Cana contamina pesqueiros e rios do interior de SP com agrotóxicos

In De Olho no Ambiente, Em destaque, Principal, Últimas

Tese de doutorado analisou a incidência de agrotóxicos e cafeína em cinco pesque-pagues e tanques de peixe na região de Ribeiro Preto

Por Izabela Sanchez

Os pesqueiros e os tanques de peixe da região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, estão contaminados com ao menos cinco tipos diferentes de agrotóxicos, além da cafeína. É o que mostra uma tese de doutorado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) defendida pela pesquisadora Maria Amália da Silva Santarossa: “Contaminação de águas de pesque-pague por agrotóxicos e cafeína em áreas de cultivo de cana-de-açúcar”.

A pesquisa analisou amostras de águas e sedimentos de fundo dos tanques de peixes dos pesque-pagues entre junho de 2014 e maio de 2015. Além da cafeína, as maiores contaminações ocorreram com os herbicidas tebutiuron, metolacloro, hexazinona, atrazina, ametrina e clomazone.

AGROTÓXICOS EM ABUNDÂNCIA

Enquanto o agronegócio defende a expansão tecnológica como saída para a incidência de agrotóxicos, a pesquisa mostra que o fator determinante para a contaminação dos cinco pesqueiros analisados foi a quantidade de agrotóxicos utilizados nas plantações de cana-de-açúcar. Os pesqueiros ficam no entorno dessas áreas.

A pesquisadora explica que o tebutiuron, o agrotóxico prevalente nas águas dos pesque-pagues, é mais tóxico para os organismos-teste que a cafeína. Pela toxicidade aguda, o tebutiuron representa alto risco de intoxicação ambiental para L. minor e um risco de intoxicação ambiental aceitável para D. magna e O. niloticus. 

276 HERBICIDAS E 73 INSETICIDAS

A tese mostra que a região Sudeste concentra 64,0% da área plantada com cana-de-açúcar, com 82% do cultivo no estado de São Paulo. De acordo com o Ministério da Agricultura, essas plantações recebem 276 formulações comercias de herbicidas e 73 de inseticidas diferentes.

“Na safra de 2014/2015, foram destinadas para a cultura de cana-de-açúcar 72.913 toneladas de agrotóxicos, compostas por 82,2% de herbicidas, 13,2% de inseticidas, 1,90% de fungicida e 0,01% de acaricidas”, alerta a pesquisadora.

Na região sul do estado, 14% das amostras de águas analisadas estavam contaminadas com resíduos de carbofurano, 3% com trifluralina, 2% com atrazina e 3% com simazina. O estudo identificou maior incidência de amostras de água contaminadas durante o período chuvoso. Os períodos de contaminação coincidiram com a estação de chuva, entre janeiro e maio.

GLIFOSATO NO RIO CORUMBATAÍ

A pesquisa esclarece que foram encontrados resíduos de ametrina nas águas superficiais e nos sedimentos dos rios Sapucaí, Baixo Pardo, Pardo e Mogi-Guaçu, todos próximos de cultivos de cana-de-açúcar. Os agrotóxicos ametrina e glifosato também foram encontrados no sedimento de fundo da sub bacia hidrográfica do Rio Corumbataí.

Em cinco pesque-pagues alvos do estudo, a pesquisadora identificou 6 dos 15 agrotóxicos analisados, provenientes das lavouras de cana. “Os agrotóxicos encontrados nas águas de afluente e de tanque de peixes dos pesque-pague foram ametrina, atrazina, clomazone, hexazinona, metolacloro e tebutiuron”, detalha o estudo.

O herbicida tebutiuron foi o maior contaminante das águas. Em seguida vieram os herbicidas metolacloro e hexazinona. Os afluentes dos pesqueiros estavam mais contaminados que os tanques de peixe. Estes apresentaram os herbicidas metolacloro, tebutiuron, hexazinona e o isoxaflutol.

A pesquisadora explica que os prováveis fatores ambientais locais que influenciaram na contaminação das águas dos pesque-pagues foram à quantidade de agrotóxicos aplicados nas plantações e o manejo do solo. “Esses fatores podem ter auxiliado nos transportes dos herbicidas, aplicados nas culturas de cana-de-açúcar, em direção aos corpos d’água durante períodos de chuvas via escoamento superficial e lixiviação”, afirma.

MORTE DE PEIXES

Os agrotóxicos provocam a morte e alteração nas espécies de peixes encontrados na região. Maria Amália conta que, entre os efeitos nos cardumes, estão a redução do crescimento e do comportamento antipredador dos peixes, a atividade locomotora elevada, a imunidade reduzida e as infecções elevadas.

Rio Corumbataí: com agrotóxicos. (Foto: Unesp)

Ocorrem também anormalidades morfológicas das gônadas associadas a alterações na produção de hormônios sexuais. Isso evidencia que a atrazina pode ocasionar perturbações ao sistema endócrino.

A baixa declividade da microbacia e a mata ciliar são fatores relevantes para a contaminação. Mas a pesquisa mostra não foram determinantes. O que determinou o índice de contaminação, ela conclui, foi a quantidade aplicada na área e o manejo do solo.

You may also read!

Expulsão de camponeses por Arthur Lira engorda lista da violência no campo em 2023

Fazendeiros e Estado foram os maiores responsáveis por conflitos do campo no ano passado; despejo em Quipapá (PE) compõe

Read More...

Estudo identifica pelo menos três mortes ao ano provocadas por agrotóxicos em Goiás

Pesquisadores da Universidade de Rio Verde identificaram 2.938 casos de intoxicação entre 2012 e 2022, que causaram câncer e

Read More...

Quem é César Lira, o primo de Arthur demitido do Incra

Exonerado da superintendência do Incra em Alagoas, primo do presidente da Câmara privilegiou ações em Maragogi, onde planeja disputar

Read More...

One commentOn Cana contamina pesqueiros e rios do interior de SP com agrotóxicos

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu