste contexto, o dossiê serve tanto como um guia para conhecer as pretensões eleitorais dos “políticos de estimação” do agronegócio, como um documento de referência para as futuras gerações, mostrando como o poder corporativo captura a vontade popular em prol do lucro de um punhado de executivos e latifundiários.

Se, por um lado, precisamos dar mais visibilidade aos povos do campo, e não somente em épocas eleitorais, por outro lado a população precisa conhecer melhor os parlamentares que defendem esses interesses privados no Congresso e nas Assembleias.

Neri Geller (PP-MT), Tereza Cristina (PL-MS) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) são algumas das peças do baralho ruralista. (Arte: Felipe Fogaça/De Olho nos Ruralistas)

“BARALHO RURALISTA” EXPÕE CONEXÕES EMPRESARIAIS DE PARLAMENTARES

Para demonstrar os mecanismos de funcionamento da FPA e dos principais atores que a conectam com o setor privado e com o bolsonarismo, De Olho nos Ruralistas apresenta o histórico de cada um de seus líderes, representados como as cartas de um baralho ruralista.

Entre os reis e rainhas, as cartas mais fortes, estão alguns dos principais líderes da frente, como o atual presidente Sérgio Souza (MDB-PR) e sua antecessora Tereza Cristina (PP-MS).

Líderes da FPA representam interesses corporativos no Legislativo e junto ao governo Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

Candidata ao Senado, a ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro recebeu doações de campanha de financiadores diretos do IPA, como Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB); Mario Sergio Cutait, conselheiro do Sindirações; e Maria Tereza Zahran, diretora da Famasul. Ela também recebeu financiamento de Rubens Ometto, dono da Cosan, a quem concedeu acesso privilegiado no governo, com reuniões exclusivas em seu gabinete.

Os valetes — os “escudeiros” do agronegócio — incluem ruralistas famosos pela agressividade empenhada em defesa do setor e contra os povos do campo, como os gaúchos Alceu Moreira (MDB-RS) e Luis Carlos Heinze (PP-RS), respectivamente deputado e senador. Ambos receberam doações de gigantes do agronegócio: Moreira recebeu aportes do setor de biodiesel, com remessas de Erasmo Carlos Battistella, da BSBios (R$ 50 mil) e Rafael Abud, da FS Bioenergia (R$ 40 mil), enquanto Heinze foi agraciado com R$ 150 mil da família Logemann, dona da SLC Agrícola, maior produtora de soja do Brasil.

Os demais integrantes dessa elite ruralista se espalham entre os naipes que aqui, diferente do baralho clássico, representam áreas de atuação: do fomento ao desmatamento e grilagem à atuação corporativa junto às multinacionais; da defesa do armamento rural à exploração desenfreada de terras indígenas e unidades de conservação, em articulação com os setores minerário e imobiliário.

Como em todo baralho que se preze, há também os coringas: o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), responsável por dar passagem à boiada, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente e principal ponto de articulação da família com o setor agropecuário.

Irajá (PSD-TO), Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Marcos Rogério (PL-RO) disputam governos estaduais. (Arte: Felipe Fogaça/De Olho nos Ruralistas)

CONGRESSO PRECISA TER MAIS INDÍGENAS, CAMPONESES E QUILOMBOLAS

Engana-se quem pensa que a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, sozinha, será suficiente para frear a boiada em curso no país. Com um Congresso majoritariamente dominado por interesses privados, é igualmente fundamental fortalecer a representação de candidaturas do campo popular para contrabalançar o poder ruralista nas duas casas.

Graças ao seu formato organizacional, pautado na assessoria técnica do IPA, e a um esforço permanente de formação de novos líderes ruralistas, a FPA conseguiu fazer suas pautas não perderem impulso mesmo quando a frente perdeu 48% de seus membros, que não conseguiram se reeleger em 2018. Com uma tendência menor à renovação neste ano, a necessidade de se eleger representantes capazes de combater o ruralismo no Congresso se faz ainda mais urgente.

Dos 54 líderes mapeados no dossiê “Os Operadores da Boiada” , 36 concorrem à reeleição; 34 na Câmara e 2 no Senado. Essa lista inclui os “coringas” Arthur Lira (PP-AL) — que protagoniza a imagem principal do dossiê, desenhada por Renato Aroeira — e Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Há ainda quatro deputados que tentam ascender ao Senado: Tereza Cristina (PL-MS), Celso Maldaner (MDB-SC), Neri Geller (PP-MT) e Aline Sleutjes (PROS-PR). Outros seis senadores mantêm seus mandatos até 2026 e não disputam nenhum cargo eleitoral.

O levantamento mostra ainda que oito líderes ruralistas disputam governos estaduais. São eles: Marcos Rogério (PL), em Rondônia; Jorginho Mello (PL), em Santa Catarina; Zequinha Marinho (PL), no Pará; Irajá (PSD), no Tocantins; Sérgio Petecão (PSD), no Acre; Vitor Hugo (PL), em Goiás; Luis Carlos Heinze (PL), no Rio Grande do Sul. Segundo a última pesquisa do Ipec, divulgada na última segunda-feira (26/9), Rogério, Jorginho e Zequinha são os únicos com chances reais de disputar o segundo turno em seus estados.

| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |

|| Bruno Stankevicius Bassi é coordenador de projetos do observatório. ||

Imagem principal (Renato Aroeira/De Olho nos Ruralistas): a boiada comandada por Arthur Lira tem seus principais operadores

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